"Os Educadores-sonhadores jamais desistem de suas sementes,mesmo que não germinem no tempo certo...Mesmo que pareçam frágeisl frente às intempéries...Mesmo que não sejam viçosas e que não exalem o perfume que se espera delas.O espírito de um meste nunca se deixa abater pelas dificuldades. Ao contrário, esses educadores entendem experiências difíceis com desafios a serem vencidos. Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com acolheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes"(Gabriel Chalita)

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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O que da vida não se descreve...



Há coisas que somente devemos experimentar

Eu me recordo daquele dia. O professor de redação me desafiou a descrever o sabor da laranja. Era dia de prova e o desafio valeria como avaliação final. Eu fiquei paralisado por um bom tempo, sem que nada fosse registrado no papel. Tudo o que eu sabia sobre o gosto da laranja não podia ser traduzido para o universo das palavras. Era um sabor sem saber, como se o aprimorado do gosto não pertencesse ao tortuoso discurso da epistemologia e suas definições tão exatas.


Diante da página em branco eu visitava minhas lembranças felizes, quando na mais tenra infância eu via meu pai chegar em sua bicicleta Monark, trazendo na garupa um imenso saco de laranjas. A cena era tão concreta dentro de mim, que eu podia sentir a felicidade em seu odor cítrico e nuanças alaranjadas. A vida feliz, parte miúda de um tempo imenso; alegrias alojadas em gomos caudalosos, abraçados como se fossem grandes amigos, filhos gerados em movimento único de nascer. Tudo era meu; tudo já era sabido, porque já sentido. Mas como transpor esta distância entre o que sei, porque senti, para o que ainda não sei dizer do que já senti? Como falar do sabor da laranja, mas sem com ele ser injusto, tornando-o menor, esmagando-o, reduzindo-o ao bagaço de minha parca literatura?


Não hesitei. Na imensa folha em branco registrei uma única frase. "Sobre o sabor eu não sei dizer. Eu só sei sentir!"


Eu nunca mais pude esquecer aquele dia. A experiência foi reveladora. Eu gosto de laranja, mas até hoje ainda me sinto inapto para descrever o seu gosto. O que dele experimento pertence à ordem das coisas inatingíveis. Metafísica dos sabores? Pode ser...


O interessante é que a laranja se desdobra em inúmeras realidades. Vez em quando, eu me pego diante da vida sofrendo a mesma angústia daquele dia. O que posso falar sobre o que sinto? Qual é a palavra que pode alcançar, de maneira eficaz, a natureza metafísica dos meus afetos? O que posso responder ao terapeuta, no momento em que me pede para descrever o que estou sentindo? Há palavras que possam alcançar as raízes de nossas angústias?


Não sei. Prefiro permanecer no silêncio da contemplação. É sacral o que sinto, assim como também está revestido de sacralidade o sabor que experimento. Sabores e saberes são rimas preciosas, mas não são realidades que sobrevivem à superfície.


Querer a profundidade das coisas é um jeito sábio de resolver os conflitos. Muitos sofrimentos nascem e são alimentados a partir de perguntas idiotas.


Quero aprender a perguntar menos. Eu espero ansioso por este dia. Quero descobrir a graça de sorrir diante de tudo o que ainda não sei. Quero que a matriz de minhas alegrias seja o que da vida não se descreve...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Um dia a maioria de nós irá se separar.







Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos...

Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim...

do companheirismo vivido...

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre...

Hoje não tenho mais tanta certeza disso.

Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe...

nos e-mails trocados...

Podemos nos telefonar...

conversar algumas bobagens.

Aí os dias vão passar... meses... anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro.

Vamos nos perder no tempo...

Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão:

Quem são aquelas pessoas?

Diremos que eram nossos amigos.

E... isso vai doer tanto!!!

Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!

domingo, 21 de dezembro de 2008

Sentir-se Amado

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro
e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão.
Sente-se amado aquele que se sente aceito,
que se sente bem-vindo,
que se sente inteiro.
Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada,
aquele que sabe que não existe assunto proibido,
que tudo pode ser dito e compreendido.
Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é,
sem inventar um personagem para a relação,
pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.
Sente-se amado quem não ofega,mas suspira;
quem não levanta a voz, mas fala;
quem não concorda, mas escuta.
Não basta ouvir "Eu Te Amo",é preciso sentir ser verdadeiro.

A Volta por Cima

Extrapolei os sonhos!
Vivenciei as mágoas.
Convivi com fracos, suportei os falsos.
Me mantive em pé,mesmo com pedrasme atingindo em cheio.
Varri da alma a revolta ignóbil,
o desprezo inútil,
a tristeza vã,
a descrença falsa.
Reabri meu coração à vida.
Deixei reflorescer ternura.
Olhei em volta e para o céu sem fim...
Me conformei com o mundo,
me conformei com a vida.
A vida e o mundo que mereci pra mim.
Obrigada, Senhor,
pela volta que a vida me fez dar.
Aprendi a amar-te,
sem mandamentos,
pela simples razão de te amar.

A FELICIDADE PODE DEMORAR


Às vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado. Às vezes nos falta esperança. Às vezes o amor nos machuca profundamente,e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa. Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar...é nossa razão de existir. Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino. Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa. Às vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver, até que algo toque nosso coração, algo simples como a beleza de um pôr do sol, a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto. É a força da natureza nos chamando para a vida. Você descobre que as pessoas que pareciam ser sinceras e receberam sua confiança, te traíram sem qualquer piedade. Você entende que o que para você era amizade, para outros era apenas conveniência, oportunismo. Você descobre que algumas pessoas nunca disseram eu te amo, e por isso nunca fizeram amor, apenas transaram... Descobre também que outras disseram eu te amo uma única vez. E agora temem dizer novamente, e com razão, mas se o seu sentimento for sincero poderá ajudá-las a reconstruir um coração quebrado. Assim ao conhecer alguém, preste atenção no caminho que essa pessoa percorreu, são fatoresimportantes: a relação com a família, as condições econômicas nas quais se desenvolveu. (dificuldades extremas ou facilidades excessivas formam um caráter), os relacionamentos anteriorese as razões do rompimento, seus sonhos, ideais e objetivos. Não deixe de acreditar no amor. Mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguémque dê valor aos mesmos sentimentos que você dá. Manifeste suas idéias e planos, para saber se vocês combinam. E certifique-se de quequando estão juntos, aquele abraço vale mais que qualquer palavra.Esteja aberto a algumas alterações, mas jamais abra mão de tudo, pois se essa pessoate deixar, então nada irá lhe restar. Tenha sempre em mente que às vezes tentar salvar um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco. Pois em algum outro momento essa pessoa irá te deixar e seu sofrimento será aindamais intenso, do que teria sido no passado. Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário. Existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo. A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna. A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem...





Luiz Fernando Veríssimo

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Do carrinho ao mouse



Com certeza, os criadores do primeiro computador chamado Eniac, desenvolvido durante a segunda guerra mundial para “calcular” a distância das bombas que seriam lançadas e que possuía um tamanho assustador de 22 metros de comprimento e 5,5 de altura, não tinham a idéia de que no século XXI sua invenção estaria tão desenvolvida e seria tão necessária para as atividades diárias a ponto de ser considerado analfabeto aqueles que não possuem conhecimentos em informática.
A busca desenfreada pelo conhecimento fez da Informática uma aliada na busca de um emprego. Essa corrida em busca do conhecimento, aqui específico da informática, é para atender uma economia que está sendo disseminada nas escolas, nos meios de comunicação de massa, nas empresas, etc. Os pais preocupados com futuro de seus filhos estão cada vez mais cedo investindo, digamos assim, em seus filhos, para que num futuro próximo possam ter garantia de um emprego. Hoje, a quase totalidade dos pais de alunos do Ensino Infantil pensa, discute e até se preocupa com a época do vestibular ou com a profissão de seu filho, que ainda chora ao chegar na escola e ao encontrar sua “tia”, assim chamada para dar à criança a impressão de que a professora é alguém próximo. Por sua vez, a escola investe em equipamentos e mostra orgulhosa seu laboratório de Informática, satisfeita ao dizer que os alunos de Ensino Infantil já têm aulas de computação. É vantajoso para essas “empresas” oferecerem esses serviços e, do outro lado, os pais tranqüilizam-se em saber que seus filhos não serão analfabetos em informática, assim considerados aqueles que não aderiram à “era da mídia”, já que é considerada por muitos a chave que abre as portas para o futuro.
Com certeza, as crianças são expostas ao mundo informatizado, abandonando o mundo dos brinquedos convencionais para manipular brinquedos eletrônicos. As crianças na faixa etária do ensino infantil precisam ser respeitadas em suas necessidades de brincar e de sonhar. Nessa idade, a criança vive um período entre o real e a fantasia. É na no mundo de faz-de-conta que ela pode dominar o adulto ou simplesmente brincar e conversar com aquele “amiguinho invisível”.
É necessário um profissional preparado para não fazer das aulas de Informática só um preparo para o mercado de trabalho e sim para se utilizar da ferramenta ‘tão necessária’ - o computador - para estimular a curiosidade, a coordenação motora e o raciocínio da criança que são aflorados nessa idade. O que acontece é a falta de professores que conheçam informática e que sejam capacitados para o processo de ensino-aprendizagem pelo qual as crianças passam. Do outro lado, os educadores vêem-se freqüentemente sob pressão dos pais que querem ver os filhos cada vez mais cedo sabendo informática. Claro, o computador é uma ferramenta fascinante e diferenciada pelo alto poder de interação que ele proporciona. Mas, na verdade, a Informática faz tanta diferença na educação dos pequenos? Será que o brinquedo não desenvolve e prepara a criança na medida exata para que ela seja um indivíduo, um cidadão e um profissional de que a sociedade e o mercado de trabalho tanto necessitam?




Prof.William Sanches

O professor Caquético


Já não bastassem todas as exigências que fazem sobre os professores, agora, exigem que ele seja AFETIVO. No dicionário afetivo significa: sensível, sentimental, afetuoso, ou seja, dar afeto, e por sua vez, dar afeto significa: carinhoso, amizade, amor, simpatia, afeição, paixão... Pronto! Não existe nenhum problema nisso, mas algumas pessoas estão usando o afeto como método de aprendizagem, quando na verdade aprender vai muito além da relação aluno-professor e se não tomarmos cuidado, podemos estar diante de uma viagem sem volta. Defendo sim a boa relação entre ambas as partes, mas não que isso seja característica obrigatório do professor, até porque ninguém se forma em “relações humanas”.
A responsabilidade da aprendizagem também é do aluno e não apenas da escola ou do professor. É realmente uma via de mão dupla. Quando o aluno não quer aprender, porque ele tem uma série de outras coisas mais chamativas e atraentes para fazer, como, por exemplo, conversar com o colega, namorar, brincar etc. O profissional de educação tem pela frente sua tarefa muito mais difícil de ser cumprida. O aluno precisa perceber, antes de tudo, onde e para quê aquilo que está sendo proposto servirá. Já ouvi aluno falando: “para que estudar geografia se não vou nem viajar?”. As vezes a realidade dele o torna um ser fechado a novos horizontes e oportunidades. Quando na verdade ele deveria sonhar e acreditar que sua realidade pode mudar, desde que ele se esforce, começando pelo estudo. A classe social não forma pessoas dessa forma ou de outra. É o próprio indivíduo que faz sua história. Usar a classe social como desculpa para essa ou outra defasagem na formação é inadmissível. Às vezes o professor afetivo ouve, concorda com o aluno que expressa sua situação complicada, compreende, entende as dificuldades e “compensa” esse aluno, ao invés de mostrar a ele como superar suas dificuldades e suas diferenças de saberes que, às vezes, é o que impede seu progresso financeiro e social. Esse é o papel do professor afetivo. Os melhores profissionais são aqueles que não reprovam, que não exigem, que não cobram, mas ninguém se preocupa se os alunos estão realmente aprendendo algo com esse método. Certa vez ouvi de uma aluna, ao cobrar um exercício que ela não havia feito: “O senhor é muito caquético”. Pensei por um instante sobre o significado daquele caquético e porque ela estava usando. Será que ela se referiu a cobrança e a minha postura ao cobrar o exercício? Ser professor caquético é querer resultados? Por outro lado se o exercício não fosse cobrado eu seria o professor ideal (na cabeça da aluna, claro!). Se a aluna estivesse num escritório e não produzisse, não entregasse os relatórios e as atividades exigidas, estaria demitida. Onde mais, além da escola que prepara para a vida, para sociedade e pra todas as outras coisas que tanto prometem, ela aprenderia a ter responsabilidade, ser pontual etc? Não estamos formando cidadãos? Portanto, devemos ter em mente nossa ideologia ao praticar a docência. Devemos ter cuidado com alguns sistemas que quer apenas um facilitador, no lugar do professor, mesmo que correndo o risco de sermos caquéticos.
Prof.William Sanches

57 anos de Infância


Nesse mês das crianças, a Caixa Cultural proporciona aos visitantes a Exposição Infância e Fantasias, que vale a pena ser conferida, pois é um resgate da história de programas Infantis que marcaram época.
Desde o dia 18 de setembro de 1950, a Televisão passava a fazer parte da vida dos brasileiros, mas as poucas pessoas que tinham acesso ao magnífico aparelho não poderiam imaginar que estavam diante do maior meio de comunicação de massas. Os programas são os mais variados possíveis e, desde sua estréia no Brasil, alguns programas foram dedicados ao público infantil. Em seu cinqüentenário, a TV desempenha um papel cada vez mais fundamental na formação (ou seria deformação?) das crianças. São aproximadamente 57 anos de infância.
Quando uma criança chega à escola para ser alfabetizada, por exemplo, ela já assistiu a cerca de 1.800 horas de TV, isso significa que ela chega para ser educada já com uma bagagem, mesmo que pequena, formada. Cabe ao educador saber trabalhar a realidade e transformá-la como ferramenta no aprendizado, mas essa tarefa está cada vez mais difícil, por não sabermos qual tipo de informação está chegando até essas crianças que, às vezes, têm apenas a TV como companheira diária. Alguns programas têm um ótimo desempenho nessa formação, são formatos que até hoje fazem sucesso, pois já que encantaram uma geração, por que não encantariam outra? Como por exemplo o Rá-Tim-Bum, precursor do premiado Castelo Rá-Tim-Bum. Esses programas são ideais porque além de entreter, ocupam o tempo transmitindo valores e conhecimentos importantes, onde geravam o interesse pelas histórias, desenvolvendo vocabulário, memória e introspecção, sem contar na curiosidade das crianças para assuntos produtivos. Generalizando e, talvez, até cometendo um pecado ao fazer isso, a impressão que se tem hoje é a de que existe um vácuo grande nessa década em que vivemos. Onde está a magia vivida nos programas dos anos 80? As crianças grudavam na tela para ver programas simples, sem muita tecnologia ou efeitos especiais, era uma época mágica, que também tinha seus problemas, claro, mas que deixou saudades. Quem não se lembra de algumas crianças que choravam ao ver a nave espacial da Xuxa deixar o palco? A sensação era que ela estava indo embora. Só quem viveu a época entende o que está sendo discutido. Alguns críticos afirmam que ela nunca foi um bom exemplo para as crianças, mas nunca chegaram a provar por quê. O programa atual da “Rainha dos Baixinhos” é composto de 80% de efeitos especiais e imagens computadorizadas e mesmo assim, sem afeito, sem magia, sem contagiar o telespectador mirim. Alguns programas não eram dedicados exclusivamente às crianças, mas, pela sua ingenuidade, tornaram-se sucessos entre elas, como é o caso de Os Trapalhões. Até hoje, dois dos integrantes matêm-se nessa mesma linha: Dedé com o Comando Maluco e Renato Aragão com a Turma do Didi. Artistas consagrados da música brasileira, como Chico Buarque e Elis Regina, gravaram canções infantis para especiais da Globo, eles garantiam a boa qualidade em meio aos “ilariês”. Esses nomes consagrados colocavam seu lado brincalhão em prática. Toquinho compôs letras famosas e conhecidas por todos: “...numa folha qualquer eu desenho um Sol amarelo..” O sítio do Pica-pau-amarelo proporcionava uma realidade interiorana a todas as crianças do país. A importante imagem da Vovó, da família e o respeito às crianças era destaque na programação. O sucesso desses programas era enorme e prova disso são as festas temáticas que, atualmente, reúnem milhares de pessoas pelo simples fato de relembrar e rever seus artistas favoritos, deixando fluir automaticamente a nostalgia: Simony, Fofão e o Palhaço Bozo são alguns desses artistas relembrados, pois marcaram toda uma época. Na verdade, ninguém perde a criança que vive dentro de si: é só observar os sorrisos mais despreocupados e inesperados de um adulto.
Prof. William Sanches

Hoje você é uma uva, mas uva passa.


Essa frase simples, mas com um valor semântico absurdo, foi utilizada em “outdoors” na propaganda de um produto de beleza francês muito famoso e que nos remete a compararmos as pessoas com uma uva: linda, nova, “esticadinha” e que todos querem, mas sempre com o alerta “uva passa”, persuadindo, assim, os compradores a fazerem uso do produto para que não fiquem como uma uva-passa, que dispensa apresentações. Por muitas eras, o modelo de beleza consistia em estruturas ósseas muito fortes em corpos muito pesados e repletos de contornos: eram épocas em que reinavam como belas as “pessoas” grandes e gordas. Todas aquelas mulheres que, como dizem até hoje os muçulmanos com um sorriso de satisfação, “enchem uma cama”. No século XX, porém, o rompimento total com esse modelo aconteceu por causa do materialismo voraz que tomou conta de tudo e de todos. Desde o início da industrialização e do sistema capitalista, tudo se tornou uma mercadoria. Com o passar do tempo, além daquela mercadoria que o trabalhador vendia - a sua força de trabalho, a mão-de-obra humana – muitas pessoas que se enquadravam no então modelo ideal de beleza passaram a vender a sua imagem e, através e graças a essa imagem (linguagem), passaram também a vender de tudo que fizesse com que as outras pessoas acreditassem que seu “consumo” as tornariam também belas, as colocariam dentro desse padrão. Até hoje é assim: esperando ficar igual à garota propaganda, por exemplo, as consumidoras compram o que podem e o que não podem; o mesmo acontece com os homens, pois há muito a vaidade deixou de ser uma característica predominantemente feminina. O Brasil tornou-se um dos principais países em quantidade de cirurgias plásticas. Enquanto a França exporta perfumes, o Brail exporta “corpos”. Recentemente, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos comprovou que apenas 2% das pessoas se acham bonitas. Um dado assustador, pois se 98% das pessoas se acham feias de alguma forma, o objeto de desejo estabelecido não está sendo alcançado. O que as pessoas precisam perceber é que cada uma possui sua beleza particular e principalmente que a beleza mais importante está sendo esquecida: a beleza interior. Se a pessoa estiver feliz, de bem consigo mesma, as outras também a acharão bonita exteriormente, pois a beleza interior é fundamental e se reflete no físico de quem a tem. Por mais que faça uma cirugia reparadora ou dezenas de sessões estéticas em busca da beleza, se a pessoa não mudar seu estado de espírito, ela continuará se achando feia ou fora do padrão e todos a sua volta certamente terão a mesma opinião. Já as pessoas que são extremamente bonitas interiormente são admiradas por muitas outras. De que adianta uma pessoa ser fisicamente linda, se a sua maneira de ser, de agir, de tratar os outros, de se expressar não são de agrado daqueles que com ela convivem ? De nada adianta, pois essa pessoa estará constantemente sozinha mesmo sendo uma uva. O contrário disso também vale: uma boa conversa, uma manifestação de sabedoria, um sorriso, uma palavra agradável e confortante muitas vezes fazem com que o feio pareça bonito e esteja sempre rodeado de outras pessoas. O materialismo radical da atualidade, que exige a aparência ideal nas atividades profissionais e pessoais, leva as pessoas a conjugar apenas um verbo: ter. No intuito de querer ter, o ser humano da atualidade está se esquecendo do mais importante: SER. Ser bonita é algo bom e necessário, mas não é o essencial. Ser inteligente, ser sociável, ser ética, ser generosa, ser livre, ser feliz! Essas são as características da verdadeira beleza humana. Afinal, de que adianta ser uma uva linda e cheirosa por fora, mas amarga e estragada por dentro? É preferível ser uma uva –passa docinha.
Prof.William Sanches

"A vida nos cobra decisões"

"A vida nos cobra tomar decisões constantemente.
Cada escolha determina um fato novo no futuro.
Cada fato, uma vivência inadiável.
Cada experiência, uma mudança imposta.
Escolher é fácil quando nossos sentimentose ilusões não estão envolvidos.
Somos livres para escolher nossas ações, masprisioneiros de suas conseqüências.
Todo momento é decisivo.
Por isso é preciso descobrirSe vc terá coragem de ficar do lado da sua alma,
Ou se prefere mentir para vc mesmo.
Mas, seja qual for a sua escolha,
Lembre-se que nada fica sem resposta.
A escolha é sua.
Pondere bastante ao se decidir, pois é vc q vai carregar
- sozinho e pra sempre -
o peso das escolhas que fizer."

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

SALMO 18

(Salmos 18:1) - EU te amarei, ó SENHOR, fortaleza minha.
(Salmos 18:2) - O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio.
(Salmos 18:3) - Invocarei o nome do SENHOR, que é digno de louvor, e ficarei livre dos meus inimigos.
(Salmos 18:4) - Tristezas de morte me cercaram, e torrentes de impiedade me assombraram.
(Salmos 18:5) - Tristezas do inferno me cingiram, laços de morte me surpreenderam.
(Salmos 18:6) - Na angústia invoquei ao SENHOR, e clamei ao meu Deus; desde o seu templo ouviu a minha voz, aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face.
(Salmos 18:7) - Então a terra se abalou e tremeu; e os fundamentos dos montes também se moveram e se abalaram, porquanto se indignou.
(Salmos 18:8) - Das suas narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo que consumia; carvões se acenderam dele.
(Salmos 18:9) - Abaixou os céus, e desceu, e a escuridão estava debaixo de seus pés.
(Salmos 18:10) - E montou num querubim, e voou; sim, voou sobre as asas do vento.
(Salmos 18:11) - Fez das trevas o seu lugar oculto; o pavilhão que o cercava era a escuridão das águas e as nuvens dos céus.
(Salmos 18:12) - Ao resplendor da sua presença as nuvens se espalharam, e a saraiva e as brasas de fogo.
(Salmos 18:13) - E o SENHOR trovejou nos céus, o Altíssimo levantou a sua voz; e houve saraiva e brasas de fogo.
(Salmos 18:14) - Mandou as suas setas, e as espalhou; multiplicou raios, e os desbaratou.
(Salmos 18:15) - Então foram vistas as profundezas das águas, e foram descobertos os fundamentos do mundo, pela tua repreensão, SENHOR, ao sopro das tuas narinas.
(Salmos 18:16) - Enviou desde o alto, e me tomou; tirou-me das muitas águas.
(Salmos 18:17) - Livrou-me do meu inimigo forte e dos que me odiavam, pois eram mais poderosos do que eu.
(Salmos 18:18) - Surpreenderam-me no dia da minha calamidade; mas o SENHOR foi o meu amparo.
(Salmos 18:19) - Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me, porque tinha prazer em mim.
(Salmos 18:20) - Recompensou-me o SENHOR conforme a minha justiça, retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos.
(Salmos 18:21) - Porque guardei os caminhos do SENHOR, e não me apartei impiamente do meu Deus.
(Salmos 18:22) - Porque todos os seus juízos estavam diante de mim, e não rejeitei os seus estatutos.
(Salmos 18:23) - Também fui sincero perante ele, e me guardei da minha iniqüidade.
(Salmos 18:24) - Assim que retribuiu-me o SENHOR conforme a minha justiça, conforme a pureza de minhas mãos perante os seus olhos.
(Salmos 18:25) - Com o benigno te mostrarás benigno; e com o homem sincero te mostrarás sincero;
(Salmos 18:26) - Com o puro te mostrarás puro; e com o perverso te mostrarás indomável.
(Salmos 18:27) - Porque tu livrarás o povo aflito, e abaterás os olhos altivos.
(Salmos 18:28) - Porque tu acenderás a minha candeia; o SENHOR meu Deus iluminará as minhas trevas.
(Salmos 18:29) - Porque contigo entrei pelo meio duma tropa, com o meu Deus saltei uma muralha.
(Salmos 18:30) - O caminho de Deus é perfeito; a palavra do SENHOR é provada; é um escudo para todos os que nele confiam.
(Salmos 18:31) - Porque quem é Deus senão o SENHOR? E quem é rochedo senão o nosso Deus?
(Salmos 18:32) - Deus é o que me cinge de força e aperfeiçoa o meu caminho.
(Salmos 18:33) - Faz os meus pés como os das cervas, e põe-me nas minhas alturas.
(Salmos 18:34) - Ensina as minhas mãos para a guerra, de sorte que os meus braços quebraram um arco de cobre.
(Salmos 18:35) - Também me deste o escudo da tua salvação; a tua mão direita me susteve, e a tua mansidão me engrandeceu.
(Salmos 18:36) - Alargaste os meus passos debaixo de mim, de maneira que os meus artelhos não vacilaram.
(Salmos 18:37) - Persegui os meus inimigos, e os alcancei; não voltei senão depois de os ter consumido.
(Salmos 18:38) - Atravessei-os de sorte que não se puderam levantar; caíram debaixo dos meus pés.
(Salmos 18:39) - Pois me cingiste de força para a peleja; fizeste abater debaixo de mim aqueles que contra mim se levantaram.
(Salmos 18:40) - Deste-me também o pescoço dos meus inimigos para que eu pudesse destruir os que me odeiam.
(Salmos 18:41) - Clamaram, mas não houve quem os livrasse; até ao SENHOR, mas ele não lhes respondeu.
(Salmos 18:42) - Então os esmiucei como o pó diante do vento; deitei-os fora como a lama das ruas.
(Salmos 18:43) - Livraste-me das contendas do povo, e me fizeste cabeça dos gentios; um povo que não conheci me servirá.
(Salmos 18:44) - Em ouvindo a minha voz, me obedecerão; os estranhos se submeterão a mim.
(Salmos 18:45) - Os estranhos descairão, e terão medo nos seus esconderijos.
(Salmos 18:46) - O SENHOR vive; e bendito seja o meu rochedo, e exaltado seja o Deus da minha salvação.
(Salmos 18:47) - É Deus que me vinga inteiramente, e sujeita os povos debaixo de mim;
(Salmos 18:48) - O que me livra de meus inimigos; sim, tu me exaltas sobre os que se levantam contra mim, tu me livras do homem violento.
(Salmos 18:49) - Assim que, ó SENHOR, te louvarei entre os gentios, e cantarei louvores ao teu nome,
(Salmos 18:50) - Pois engrandece a salvação do seu rei, e usa de benignidade com o seu ungido, com Davi, e com a sua semente para sempre.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

"A vida nos cobra tomar decisões constantemente.


"A vida nos cobra tomar decisões constantemente.

Cada escolha determina um fato novo no futuro.

Cada fato, uma vivência inadiável.

Cada experiência, uma mudança imposta.

Escolher é fácil quando nossos sentimentose ilusões ñ estão envolvidos.

Somos livres para escolher nossas ações, masprisioneiros de suas conseqüências.

Todo momento é decisivo.

Por isso é preciso descobrirse teremos a coragem de ficar do lado d nossa alma,ou se preferimos mentir para nos mesmos.

Mas, seja qual for a nossa escolha, lembremos que nada fica sem resposta.

A escolha é sua.Pondere bastante ao se decidir, pois é vc q vai carregar

- sozinho e sempre -

o peso das escolhas q fizer."

sábado, 13 de dezembro de 2008

SP tem 14 escolas top no ranking do Enem


Apenas 14 escolas da capital paulista de um total de 1.197 --entre particulares e públicas-- tiveram um desempenho considerado de bom a excelente, segundo levantamento inédito divulgado ontem com base nos resultados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2005.As escolas top do ranking tiveram médias acima de 70 pontos na redação e na prova objetiva.Critérios do Enem indicam que, com até 40 pontos de acerto, o desempenho é considerado de insuficiente a regular.

Acima de 40 e até 70, o resultado é de regular a bom. Acima de 70 pontos, o desempenho é de bom a excelente.Entre as 14 unidades de ensino médio de São Paulo com médias de bom a excelente, uma é federal (Centro Federal de Educação Tecnológica), uma é estadual (Escola Técnica Estadual de São Paulo), e 12 são particulares.A maior média de 2005 é do colégio Vértice, com 78,6 pontos obtidos na prova objetiva e na redação. Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), só 62 estudantes do colégio fizeram o Enem 2005.

O colégio Bandeirantes, que fica em segundo lugar, com 76,17 pontos, teve 530 alunos inscritos no exame. O terceiro lugar ficou com o Móbile, com 75,34 pontos e 65 alunos. As três escolas com maiores médias são particulares.


Mensalidade


A melhor escola privada de São Paulo, Vértice, aposta no acompanhamento personalizado. A atenção --em período semi-integral ou integral-- tem custo alto: cerca de R$ 1.700/mês no ensino fundamental, incluído o material.O colégio no Campo Belo é um labirinto de casas térreas e sobrados.

São aproximadamente 700 alunos da educação infantil ao ensino fundamental. As classes, com cerca de 30 estudantes, são largas, com apenas três fileiras de profundidade --ou seja, não há lugar para a "turma do fundão".

"A gente se denomina um pequeno grande colégio", diz um dos diretores, Victor Koloszuk, ao citar o pacto para que a escola não cresça além disso. Para os abonados que estão do lado de fora do muro, lista de espera.

Neste ano, a Vértice completa 30 anos, com ensino médio desde 1988.Os números explicam a grandiosidade. No ano passado, 70% dos estudantes que prestaram vestibular para a USP passaram para a segunda fase, sem cursinho. Desses, 50% foram aprovados.

"Temos um resultado bem acima da média, sem que essa seja nossa finalidade", diz o professor.Segundo ele, o mais importante é "preparar para a vida".

Além de uma orientação educacional que acompanha as dificuldades e os interesses de cada um, os alunos participam de aulas optativas que oferecem de cursos de artes e filosofia a debates sobre a crise no Oriente Médio.Para o professor, o Vértice tem um lado mais humano e menos conteudista do que os tradicionais colégios paulistanos.FederaisAs escolas técnicas são as exceções no ranking das tops do Enem. Uma é federal (Centro Federal de Educação Tecnológica) e a outra, estadual (Escola Técnica Estadual de São Paulo).Para o diretor-geral do Cefet-SP, Garabed Kenchian, o bom desempenho dos alunos das escolas técnicas e tecnológicas ocorre porque esses estudantes aproveitam a estrutura montada para os cursos de nível superior (como sistemas de informação e eletrônica de sistemas digitais) oferecidos por esses centros.No Cefet-SP, por exemplo, 30% dos professores têm mestrado ou doutorado.

Esses docentes dão aulas tanto no ensino médio quanto nos cursos superiores. Além disso, os alunos podem utilizar os laboratórios montados para os outros níveis de ensino.Outro ponto que ajuda as escolas técnicas, segundo Kenchian, é que a procura pelas vagas é alta, o que gera a necessidade de fazer vestibulinhos.

Assim, os centros conseguem fazer uma seleção e pegar os melhores alunos.




Folha de S.Paulo

O suor e a lágrima

Carlos Heitor Cony

Fazia calor no Rio, 40 graus e qualquer coisa, quase 41.
No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. Cheguei ao Santos Dumont, o vôo estava atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio, são raros esses engraxates, só existem nos aeroportos e em poucos lugares avulsos.Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de um rei desolado de um reino desolante. O engraxate era gordo e estava com calor - o que me pareceu óbvio.
Elogiou meus sapatos, cromo italiano, fabricante ilustre, os Rosseti. Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício.
Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a calva. Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo instante o usava para enxugar-se - caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um brilho de espelho à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso.
Ele me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar nos restos dos meus dias.Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim, por míseros tostões, fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho humano, salgado como lágrima.

MOACYR SCLIAR- O futuro na geladeira


Um dia ela ainda ingressaria no curso de administração, um dia brindaria a seu futuro; era só questão de esperar

Amélia, 80, interrompe sonho de ter vaga na USP para comprar geladeira. Amélia Pires fará 80 anos em 6 de dezembro um pouco mais distante de seu sonho. Desde 2004, presta a Fuvest. Quer um diploma do curso de administração da USP. Neste ano, porém, não esteve entre os 138.242 aspirantes a vaga na universidade. A geladeira estava imprestável, e o dinheiro da inscrição -ajuda de um sobrinho- foi usado para pagar a prestação de uma nova. Cotidiano, 24 de novembro de 2008


NÃO FOI UMA decisão fácil, como se pode imaginar. Curso de administração ou geladeira? A favor de ambas as coisas, o curso e a geladeira, havia argumentos. O curso era algo com que sonhava havia muito tempo, desde jovem, para dizer a verdade. Primeiro, porque era uma fervorosa admiradora da atividade em si, da administração. Organizar as coisas, fazer com que funcionem, levar uma empresa ao sucesso, mesmo em épocas de crise, sobretudo em épocas de crise, parecia-lhe um objetivo verdadeiramente arrebatador. Com o curso, ela poderia tornar-se, mesmo com idade avançada, numa daquelas dinâmicas executivas cuja foto via em jornais e em revistas. Mas a geladeira... A verdade é que ela precisava de uma geladeira nova. A antiga estava estragada, e tão estragada que o homem do conserto aconselhara-a a esquecer "aquele traste" e partir para algo mais moderno. E isso precisava ser feito com urgência: todos os dias estava jogando fora comida que estragara por causa do inconfiável eletrodoméstico.

Era o curso ou a geladeira. Era apostar no futuro ou resolver os problemas do presente. Ou se inscrevia na universidade ou pagava a prestação na loja: tinha de escolher. Dilema penoso. Durante duas noites não dormiu, fazendo a si própria cálculos e ponderações. "Faça o curso", sussurava-lhe ao ouvido uma vozinha, "você será outra pessoa, uma pessoa com conhecimento, com dignidade, uma pessoa que todos respeitarão". E aí outra vozinha intervinha: "Deixe de bobagens, querida. Geladeira é comida, e comida é o que importa. Como é que você vai se alimentar, se a comida continuar estragando desse jeito? Seja prática". Duas vozinhas. Anjinho e diabinho? Nesse caso, qual era a voz do anjinho, qual a do diabinho? Mistério.

Na manhã do terceiro dia sentiu um mau cheiro insuportável, vindo da cozinha. Foi até lá, abriu a geladeira e, claro, era a carne que simplesmente tinha apodrecido. Foi a gota d'água. Vestiu-se, foi até a loja, e comprou a geladeira nova. Que lhe foi entregue naquele mesmo dia. Era uma bela geladeira, com muitos dispositivos que ela mal conhecia. "Vou ter de fazer um curso para aprender a operar essa coisa", disse ao homem da entrega. Ele concordou: "Sempre é bom fazer cursos". Instalada a geladeira, ela tratou de colocar ali os alimentos e as bebidas.

Foi então que encontrou a garrafa de champanhe. O champanhe que tinha comprado para celebrar com os vizinhos a sua entrada na universidade. Suspirou. O que fazer com aquilo, agora? Dar de presente para o sobrinho que a ajudara com o dinheiro da inscrição? Resolveu guardar a garrafa. Bem no fundo da geladeira. Um dia ela ainda ingressaria no curso de administração, um dia brindaria a seu futuro. Era só questão de esperar. Sem medo: uma boa geladeira conserva qualquer champanhe.

Fonte: Folha de São Paulo - 01/12/2008

Escritos do passado...Anísio Teixeira, 1957


Rio, maio 57

Meu caro Rubem Braga: a sua palavra é hoje tão lida, que fiquei com pena de ver, em meio à sua crônica tão humana sobre as Crianças, lançar você uma porção de dúvidas sobre duas idéias que me são caras para a feliz orientação do problema escolar brasileiro: a escola local, regional e não "consular", "metropolitana", em rigor "colonizadora" e a escola completa, rica, variada, com tempo suficiente para se constituir vida e formação da criança...Se lhe sobrasse tempo para ler coisas ainda mais fastidiosas do que "Educação não é privilégio", teria podido ver que essa escola de tempo integral não é a escola do campo mas a da cidade... e, sobretudo, a da cidade moderna, onde a criança já não poderá ter nenhuma experiência integrada e harmoniosa senão na escola, todos os seus outros espaços vitais - o do apartamento, o da rua, o do clube, o do cinema - sendo parciais, fragmentários e contraditórios... No campo, seria o contrário: a escola poderia ser de tempo parcial, como pensa você, pois a grande e boa educação da criança já se faz pela sua vida simples, mas, integrada, responsável, construtiva e, sobretudo, incrivelmente digna, pelo trabalho e pelas relações humanas diretas, sérias e completas... Ah! meu caro Rubem, se soubesse quanto penso como você em relação à nossa criança rural! Vou tão longe que as dúvidas que me assaltam são maiores que as suas. Duvido que lhes convenha a própria escola de letras. E não nos sendo possível dar-lhes a escola de trabalho e de enriquecimento de sua própria cultura, pois essa escola exigiria professores de grande preparo e muito dinheiro, chego a achar que melhor seria não lhes dar escola nenhuma. Como isto não é possível, defendo para o campo uma escola modesta, de quatro anos de estudo, e que, ainda assim, mais preparará os alunos para poderem deixar o campo do que para ficar...A escola que possuímos é uma escola para o tipo de civilização urbana, só aplicável ao campo na medida em que ele se urbaniza, reurbaniza, dizem hoje, os sociólogos. Como isto, de fato, acabará por se dar, em todo país, a escola deverá organizar-se tão bem quanto possível nas cidades e ir se estendendo pelo campo na sua missão de lhes transformar também gradualmente a vida...Já que a escola é, assim, um instrumento de transformação, ou, pelo menos, de consolidação da transformação da civilização rural em civilização urbana, afim de que sua influência não seja exageradamente alienadora , defendo a idéia de fazê-la local e regional. De modo que o meu localismo escolar vai ao encontro de sua dúvida sobre a escola conveniente ao próprio campo. Municipal e local ela se integrará melhor nos defeitos e qualidades do meio, moderando, desse modo, a sua ação naturalmente desenraizadora. A cultura escolar primeiro desenraíza para depois - hélas! só muito depois - plantar de novo e enraizar-nos na humanidade, dessa forma ampla, completa e universal, de que você é um alto e grande exemplo. Daí o nosso cuidado de educadores em acentuar os traços locais e regionais da escola, afim de lhe corrigir a tendência, por assim dizer, congênita de segregar, separar, alienar...Sabe você, meu caro Rubem, quanto é difícil pensar claro em nosso país. Como o nosso progresso se fez por acaso, julgamos poder continuar a progredir por acaso. A realidade, porém, não é que progredimos por acaso mas que progredimos, até ontem, lentamente e o progresso lento toma conta se si mesmo e acaba por se harmonizar. Mas, o progresso rápido de hoje não tem tempo para esse reajustamento. Todo progresso é um tumulto e uma deslocação e se se faz muito acelerado destrói mais do que constrói e daí ser necessário um reforço substancial na quantidade de educação do indivíduo par suportá-lo e corrigi-lo.A escola primária da Suíça - um modesto e grande exemplo de civilização estável em meio ao tumulto do mundo moderno - impõe à criança onze mil horas de atividades intencionalmente educativas, a americana, sete mil horas, a melhor escola primária brasileira, aos que a freqüentam integralmente, dá-lhes duas mil e quatrocentas horas!... Por mais gênios que sejamos nós brasileiros, por força que há de sobrar alguma diferença entre nós e os suíços. Grande parte dessa diferença será divertida senão boa mas o restante há que ajudar a mudar... Seu de sempre

Anísio


TEIXEIRA, Anísio. Carta a Rubem Braga, [Rio de Janeiro?], maio 57.Localização do documento: Fundação Getúlio Vargas/CPDOC - Arquivo Anísio Teixeira - ATc 57.05.00.

Carta dos Direitos Humanos chega aos 60 como marco



Apesar de revezes em sua aplicação, declaração da ONU é referência obrigatória


Documento inspira tratados globais e leis em mais de 90 países; alta comissária lamenta persistência de impunidade e autoritarismo



A Declaração Universal dos Direitos Humanos, talvez o documento internacional mais conhecido da história, completa hoje 60 anos de sua adoção como referência obrigatória no respeito às liberdades e direitos fundamentais do homem.Mesmo entre os ativistas que se dedicam a denunciar a limitada aplicação prática de seus 30 artigos, o texto é considerado a pedra fundamental do reconhecimento da igualdade e dignidade humanas, um marco que influenciou todos os tratados e iniciativas sobre o tema nas últimas seis décadas.

Inspirada na Declaração francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e na Declaração de Independência dos EUA, de 1776, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada sob o efeito do trauma provocado pelos horrores da Segunda Guerra Mundial e do genocídio nazista.

Seu primeiro artigo é certamente um dos mais repetidos em todos os tempos: "Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade". Os demais 29 defendem direitos básicos, como alimentação, segurança, trabalho e liberdade de expressão.

Artigos muitas vezes em falta no planeta, reconhece a alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Navanethem Pillay, para quem a declaração continua sendo uma "promessa não cumprida".

Mas ela lembra que o documento inspirou vários tratados internacionais e as leis de mais de 90 países.Além disso, diz Pillay, a declaração motivou a criação de mecanismos regionais e nacionais de monitoramento do respeito a seus princípios, incluindo o Alto Comissariado, que chefia desde setembro.Para ela, a obsessão por segurança em alguns países nos últimos anos criou um novo desafio à declaração. "É preciso reconhecer que a impunidade, os conflitos armados e os regimes autoritários não foram derrotados, e que, lamentavelmente, os direitos humanos são às vezes colocados de lado em nome da segurança", disse a sul-africana Pillay à Folha, por email.


"Incontornável"


Adotado em Paris no dia 10 de dezembro de 1948 pelos então 58 Estados-membros da ONU, entre eles o Brasil, o documento tornou-se a base de tudo o que foi pensado em direitos humanos desde então.

"A Declaração Universal é um texto incontornável, que inspirou sete tratados e a própria estrutura da Comissão de Direitos Humanos da ONU", disse à Folha, de Pequim, o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, um dos brasileiros mais respeitados na área.

Pinheiro, que foi relator da ONU em países onde o respeito aos princípios da declaração são pouco mais que uma utopia, como Mianmar, destaca a relevância histórica do texto.

"Ele lembra que o século 20 não foi só os horrores de genocídio e limpeza étnica, mas também o início da caminhada para combater essas e outras atrocidades", diz.

A embaixadora do Brasil para direitos humanos em Genebra, Maria Nazareth Farani Azevedo, defende a declaração como instrumento de cooperação, não de pressão. "Direitos humanos devem servir como inspiração, não imposição.

"A aplicação do documento é tema de constantes debates. Os ativistas que acompanham o Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, costumam deixar as sessões com uma sensação de impotência, pela falta de mecanismos de punição aos violadores.

"Ninguém nega a importância da declaração, nem os países que não a respeitam", diz Julie Rivero, da Human Rights Watch.

"O problema é que a politização dos debates leva os países a esquecerem que o mais importante é a defesa das vítimas, não de seus interesses."




MARCELO NINIO

O inacabado que há em mim- Pe. Fábio de Melo



Eu me experimento inacabado. Da obra, o rascunho. Do gesto, o que não termina. Sou como o rio em processo de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro. O rio é a mistura de pequenos encontros.

Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo,O que sai de mim cada vez que amo? O que em mim acontece quando me deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim?

Eu me transformo em outros? Eu vivo para saber. O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. O que sei é que a vida me afeta com seu poder de vivência. Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos.

Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos. Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta. Os encontros são muitos; as pessoas também. As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração. É nesta hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil. Melhor mesmo é continuar na esperança confluências futuras.

Viver para sorver os novos rios que virão. Eu sou inacabado. Preciso continuar.Se a mim for concedido o direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na vida. A trama de minha criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim. Um dia sou multidão; no outro sou solidão.

Não quero ser multidão todo dia. Num dia experimento o frescor da amizade; no outro a febre que me faz querer ser só.

Eu sou assim. Sem culpas.

Uma Questão de Escolha- Pe. Fábio de Melo




O coração anda no compasso que pode. Amores não sabem esperar o dia amanhecer. O exemplo é simples.

O filho que chora tem a certeza de que a mãe velará seu sono.

A vida é pequena, mas tão grande nestes espaços que aos cuidados pertencem. Joelhos esfolados são representações das dores do mundo.

A mãe sabe disso.

O filho, não. Aprenderá mais tarde, quando pela força do tempo que nos leva, ele precisará cuidar dos joelhos dos seus pequenos.

O ciclo da história nos direciona para que não nos percamos das funções.

São as regras da vida. E o melhor é obedecê-las.Tenho pensado muito no valor dos pequenos gestos e suas repercussões.

Não há mágica que possa nos salvar do absurdo. O jeito é descobrir esta migalha de vida que sob as realidades insiste em permanecer. São exercícios simples...

Retire a poeira de um móvel e o mundo ficará mais limpo por causa de você.

É sensato pensar assim. Destrua o poder de uma calúnia, vedando a boca que tem ânsia de dizer o que a cabeça ainda não sabe, e alguém deixará de sofrer por causa de seu silêncio.

Nestas estradas de tantos rostos desconhecidos é sempre bom que deixemos um espaço reservado para a calma.

Preconceitos são filhos de nossos olhares apressados.

O melhor é ir devagar.Que cada um cuide do que vê.

Que cada um cuide do que diz. A razão é simples: o Reino de Deus pode começar ou terminar, na palavra que que escolhemos dizer.

É simples...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Vida


Pe. Fábio de Melo



Pelas ruas da cidade, pessoas andam no vai e vem

Não vêem o cair da tarde, dando os seus passos como um reféns

De uma vida sem saída, vida sem vida, mal ou bem

Pelos bancos desses parques, ninguém se toca sem perceber

Que onde o sol se esconde o horizonte tenta dizer

Que há sempre um novo dia, a cada dia em cada ser

Não é preciso uma verdade nova, uma aventura,

Para encontrar nas luzes que se acendem um brilho eterno

E dar as mãos e dar de se além do próprio gesto

E descobrir feliz que o amor esconde outro universo

Pelos becos pelos bares pelos lugares que ninguém vê

Há sempre alguém querendo

Uma esperança sobreviver

Cada rosto é um espelho

De um desejo de ser de ter

Não é preciso uma verdade nova, uma aventura,

Para encontrar nas luzes que se acendem um brilho eterno

E dar as mãos e dar de se além do próprio gesto

E descobrir feliz que o amor esconde outro universo

Cada rosto é um espelho

De um desejo de ser de ter

Talvez quem sabe por essa cidade passe um anjo

E por encanto abra suas asas sobre os homens

E ter vontade de se dar aos outros sem medida

A qualidade de poder viver vida,vida

Vida Vida

Intimidade - Pe. Fábio de Melo



Que seja assim! Tardes que caem para que nasçam as noites. Acordes que terminam para que a pausa prepare o som que virá. A vida e seu movimento tão cheio de sabedoria. Que seja assim! Que seja sempre assim! Esquinas que dobramos com o desejo de alcançar outras esquinas. Depois da chuva, o frescor. Tudo prepara uma forma de depois, como se o agora fosse uma passagem constante que nos conduz com seu cordão invisível. Eu vou. Vou sempre. Não sei não ir. Minha curiosidade me move para dentro de mim. Sou um desconhecido interessante. A cada dia uma nova notícia me entrego. Eu me dou em partes, como se devolvesse o que já sou, Àquele que me deu totalmente. Vivo pra desvendar. Esquinas; tardes caídas; manhãs que se levantam com o sol. Ando amando mais. Meus amigos são tantos; meus limites também. Cada vez mais padre, mais feliz. Eu sou sem medo de errar. Eu desejo a sacralidade de cada dia. Deitar no chão da existência é tão necessário. Eu me levanto mais devolvido, porque há muitas partes de mim esparramadas, caídas pelas esquinas da vida. Recolher-me é obra que faço por Deus. Estou em reformas. Deus o sabe. Ele é que tirou a primeira pedra. Tirou. Não atirou. Deus não sabe atirar. Prefere tirar. Eu deixo. Sou Dele. Quero ser sempre mais. Em partes, pra ser todo. Ele me devolve a cada dia. Eu também. Lição de casa que faço com gosto.Vez ou outra Ele me olha nos olhos e me dita poemas. Fico tão encantado que até esqueço as palavras. Ele manda eu prestar atenção. Digo que não sei. Ele ri de mim. "Poetas são todos iguais" - conclui enquanto mexe no meu cabelo. Eu o vejo de perto, bem de perto. Por vezes sinto o desejo de lhe pedir o impossível, mas aí me falta coragem. Aí peço que me dê só o necessário. Ele me surpreende com medidas que não mereço. Fico mudo, sem saber dizer. Ele me socorre com seu sorriso. E de súbito, as palavras voltam a fazer parte de mim.

O Movimento da Vida - Pe Fábio de Melo



Eu não sei se a vida é que vai rápida demais ou se sou eu que estou mais lento. O que sei é que ando me atropelando nos próprios passos.Eu resolvi desacelerar. Eu vou no rítmo que posso.Não é fácil. É sabedoria que requer aprendizado! Eu quero aprender.O descompasso é a causa de todo cansaço. O corpo é rápido, mas o coração não. O corpo anda no compasso da agenda. O coração anda é no compasso do amor miúdo. O corpo sobrevive de andares largos. O coração sobrevive de pequenos passos e de demoras. Eu já fui e voltei a inúmeros lugares e o coração nem saiu do lugar.O mistério é saber reconciliar as partes. Conciliar um ritmo que seja bom para os dois.Eu quero aprender. Não quero o martírio antes da hora. Quero é o direito de saborear o tempo como se fosse um menino que perdeu a pressa. O show? Ah, deixa pra depois. A voz não morrerá. Acendemos as luzes noutra hora. Deixe que o padre viva a penumbra de algumas poucas velas... Um padre combina mais com uma vela acesa que com um canhão de luz.Há momentos em que a luz miúda nos revela muito mais que mil holofotes.Chega de vida complicada. Eu preciso é de simplicidade!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A graça de ser só - Pe.Fábio de melo



Ando pensando no valor de ser só. Talvez seja por causa da grande polêmica que envolveu a vida celibatária nos últimos dias. Interessante como as pessoas ficam querendo arrumar esposas para os padres. Lutam, mesmo que não as tenhamos convocado para tal, para que recebamos o direito de nos casar e constituir família.Já presenciei discursos inflamados de pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar.Eu também fico indignado, mas de outro modo. Fico indignado quando a sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida sexual. Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa ao contexto do “pode ou não pode”.A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é muito mais. Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de doação plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que levo. Não poderia privar os meus filhos de minha presença para fazer as escolhas que faço. O fato de não me casar não me priva do amor. Eu o descubro de outros modos. Tenho diante de mim a possibilidade de ser dos que precisam de minha presença. Na palavra que digo, na música que canto e no gesto que realizo, o todo de minha condição humana está colocado. É o que tento viver. É o que acredito ser o certo.Nunca encarei o celibato como restrição. Esta opção de vida não me foi imposta. Ninguém me obrigou ser padre, e quando escolhi o ser, ninguém me enganou. Eu assumi livremente todas as possibilidades do meu ministério, mas também todos os limites. Não há escolhas humanas que só nos trarão possibilidades. Tudo é tecido a partir dos avessos e dos direitos. É questão de maturidade.Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só. Não vivo lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz sendo quem eu sou e fazendo o que faço. Tenho meus limites, minhas lutas cotidianas para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma experiência de lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Não tenho medo das minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a compreender o significado da misericórdia. Eu não sou teórico. Vivo na carne a necessidade de estar em Deus para que minhas esperanças continuem vivas. Eu não sou por acaso. Sou fruto de um processo histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer para dentro do meu coração. Deus me mostra. Ele me indica, por meio de minha sensibilidade, quais são as pessoas que poderão oferecer algum risco para minha castidade. Eu não me refiro somente ao perigo da sexualidade. Eu me refiro também às pessoas que querem me transformar em “propriedade privada”. Querem depositar sobre mim o seu universo de carências e necessidades, iludidas de que eu sou o redentor de suas vidas.Contra a castidade de um padre se peca de diversas formas. É preciso pensar sobre isso. Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve os problemas do mundo.Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras, nem olhares. Não descobriram a beleza dos detalhes que a castidade sugere. Fizeram sexo demais, mas amaram de menos. Faltou castidade, encontro frutuoso, amor que não carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive de outras formas de carinho.É por isso que eu continuo aqui, lutando pelo direito de ser só, sem que isso pareça neurose ou imposição que alguém me fez. Da mesma forma que eu continuo lutando para que os casais descubram que o casamento também não é uma imposição. Só se casa aquele que quer. Por isso perguntamos sempre – É de livre e espontânea vontade que o fazeis? – É simples. Castos ou casados, ninguém está livre das obrigações do amor. A fidelidade é o rosto mais sincero de nossas predileções.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Como ter fé no sofrimento? Padre Fábio de Melo



O neurótico é aquele que perdeu a fé e tem medo de tudo e de todos. O neurótico é sempre limitado e deixa de fazer muitas coisas na vida porque o medo o paralisa. É um medo acentuado que virou doença. A fé não combina com medo!


Revista-se de uma couraça que o proteja. Acreditar em Deus não é acreditar em absurdos! A experiência de Deus é o cuidado com a experiência humana. Uma palavra bem dita tem o poder de expulsar as maldições!

O jeito mais bonito de transformar o mundo é quando Jesus ganha espaço em nossa consciência. A palavra que ordena o mundo é a Palavra de Deus, a qual funciona como uma matriz, com valores que vêm de Deus e nos propõe suportar os sofrimentos do mundo. As lutas são estabelecidas o tempo todo. A experiência do limite não pode ser tirada da realidade humana.


Não há como você ir ao combate se estiver despreparado.


Não conseguiremos sobreviver se não tivermos fé! Não seja vítima de sua vida. Esteja munido de forças humanas, psíquicas e espirituais. Fortalecei-nos no Senhor! Assim, no momento em que a vida parecer insuportável, você terá como resistir. Quais foram as grandes batalhas que você enfrentou? Você venceu ou perdeu?


Não é vergonha fracassar, pois somos humanos. Não é vergonha passar pelos seus limites, vergonha é não os ver. A maturidade nos ensina a não buscar culpados.


Uma palavra profética é uma ‘palavra amorosa’! As palavras amorosas não são de bajulação. Amor que é amor fere. Assim como na atividade física a musculatura precisa sofrer micro lesões para endurecer, e futuramente não doer.


Ninguém nos escondeu que seria necessário a disciplina. Que nascemos de um jeito e morremos de outro. Se não expuser seu corpo ao exercício necessário, você sofrerá. Mas falo do despreparo da alma. Como reagir diante de uma vida que não deu certo? Como dar testemunhos da fé se não teve sofrimento? Ou no momento em que tenho que conviver com os meus limites e aprimorar o meu ser?


Assim como a ostra: “Ostra feliz não faz pérolas”. Ostras são moluscos, animais sem esqueleto, macias, que representam as delícias da gastronomia que podem ser comidas cruas. Como não têm defesas, são animais mansos e seriam presas fáceis. Então, para que isso não acontecesse, a sua natureza as ensinou a produzir casas duras para as proteger.No fundo do mar, havia uma colônia de ostras felizes. Sabíamos que eram felizes porque dentro delas saía uma delicada melodia, uma música aquática, como se fosse um canto gregoriano. Todas cantando a mesma música, com a exceção de uma ostra solitária que fazia um solo solitário. As ostras felizes riam dela e diziam que ela não saía da depressão. Não era depressão. Havia entrado um grão de areia em sua carne que doía muito. Ela não conseguia se livrar deste grão de areia, mas conseguia se livrar da dor, em virtude de suas arestas e pontas que envolviam o grão com substâncias brilhantes. Enquanto tentava se livrar da dor, cantava seu canto triste. Um dia passou um pescador por ali e levou-as todas para sua casa e sua esposa fez uma sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, seu dente bateu em uma substância dura e brilhante: era uma pérola. Apenas a ostra sofredora faz pérolas.


Isso é verdade para as ostras e para os humanos. A resposta é que ela não se entregou porque foi capaz de transformar a tragédia em beleza. A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta, mas não se cria.


Na dor e na dificuldade de sua vida, você precisa encontrar um jeito nobre e diferente de os sentir. Esse cristianismo que não há sofrimento, não é humano. O cristianismo começa no Calvário! O Natal que vamos celebrar é trágico, revestido de beleza, mas é trágico porque um menino que não tinha onde morar e ninguém para o receber, nasce em uma manjedoura. ‘Jesus veio na dor’. Deus entra no mundo pela força da dor. Jesus é o nosso Rei, mas nunca se esqueça que o seu Rei é ‘coroado de espinhos’. Só poderemos reconhecer a glória de Deus se revestirmos a alma que nos assemelha aos artistas, de revestir o cotidiano de uma beleza nobre. Nunca podemos descobrir a beleza do sofrer se não revestirmos o nosso cotidiano de uma beleza nobre.
Porque você acha que as multidões andavam atrás de Jesus? Porque Jesus era especialista em revestir a tragédia de beleza.


O pessimismo nos faz arriar. O pessimismo é a forma mais simplória de suportar a vida, pois não requer o aperfeiçoamento humano. O amor fere.


Porque você acredita em Deus? Não sabemos dizer, só sabemos que no momento que mais nos sentimos frágeis, cremos em Deus. Alguma coisa nos leva além de nós mesmos e não aceito a opinião pessimista. Revista-se da couraça da justiça, do poder do bom senso aprimorado. É dia de celebrar a vitória!


Revista-se dos poderes de Deus e permita que Ele faça a pérola em você, na sua dificuldade! É dia de celebrar a vitória!


As pessoas que fazem diferença na sociedade são aquelas que o autor conseguiu transcrever as dores do mundo em poema.


Sabe o que está faltando para a nossa vida? Recordar-nos de que somos capazes.


Chega de humanos que dizem: ‘Eu não dou conta’. Não temos o direito de dizer que não damos conta se não tentarmos. Neste Hosana Brasil 2008 temos que ter essa consciência de recordar o que Deus nos fez e o que somos, pois “Somos vencedores”.


Chega de lamentar-se, Deus tem projetos maravilhosos para você!

PENSAMENTOS