"Os Educadores-sonhadores jamais desistem de suas sementes,mesmo que não germinem no tempo certo...Mesmo que pareçam frágeisl frente às intempéries...Mesmo que não sejam viçosas e que não exalem o perfume que se espera delas.O espírito de um meste nunca se deixa abater pelas dificuldades. Ao contrário, esses educadores entendem experiências difíceis com desafios a serem vencidos. Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com acolheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes"(Gabriel Chalita)

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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ano Novo!

O menino quis saber o significado do ano novo. Tentei dizer. Busquei as frases prontas que são tão comuns à essa época do ano, e prontamente me coloquei a repeti-las.


Percebi que ele escutava tudo o que eu dizia, mas sem muito interesse. Ele voltou a insistir. Queria saber se haveria algum sinal que pudesse sinalizar a mudança do ano velho para o ano novo. Eu fiquei desconcertado. Eu confesso que o único sinal que me ocorreu foi a famosa queima de fogos que acontece na praia de Copacabana. Não tive coragem de dizer.


Apesar da pouca idade, o menino buscava por um significado mais profundo a respeito do tempo. Sem muitos rodeios ele argumentou que não conseguia perceber muito sentido nessa história de ano novo. Ele tinha uma visão prática da vida. E sobre ela me falou. Buscou realidades simples do seu contexto e exemplificou para que eu pudesse entender sua dúvida.


O menino estava coberto de razão. Sua visão prática era coerente, lúcida. Não há nada de novo no ano novo. O que muda é o relógio, o calendário, mas a vida continua o seu remanso de sempre.


Foi então que busquei extrapolar o seu discurso prático e lhe ofereci algumas porções do meu discurso simbólico. Eu também precisava sobreviver àquela conversa. Não queria sair dela embebido daquela praticidade que poderia ruir minha capacidade de acreditar que existe alguma novidade à minha espera com o romper da nova década. O menino me olhava interessado. Falei sobre o tempo e seus ciclos. Falei da psicologia das horas.


Argumentei que a demarcação das datas pode ter repercussão nas almas das pessoas. A oportunidade de virar o calendário pode ter efeito positivo sobre aquele que se sente pesado, angustiado, sem esperanças. Comparei o ano velho a uma gaveta que precisa ser limpa. Guardamos muitas coisas desnecessárias.


Chega o momento em que precisamos fazer a triagem. É necessário limpar, jogar fora, abrir espaços para coisas novas. Ano novo e gaveta limpa podem ter os mesmos sentidos, sugeri. Toda vez que nós temos a sensação de um novo tempo, é natural que nossas almas sejam invadidas por esperanças. Faz parte do processo humano sofrer de esperanças.


A esperança é uma espécie de instinto de sobrevivência. O cansaço dos tempos idos pode dispor o nosso coração à possibilidade de mudanças. É como se houvesse uma saturação. Não queremos mais o peso do passado. Precisamos de outra oportunidade. O calendário novo nos oferece essa sensação. Ao saber que o ano velho está sendo finalizado, é possível que você se encha de expectativas importantes.


O menino me olhou com carinho e agradeceu. Voltou para o seu mundo de brinquedos e deixou-me diante da necessidade de conciliar os dois discursos. O prático e o simbólico. Desaforo. O discurso prático parece humilhar o discurso simbólico. Ele resolve porque é dotado de clareza. É lógico, curto, asfixiante.


E foi assim que recebi o ano novo. Tentando equilibrar os dois discursos dentro de mim. Vez em quando eu me recordo da ótica do menino. Eu não a desconsidero. Ele tem razão. Se a gente não se empenhar na construção de um novo tempo, nada acontecerá. O ano novo será mesmice, repetição de erros, acomodação de posturas, condução medíocre de oportunidades, explosão de fogos que oferece brilho breve, assustadoramente fugaz. Mas não precisa ser assim. Há sempre um motivo novo abscôndito nas velhas estruturas da condição humana. A isso chamamos de evolução, superação. O menino me ajudou com sua ótica. Perdi o medo de ser prático na minha reflexão sobre o tempo.


De fato, nada mudou. Mas também não posso deixar de admitir que há um vento suave me conduzindo para o coração do futuro. E assim eu vou. Abraçando o presente, passando o passado, aprendendo com essa dinâmica interessante, inventada por alguém que não sei dizer, que faz o ano velho ser novo de novo.


Padre Fábio de Melo

sábado, 18 de dezembro de 2010

TarkaN Her Seye Ragmen (Enbe Orkestrasi) YENI 2010

Prisão faz criador do WikiLeaks ser mais popular que Justin Bieber no Twitter

Thiago Chaves-Scarelli

Do UOL Notícias

Em São Paulo As revelações de intrigas internacionais e as reviravoltas jurídicas protagonizadas por Julian Assange nas últimas duas semanas transformaram o desconhecido nerd australiano em uma personalidade mundial de primeiro escalão, capaz de despertar tanto interesse quanto um ídolo pop do calibre de Justin Bieber, Shakira ou Lady Gaga.

De acordo com os dados do "Trendistic", uma ferramenta que permite avaliar o fluxo de um determinado termo entre todos as mensagens publicadas no Twitter, a palavra "Assange" começou a ganhar repercussão no último dia 28 de novembro, quando o site WikiLeaks iniciou o vazamento de milhares de documentos confidenciais da diplomacia norte-americana, para constrangimento de diversos líderes mundiais.

As referências ao criador do WikiLeaks adquirem ainda mais peso com a retomada das acusações de que Assange teria cometido violência sexual contra duas mulheres na Suécia. A promotoria sueca retomou o caso, que datava de agosto, e levou a Interpol a emitir um alerta internacional contra o australiano.



Gráfico do Trendistic mostra histórico do volume de tweets mencionando 'Assange' e 'Bieber'No dia 7 de dezembro, Assange se apresenta voluntariamente a uma delegacia em Londres e é preso -- e o interesse dos internautas dispara: o volume de tweets sobre Assange chegou a ser pelo menos cinco vezes maior do que aqueles sobre o ídolo pop Justin Bieber neste dia, segundo o "Trendistic".

O gráfico fornecido pela ferramenta mostra que em pelo menos outras duas outras ocasiões Bieber (considerado pela revista "Forbes" como a celebridade mais influente do Twitter em 2010) é superado por Assange no universo dos microblogs: quando a Justiça britânica admitiu a liberdade sob fiança -- congelada horas depois por um recurso da Suécia -- e quando ele finalmente deixou a prisão.

Destaque na imprensa

A repercussão nas redes sociais vem junto com a superexposição de Assange na mídia tradicional. Nas últimas semanas, o criador do WikiLeaks apareceu estampado em capas de revistas em vários países do mundo, acompanhado de um ar de misticismo.

Entre as publicações que espalharam o rosto de Assange nas bancas de jornais estão as norte-americanas "Time" e "Forbes", a alemã "Focus" e as indianas "Outlook" e "Frontline", além da "Rolling Stone", que prometeu ao australiano a capa da edição de janeiro de 2011.


A revista "Rolling Stone" foi além e escolheu Assange como o maior "roqueiro" do ano. "O rock informático de Assange será o que levaremos com alegria durante 2011. É o anjo exterminador de cada segredo do poder. É o homem que cai (da rede) na Terra", descreveu a publicação, por meio de nota oficial.

"Assange é um ícone como Che Guevara nas camisetas, como Mao para Andy Warhol. É o líder pop do fim da diplomacia e da segurança imperial. Assange é a verdadeira estrela do rock & roll dos anos 3000", acrescentou o comunicado.

A tendência descrita pela "Rolling Stone" parece confirmada pela votação popular promovida pela revista "Time": a votação dos leitores indicou Assange como a personalidade mais importante de 2010. Editorialmente, a revista acabou atribuindo a honraria a Mark Zuckerberg, criador do Facebook.

Inspirando ativismo virtual

Ao liderar abertamente a maior operação de vazamento de segredos de Estado da história, Assange ganhou muitos inimigos. Nos EUA, foi chamado de "terrorista" pelo deputado republicano Peter T. King, e o ex-candidato presidencial Mike Huckabee se juntou à fila dos que pedem sua morte.

Ao mesmo tempo, sua iniciativa em "defesa da transparência" mobilizou apoiadores dentro e fora da internet. Além das tradicionais passeatas e dos cartazes em sua defesa, Assange viu surgir uma manifestação anônima marcada por um caráter de "contra-ataque" aos inimigos da WikiLeaks.

Um grupo de centenas de internautas com quase nenhuma conexão entre si foi responsável por prejudicar o acesso aos sites de empresas como a Visa, Mastercard e PayPal -- três companhias financeiras que secaram o repasse de doações ao WikiLeaks em meio à polêmica desatada no início deste mês.

A ação do grupo "Anonymous" já foi chamada de "ciberativismo", "guerra virtual" e "terrorismo cibernético", mas há consenso de que se tratou de uma "vingança" que é inspirada por Assange, sem ser controlada por ele.

Nas palavras de um dos membros do grupo: "Nenhum de nós tem qualquer relação com Assange, não o conheço e nunca vou conhecer. Eu apenas aprecio o que ele está fazendo e dou apoio".

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

É pra isso que serve a liberdade de imprensa???



Essa fala histriônica do jornalista Luiz Carlos Prates se presta a uma discussão rica: quais os limites da liberdade de expressão?
Ou não existe limite?

Prates está fazendo a apologia de uma ditadura.

Não vou discutir a embalagem estridente e manca. Em sua saudação ao general Figueiredo ele mistura tratamentos como alguém que não domina o idioma. Figueiredo é primeiro tu (que morreste pobre) e em seguida é você (que nos ensinou).

Fale com simplicidade, ou agredirá o português como Prates.

Mas a questão é a essência.

Tudo bem louvar ditadura?

A liberdade de expressão, em algumas partes do mundo, tem sido objeto de discussões interessantes. A permissiva Suécia, por exemplo, decidiu que não se pode mais veicular e distribuir conteúdo com imagens reais de crianças quando se trata de pedofilia. Filmes e fotos para pedófilos, para ser mais claro. Isso era permitido na Suécia até há pouco, em nome da liberdade de expressão. Os pedófilos agora têm que se contentar com animações.

No Reino Unido, exaltar o terror islâmico é o bastante para levar alguém para a cadeia. Você não precisa fazer nada de concreto além de elogiar o chamado martírio – a morte pela causa do Islã. Experimente, também nos Estados Unidos, publicar um blog que apóie Bin Laden. Tente depois se explicar com aquela citadíssima fala: defendo até a morte o direito de você dizer uma coisa da qual discordo.

A ausência de limites na Alemanha de Weimar permitiu a Hitler publicar Mein Keimpf, um livro em que ele prometia fazer o que mais tarde, no poder, efetivamente faria: exterminar fisicamente os judeus.

Louvar a ditadura, como faz Prates: pode?

Para lembrar. Uma ditadura não se instala sem a ruptura da legalidade e a morte e prisão de muitas pessoas. Foi o que aconteceu em 1964 no Brasil.

Essa fala histérica é imprestável sob todos os aspectos, exceto pela oportunidade de discutir a liberdade de expressão.

by Paulo Nogueira




















A "nata" da estupidez humana



O problema do Brasil não é a pobreza. São os pobres


É o que você aprende com a dupla Debi e Lóide. Debi, num programa de televisão, disse que os miseráveis são culpados pelas mortes nas estradas. Quer dizer, metade culpados. A outra metade da culpa é do governo espúrio que deu condições para os miseráveis comprarem um carro.

Carro é para nós, os ricos, para Debi.

Segundo Debi, o miserável motorizado vai para a estrada se distrair porque não suporta a mulher e nem ele a ela. E depois de bater é observado por desgraçados que gostam de ver cadáveres mesmo quando para isso têm que atravessar uma estrada congestionada.

Debi é comentarista da RBS em Santa Catarina.

Debi diz que o miserável compra o carro antes de ler um livro. Hmmm. Ainda bem para quem gosta de livro. Já pensou como ficariam as livrarias com pobres interessados em comprar livros?

Lóide gosta de voar. Mas os aeroportos hoje têm pobres demais, e ele não gosta disso, como escreveu num artigo na Folha de S. Paulo. Não conhecia Lóide. Vi um pouco dele no Google. Pobre Locke, pobre Hume, tão citados por ele para defender o indefensável – o nexo de seus textos.

Debi e Lóide simbolizam a direita brasileira destes dias, na qual têm a companhia de gente como Jabor, Merval Pereira, Reinaldo de Azevedo, Ali Kamel e William Waack.

Na campanha eleitoral, um artigo memorável de Merval culpava os pobres por não serem capazes de entender a gravidade das denúncias contra o governo. Não que as denúncias pudessem ser inconsistentes, não que as explicações pudessem ser incompreensíveis ou nada persuasivas. Não. Os pobres é que não conseguiram apreender o tamanho do drama.

A solução do Brasil não é acabar com a pobreza, para a nova direita da dupla Debi e Lóide e amigos de fé.

É simplesmente acabar com os pobres.



by Paulo Nogueira

domingo, 14 de novembro de 2010

Chalita é nome cotado para substituir Haddad no governo Dilma

Ex-secretário da Educação de São Paulo na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), Chalita conta também com o carinho especial da presidente eleita




Agência Estado

Os dois anos de sucessivas falhas na aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não só desgastaram o ministro da Educação, Fernando Haddad, preferido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para continuar à frente da pasta no governo Dilma Rousseff, como abriram espaço para que outros candidatos disputem a vaga. Em meio às negociações para a formação do futuro governo, o PSB pode abocanhar também o Ministério da Educação e ampliar sua participação no Planalto - que hoje se restringe ao Ministério de Ciência e Tecnologia e Secretaria Especial dos Portos. Segundo fontes ligadas à legenda, o nome mais cotado é o do deputado eleito e vereador por São Paulo Gabriel Chalita.
 
Ex-secretário da Educação do Estado de São Paulo na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), Chalita conta também com o carinho especial da presidente eleita. Ele foi um dos responsáveis pela aproximação de Dilma com setores da Igreja Católica desde a pré-campanha e atuou como "bombeiro" na articulação entre a candidata e a Igreja nos momentos mais delicados da campanha, quando as discussões envolvendo temas como aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo fizeram a petista perder pontos nas pesquisas de intenção de voto.
 
Na disputa com o deputado federal eleito neste pleito - o segundo mais votado do Estado depois do palhaço Tiririca - estão nomes como o da filósofa Marilena Chauí, ex-secretária da Cultura da prefeitura de São Paulo durante o governo de Luíza Erundina, do escritor Fernando Morais e do senador petista Aloizio Mercadante. Chalita é considerado um gestor agregador e mobilizador das redes de ensino, com boas chances de pôr fim à crise que colocou o Enem em xeque. "Para ela (Dilma), o que aconteceu com o Enem é inconcebível", conta um pessebista, ao criticar as falhas consecutivas na aplicação da prova.

Caso seja escolhido para dirigir o Ministério da Educação, Chalita deverá promover mudanças significativas no Enem, começando com a aplicação da prova em três datas diferentes ao longo do ano, como defende a ex-secretária executiva do MEC Maria Helena Guimarães de Castro, uma das criadoras do Enem na gestão Fernando Henrique Cardoso. No passado, Chalita fez críticas ao Enem, o qual classificou como "tão ruim quanto os antigos vestibulares".

Os primeiros nomes do novo governo Dilma Rousseff devem ser anunciados já na próxima semana. A prioridade é a definição da área econômica, como sugeriu o presidente Lula. A tendência é que a presidente eleita aposte em perfis técnicos com viés desenvolvimentista. Num dos postos-chave do governo, a Casa Civil, a discussão está em torno do perfil do novo titular, se vai pender mais para o político ou para o técnico. Segundo Fontes, além dos conselhos do presidente Lula, Dilma tem ouvido com frequência seu vice Michel Temer para fechar os nomes do primeiro escalão.
 
Outros partidos
 
O PV, que faz questão de se colocar como "independente", também vem sendo cogitado para integrar o governo Dilma. Para surpresa do partido da senadora Marina Silva, o PV foi sondado para compor a nova administração. No segundo turno, Dilma se comprometeu com propostas que faziam parte do plano de governo de Marina. Embora a equipe de transição esteja mais comprometida em atender os partidos de sua coligação, Dilma quer ter ao seu lado o PV que saiu fortalecido das urnas. "Está havendo boa vontade e sondagens, mas não há nenhuma sinalização sobre ministérios", disse um ex-candidato do PV.
Oficialmente, o PV rechaça discussões relacionadas à negociação de cargos. "Qualquer conversa em torno de programas é construtiva. Mas não há convites e não haverá convites", reforça o vice-presidente do partido, Alfredo Sirkis. Deputado federal eleito pelo Rio de Janeiro, Sirkis lembra que o governo Dilma terá dificuldades para agregar todos os partidos da sua base, "quanto mais os que não a apoiaram", portanto não acredita que haja espaço para o PV.
Já o PCdoB, que se reuniu esta semana com o presidente do PT, José Eduardo Dutra, diz que o tema da conversa não foi composição ministerial e sim questões programáticas que não foram aprofundadas durante a campanha eleitoral, como as reformas e a guerra cambial. "Temos muitos nomes, nomes de excelência, mas não chegamos lá (na reunião) para cobrar ministérios", disse o secretário de comunicação do partido, José Reinaldo Carvalho.

O secretário destaca que o partido se identifica com as pastas criadas no governo Lula, como a Secretaria de Políticas de Promoção e Igualdade Racial, e áreas que exijam interface com movimentos sociais. Entre os "nomes de excelência" do PCdoB estão os deputados federais Aldo Rebelo (SP), Manuela D'Ávila (RS), Flávio Dino (MA) e o atual ministro dos Esportes, Orlando Silva, em alta com os preparativos para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 no Rio.
Quanto à possibilidade de manter a divisão dos ministérios na mesma proporção em que ocupam no governo Lula, como quer o PMDB de Temer, o PCdoB manda o seu recado: "É um novo governo, é um novo quadro político".

terça-feira, 9 de novembro de 2010

OAB-PE lista novos suspeitos de preconceito anti-nordestino




Especial de Recife

Após receber "centenas" de denúncias, a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Pernambuco (OAB-PE) adicionou, na noite desta segunda-feira (8), uma petição à notícia-crime movida contra a estudante de Direito Mayara Petruso, que sugeriu, em frase publicada na internet, "matar nordestinos afogados".
A nova documentação enviada ao Ministério Público Federal de São Paulo conta com uma lista de suspeitos de cometer crime semelhante ao da universitária: racismo e incitação pública à prática de homicídio.

Por meio da assessoria de imprensa da OAB-PE, o presidente da entidade,Henrique Mariano, afirmou que o caso da estudante foi "emblemático". Segundo ele, levou "centenas" de pessoas de todos os cantos do País a procurarem o órgão com novas denúncias. "Além de estarmos monitorando as mensagens que são divulgadas na internet. Depois de analisar as denúncias, vimos que, em boa parte delas, ainda será preciso identificar os autores".

Para auxiliar na identificação dos autores de mensagens com teor preconceituoso, a documentação remetida pelo presidente Henrique Mariano solicita também a participação da Polícia Federal nas investigações. As mensagens passaram a ser difundidas na internet logo após a divulgação do resultado das eleições presidenciais do segundo turno.







sábado, 6 de novembro de 2010

Gabriel Chalita para Ministério da Educação

 Gabriel Chalita disputa Ministério da Educação com Gastão



Já é dado como certo em Brasília que o Ministério da Educação não deva mais ficar com PT. O atual ministro, Fernando Haddad, vai deixar o cargo em janeiro e, na disputa pela vaga, além de Gastão Vieira (PMDB) – como noticiado aqui quinta-feira (4) – está o educador Gabriel Chalita (PSB).


Gabriel Chalita é educador e escritor

Ex-secretário de Educação de São Paulo, Chalita é vereador, mas foi recém-eleito deputado federal pelo estado de São Paulo. Ele foi o campeão de votos do PSB em todo o país entres os deputados federais, com mais de 560 mil votos.



Depois da divulgação de que Gastão será o indicado da governadora Roseana Sarney (PMDB) para a pasta, fontes do blog entraram em contato para informar que, ainda ontem, em reunião da executiva nacional do PSB na capital federal, Chalita foi apontado dentro da legenda como possível nome para a Educação.



Começa a esquentar a briga.

Mayara : Uma vergonha nacional

Pai da estudante processada por discriminação se diz envergonhado

A pedido da OAB e da Procuradoria da República, Mayara Petruso será investigada por comentários contra nordestinos na internet

O empresário Antonino Petruso, morador de Bragança Paulista, no interior de São Paulo, soube pelos jornais que a filha mais nova, Mayara Penteado Petruso, está sendo alvo de investigação pela Procuradoria Geral da República por crime de preconceito. Ela é a estudante de Direito que, finalizada a apuração que apontou Dilma Rousseff (PT) como nova presidenta do Brasil, desancou a postar frases de preconceito e discriminação contra o povo nordestino na internet.



Nas frases postadas na rede de microblogs Twitter e no Facebook, a jovem sugere o extermínio dos nordestinos e pede o fim do direito de voto para quem não mora na região Sudeste.

Antonino Petruso se disse “surpreso, decepcionado e envergonhado” pela atitude da filha e lamentou que a menina tenha se deixado influenciar pelo “acirramento” do debate eleitoral. “Nunca fui chegado a política e nunca ensinei nada disso para as minha filhas. Tenho um enorme respeito pelos nordestinos e é graças a eles que consigo dar uma vida digna para minha família e pagar a faculdade da Mayara”, disse Petruso ao iG, em entrevista por telefone.

Petruso é dono de uma rede de supermercados de Bragança e diz que tem vários clientes e empregados de origem nordestina. Pai de quatro filhos, ele trabalha mais de 15 horas por dia para administrar o negócio herdado do pai. Nos últimos anos, em virtude da melhora da economia, viu os negócios melhorarem graças às políticas econômicas do governo Lula. “Tenho muita simpatia pelo Lula. Ele não resolveu tudo, mas fez um excelente governo. Se a Mayara tivesse me consultado, teria pedido para ela votar na Dilma. Entre todos os candidatos, ela era a melhor opção para o País”, afirmou o empresário

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Mayara é filha de um relacionamento de Antonino fora do casamento. Embora o empresário financie os estudos e a moradia da jovem em São Paulo, ele narra que o relacionamento com a filha é um pouco distante. “Desde quando ela foi morar em São Paulo, pouco nos falamos. Duas outras filhas também moraram na capital nesses últimos anos, mas ela não mantinha contato nenhum com as irmãs nesse período”, contou.



Desde quando soube do caso, Antonino tenta encontrar a filha para saber o que de fato aconteceu, mas não consegue localizá-la. Após tentar fazer contato com a garota pelo celular e até ligar para a mãe dela, não obteve retorno e se disse preocupado com o que possa estar acontecendo. “A internet tem muito problema de hacker. Eu mesmo já tive o e-mail invadido por eles. Quero ouvir dela o que está acontecendo. Se ela fez mesmo essas coisas graves que os jornais estão dizendo, terá que pagar e responder na Justiça”, disse o pai. “Sou contra qualquer tipo de discriminação. É o pior crime possível e estou muito chateado que a minha filha esteja envolvida nesse tipo de coisa”, desabafou.

“Geyse da FMU”

Mayara é estudante do sexto semestre de Direito da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas). Transferida de uma faculdade da região do Pari, passou a frequentar as aulas no campus da Liberdade apenas neste ano, no período noturno.

Na sala do segundo andar, a estudante sentava no fundo da classe e conversava com alguns poucos colegas de classe, em virtude do pouco tempo na turma. Apesar de muito jovem, com 21 anos, ela já estagiava em um escritório de advocacia durante o dia, mas foi despedida da empresa por causa do episódio. Na classe, os colegas mais próximos dizem que a jovem nunca soltou qualquer comentário preconceituoso e mantinha o respeito com todos os colegas.

“Era uma jovem sorridente e concentrada nos estudos. Conversava com todo mundo que vinha puxar papo com ela, mesmo aqueles de origem nordestina”, disse o estudante identificado apenas como Carlos, que sentava na frente da jovem e fez trabalhos com ela pelo menos duas vezes neste ano.

“Acho que ela foi ingênua e infeliz ao fazer esse tipo de comentário. Foi uma coisa muito feia o que ela disse, mas sei que ela não deve ter agido por mal”, disse outra colega que se identificou como Aline.

A história de Mayara ecoou entre os alunos da FMU e foi o principal assunto nesta quinta-feira, data que a reportagem do iG esteve na faculdade. No intervalo, nos elevadores e em todas as salas de aula, as pessoas buscavam identificar quem era a garota apelidada de “Geyse da FMU”, em referência ao episódio da estudante Geyse Arruda, que foi hostilizada por colegas da Uniban por frequentar as aulas com um vestido cor de rosa curtíssimo.

“A Mayara é a maior celebridade do curso de Direito hoje”, brincou um jovem durante o intervalo das aulas, numa roda com outros cinco jovens do terceiro ano.

“Desde o dia em que o episódio de preconceito veio a tona, Mayara não apareceu mais na faculdade. As amigas mais próximas dizem que ela não atende ao telefone nem responde e-mails. Uma delas chegou até a visitar a república onde Mayara mora com outras duas amigas, mas foi informada de que a jovem teria voltado para Bragança, para a casa da mãe.

Os colegas de sala temem que ela abandone o curso. Todos lamentaram o episódio e disseram até que sentem dó pelo que Mayara está passando. “Ela é muito novinha. Não deve estar sendo fácil enfrentar toda essa pressão”, afirmou a representante de sala.

'Case' de Direito

O caso da jovem de Bragança Paulista está sendo tratado pelos professores como “case” das aulas de Direito Civil. Segundo os alunos, alguns professores até analisaram o caso da jovem pela ótica jurídica. “Um dos professores afirmou que ela pode responder processo por incitação à violência e discriminação”, disse Rafael Prado, estudante do quarto ano de Direito. “Os professores estão usando o caso para alertar os alunos sobre os limites da internet. É capaz até de as aulas de Direito Eletrônico ficarem mais animadas”, brincou o estudante

Ameaças e preconceitos
 
A Segurança da FMU também está em alerta. Para evitar que a jovem sofra qualquer tipo de hostilidade caso volte às aulas, os seguranças passam pela sala 203 na hora da entrada, do intervalo e na saída. Numa dessas rondas, a reportagem do iG foi flagrada dentro da sala de aula, ouvindo os colegas da jovem na hora do intervalo. Ao convidar o repórter a se retirar da faculdade, um dos seguranças disse que os responsáveis pela segurança estão em alerta total porque um jovem de origem nordestina invadiu a universidade da última quarta, ameaçando agredir Mayara. “A sorte é que ela não tem vindo às aulas”, disse o segurança.
 
Leia mais sobre o caso:

OAB-PE denuncia jovem que incitou violência contra nordestinos

Comentário contra nordestinos repercute em Pernambuco

O pai de Mayara afirma que o episódio causou muitos problemas para a família. Além de assunto entre a maioria dos jovens de Bragança, uma das irmãs de Mayara tem sido alvo de críticas e comentários preconceituosos na faculdade onde estuda, em Bragança. A jovem confessou ao pai que alguns professores também têm destratado a moça em virtude do episódio. “Gostaria que as pessoas não confundissem as coisas por causa de um sobrenome. A Mayara tem 21 anos e responde por seus atos. O que ela fez foi muito grave, mas nós, familiares, só podemos lamentar e ajudá-la a se livrar desse preconceito ruim”, avalia o pai. “Os que confundem as coisas, incorrem num erro ainda mais grave que o da minha filha”, sentencia.


Desculpas da família


Antonino Petruso soube pelo iG que a filha não está frequentando a faculdade. Com problemas de visão que o impedem de dirigir, o empresário deve viajar a São Paulo no final de semana com uma das filhas para encontrar a filha e tentar orientá-la.
A Procuradoria Regional da República de São Paulo já solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) que abra investigação contra Mayara. O processo foi encaminhado para a procuradora Melissa Garcia Blagitz Abreu e Silva, do Grupo de Combate aos Crimes Cibernéticos).

O pai da jovem promete contratar um advogado para ajudar a filha, mas ressalta que a jovem terá que responder por seus atos. “Preconceito é um crime inaceitável. Se ela fez isso mesmo, terá que pagar. Como pai, peço apenas desculpas aos nordestinos, do fundo do meu coração. Amo o Nordeste e todos os nordestinos merecem o meu respeito”, declarou Antonino Petruso.


Lá fora

O caso chegou a repercutir na imprensa internacional. O site do jornal britânico The Telegraph publicou reportagem do seu correspondente no Brasil a respeito do assunto. A matéria diz que se a jovem for condenada pela Justiça, poderá pegar uma pena de dois a cinco anos de prisão por racismo. Ou então, de três a seis meses - ou multa - por incitar o assassinato na internet.

 
O jornal britânico também lembrou a diversidade étnica do Brasil e afirmou que os metiços formam a grande maioria da população brasileira.


 
by Rodrigo Rodrigues, iG São Paulo

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

DENUNCIE A XENOFOBIA

PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA

Clique no link abaixo e denuncie:

http://ccr2.pgr.mpf.gov.br/formulario/denuncia/index.htm

Vergonha nacional...

Xenofobia no Twitter contra nordestinos

A Lei nº 7.716, de 05 de janeiro de 1989, em seu artigo 1º (com a redação determinada pela Lei nº 9.459, de 13 de março de 1997), diz que "Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". Portanto, claramente, os delitos tipificados por esta lei englobam a conduta de segregar estrangeiros, que vem a ser delito inafiançável e imprescritível (Constituição da República, artigo 5º, inciso XLII).




sábado, 30 de outubro de 2010

A dor da injustiça

Todos os dias aprendemos e ensinamos. Estamos todos matriculados na escola da vida. E nessa escola, com humildade, amadurecemos. Basta que prestemos atenção no outro, na sua dor e na sua capacidade de superação. E que prestemos atenção em nós mesmos e na necessidade de sermos justos.

Certa vez ouvi um depoimento de uma cozinheira acusada de ter furtado uma pulseira de ouro. Entre lágrimas, ela tentava convencer a patroa de que jamais em sua vida havia cometido esse delito. A patroa dizia que as lágrimas eram uma forma de esconder o furto. A funcionária, em prantos, dizia que era uma mulher de fé, religiosa. E a patroa, aos gritos, exigia que Deus fizesse, então, a pulseira aparecer na frente dela, se é que Ele existia.

A funcionária não mais insistiu. Na solidão da injustiça, entrou no quarto para arrumar as suas coisas. Lamentou a situação. Chorou a sua história de dor e necessidade.Enquanto ouvia explicações da patroa de que não a denunciaria desde que ela não a atormentasse na justiça, entrou a filha pedindo um sanduíche. Na mão esquerda, estava a reluzente pulseira. Foi neste momento que a funcionária chorou ainda mais. Como dói a injustiça! A patroa, rispidamente, disse a ela que parasse com o choro e voltasse ao trabalho. E, com autoridade, decidiu que fora apenas um mal entendido. Recomposta, a cozinheira agradeceu a confiança e disse que nada mais tinha a fazer naquela casa. A patroa insistiu que o melhor era esquecer tudo. E a funcionária sorridente agradeceu a Deus e lembrou a patroa de que Ele não desampara quem O ama.

Sem muito alarde, a cozinheira saiu e no dia seguinte arrumou emprego em um restaurante. Tudo aconteceu em uma missa. Muito triste, ela foi à Igreja como sempre e, na acolhida, o padre pediu que as pessoas se cumprimentassem e se apresentassem. A senhora ao lado disse que tinha um restaurante e ela disse que era cozinheira. A partir daí, uma nova vida começou.

Ela não foi à missa em busca do emprego nem querendo que Deus desse a ela a recompensa dos que são humilhados. Foi rezar. Foi chorar. Foi agradecer. Foi viver o mistério do Amor que é a Eucaristia. E, nesse mistério, encontrou Amor. Coincidência estar precisando de um emprego e a outra ter um emprego para oferecer? Pode ser. Como pode ser também providência. Deus cuida de nós, como diz em canção nossa irmã Salete Ferreira

Assim como ouvi esse testemunho em meu programa de rádio na Canção Nova, ouço tantos outros que servem de inspiração para que aprenda a ser justo e experimente a presença de Deus.
A história dessa mulher nos ensina a termos mais delicadeza em nossas relações. É triste sofrer a dor da injustiça, da incompreensão.

Todos nós erramos, mas se tomarmos um pouco de cuidado, nosso erro não será tão doloroso ao nosso irmão nem a nós mesmos. Ninguém faz mal ao outro impunemente.



sábado, 23 de outubro de 2010

As religiões e as políticas

(Tempo e Presença – outubro de 2010)

Em períodos eleitorais, além dos programas dos diferentes candidatos apresentando suas idéias e futuras ações, nosso país se vê às voltas com a problemática das crenças religiosas misturadas às posturas éticas e políticas dos candidatos e dos eleitores. Poucas pessoas fazem uma análise na qual a atenção às propostas políticas dos candidatos seja submetida ao bem comum e às condições reais de possibilidade histórica de suas propostas. Igualmente, poucos conseguem distinguir aquilo que tem a ver com suas escolhas pessoais de vida e as grandes linhas políticas necessárias a um país e, por conseguinte a um Estado multicultural e multireligioso como o nosso. Misturam-se os diferentes planos e predomina uma Babel onde cada um grita mais alto e ninguém se entende.

Escrevo sobre religiões e políticas apoiada não apenas na leitura de algumas publicações de jornais que representam as classes ricas detentoras do capital e da escuta dos discursos de alguns candidatos, mas também a partir de conversas com moradores de alguns bairros populares, todos eleitores.

Sabemos que em geral, para os ricos, as escolhas políticas têm a ver com a manutenção de seus interesses individuais. Para os pobres têm a ver com os benefícios que as políticas atuais lhes proporcionaram. Mas, de ambos os lados, é preciso não esquecer da emoção ou da relação pessoal com o candidato ou com o amigo do candidato ou com o pastor ou o padre ou o patrão que parecem orientar muitas das escolhas. Nesse nível a visão política parece reduzir-se a uma dimensão muito pequena e, muitas vezes, é a partir dela que fazemos julgamentos, escolhemos e tomamos posições algumas vezes acertadas, mas também muitas vezes equivocadas.

Impressionou-me nas últimas eleições de outubro a atuação de alguns grupos religiosos que foram e estão sendo capazes de espalhar confusão, fanatismo e insegurança em muitos eleitores. Aparecendo ao público como conhecedores da vontade de Deus e seus defensores ferrenhos atrevem-se a manipular a razão e a emoção popular em favor de seus próprios candidatos a diferentes cargos políticos. Fazendo apelo à vontade de Deus ou à Bíblia ou aos princípios cristãos de respeito à vida criaram uma espécie de superestrutura acima das decisões que cabem unicamente a cada indivíduo. Reduzem “a vida” a um conceito limitado as suas próprias posições. É como se pretendessem conhecer à vontade de Deus, do mistério que envolve e atravessa nossas vidas e se tornassem os guias de uma multidão de cegos. Aliás, eles adoram que o povo continue cego e dependente para que seu poder continue imperando.

Infelizmente ainda vivemos em estruturas culturais hierárquicas e antidemocráticas que atribuem ao clero das mais diferentes procedências um saber e um poder acima do comum dos mortais. Crêem-se representantes e enviados de Deus para orientar e decidir no lugar do povo. E, às vezes, de forma escandalosa, usam desse poder para manipular as consciências e indiretamente espalhar mentiras e ódio entre as pessoas. É hora de acordarmos para nossa condição comum de mortais! É hora de não só falar em democracia para os outros, mas de vivê-la nas instituições da religião! É hora de sair do obscurantismo e ser capaz de pensar a vida de forma mais abrangente.

O que está em questão para muitos não é a moralidade política em sentido amplo ou a justiça nas instituições sociais e políticas, mas questões que têm a ver com o foro interno das pessoas. Argumentos como: “essa candidata é muito religiosa” ou “essa parece que não crê em Deus” ou essa “é a favor da dignidade da família” ou “essa é a favor das uniões homossexuais e do aborto” ou “esse é um fervoroso cristão” ou “esse é 100% Jesus” parecem ter determinado o comportamento eleitoral de um bom número de pessoas. Digo bem, comportamento eleitoral, visto que a maioria das pessoas de nosso país, e neles sublinho o voto das camadas mais abastadas, está longe de assumir um comportamento político. Comportamento político é aquele a partir do qual estamos sendo continuamente educados a discutir o bem da polis, o bem da cidade, o bem do país, o bem dos mais necessitados, muitas vezes, para além de nossos interesses individuais ou grupais. Há uma confusão bastante grande entre uma dimensão de ética individual e a ética da cidade no sentido amplo das instituições públicas. Por exemplo, posso pessoalmente não ser a favor do casamento homossexual, ou do aborto, ou da liberação das drogas ou de outras tantas coisas que discutimos no dia a dia de nossa vida. Minha postura pode até ser justificada por princípios religiosos, mas não posso legislar a cidade a partir de minhas crenças religiosas cristãs individuais, sobretudo num país multireligioso que se afirma leigo por Constituição.

A cidade ou o país são maiores do que minhas crenças e minhas decisões pessoais, muito embora eu não abra mão delas. Aliás, este é um direito que me assiste, mas esse direito deve ser o direito de todas as pessoas nas suas diferentes situações e pertenças. Posso, por exemplo, por minha crença religiosa achar necessário me privar de carne de porco, mas não posso estabelecer como regra geral que todas as pessoas devam fazer o mesmo. Posso não trabalhar no sábado ou no domingo por convicção religiosa, mas não posso obrigar todas as pessoas que o façam. As leis religiosas não são leis do Estado, mas as Leis do Estado são para todos, visto que tocam a convivência geral de todos os grupos do país.

A cidade ou o país são sempre maiores porque neles se incluem pessoas diversas, ideologias e crenças plurais, assim como instituições de diferentes correntes políticas ou religiosas. Por isso, não posso impor ao todo as referências de minhas crenças privadas por melhores que sejam para mim, para minha família ou para minha comunidade. Não posso usá-las para fazer pressão eleitoral e política. Da mesma forma, o todo não pode impor que eu faça aquilo que violenta minhas convicções. Por exemplo, posso por convicção não querer o casamento homossexual ou a descriminalização e legalização do aborto. Ninguém pode me obrigar a assumi-los como conduta pessoal. Mas igualmente, não posso fazer uma campanha em nome de minha fé para que se aprove uma legislação apenas concorde com minhas convicções religiosas. É fundamental acolher a existência de problemas sociais ou problemas de saúde pública que independem diretamente das crenças religiosas. E diante desses problemas cabe ao Estado legislar em vista do bem da população. As instituições religiosas não podem impedir que o Estado cumpra suas obrigações em relação às pessoas que têm problemas diferentes dos meus. Não podem usar as crenças religiosas como caminhos válidos para todos os cidadãos e cidadãs e manipular as pessoas usando o nome de Deus. Esse é o grande equivoco que se nota em muitos grupos religiosos e particularmente em seus representantes. Com má fé ou ingenuidade doentia confundem o pessoal com o coletivo, misturam o foro interno com a orientação ética coletiva, mesclam sua religião pessoal com os interesses dos cidadãos de todo o país. E mais, muitas vezes colocam as convicções religiosas como formas acríticas e ahistóricas de vida e até impossibilitam qualquer diálogo à luz de uma hermenêutica histórica que leve em conta a complexidade de cada contexto e situação. É como se essas convicções existissem num mundo para além do nosso e que fossem ditadas por seu Deus de forma completamente ahistórica para todos e para sempre.

Viver num país e num Estado democrático e plural significa ter políticas e leis que favoreçam ao conjunto das cidadãs e dos cidadãos. E dentre elas, leis que garantem a convivência do conjunto. Por isso, mais uma vez, posso não aderir a algumas leis por convicções pessoais, mas, não posso negar o direito e o dever do Estado de promulgá-las em vista do bem comum.

Sem dúvida, as distinções são mais fáceis no plano teórico do que na prática cotidiana. Mas, o fato é que não estamos sendo educados através das diferentes instituições que criamos e dos meios de comunicação social a distinguir os diferentes níveis de nossas vivências, de nossas crenças e de nossas ideologias políticas ou religiosas. Reduzimos o mundo à nossa maneira de ver como se fôssemos os donos de uma verdade que deveria ser a mesma para todos. Manipulamos informações, mentimos, excluímos pessoas, desrespeitamos as leis sempre a favor de interesses dos grupos dominantes ou de nosso grupo.

O tempo em que o Cristianismo, através de seu modelo hierárquico imperial se confundia com os impérios desse mundo já faz parte do passado, muito embora ainda muitos busquem a continuidade desse modelo. Cada vez mais as instituições da religião não podem impor-se à consciência dos indivíduos e nem forçar o Estado a legislar a partir de posturas anacrônicas para os dias de hoje. Esta postura não é negação das religiões, mas o reconhecimento de seu novo lugar social num mundo plural.

Nesse sentido é urgente que as diferentes religiões e particularmente igrejas cristãs assumam a responsabilidade social de nosso tempo, ou seja, a responsabilidade de não repetir modelos de ingerência religiosa no Estado ou na vida dos fiéis sob a alegação de que seus funcionários são munidos de um saber acima do comum dos fiéis. Da mesma forma como um Estado democrático não pode interferir nas crenças e nas práticas religiosas de nenhuma instituição enquanto estas não estiverem violando a vida de seus membros, da mesma forma as igrejas ou as instituições religiosas não podem reduzir o Estado à suas próprias convicções.

Nessa linha também os políticos, os candidatos e os chefes de Estado não devem ceder aos pretensos donos da religião motivados pelo medo de perder votos ou perder prestígio político. Devem sim discutir com veemência e reafirmar a divisão e autonomia de poderes presentes num Estado laico. Esta é a responsabilidade dos governantes e dos legisladores. Fugir dela é trair o pluralismo do tecido social e desrespeitar os limites que se impõe a uma convivência social sadia que leva em conta as diferenças e é afirmada por nossa Carta Magna.

Do ponto de vista da tradição cristã não podemos esquecer que Jesus já pressentia essa poderosa tentação clerical no meio de seus discípulos e por isso insistia para que fossem servidores uns dos outros e para que não reproduzissem os mesmos modelos de competição e disputa que se verificam entre os poderosos desse mundo. Não apenas isso, Jesus intuía a importância de deixar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Numa interpretação contemporânea dessa tradição poderíamos dizer que César é o Estado, são os governos que devem governar em vista do bem de todos os cidadãos e cidadãs, e independentemente de suas crenças religiosas. O que é de Deus é nossa intimidade, nossa consciência pessoal, nossas crenças, nossas formas de culto, nossa diversidade respeitada, nossa necessidade de consolo, o cultivo das práticas de amor e ajuda mútua...

Cada um de nós tem de certa forma sua própria divindade e pode se equivocar identificando-a verdade que se quer impor para toda a coletividade. Cada um pode pensar que seu jeito de viver deve ser o jeito de todos. Estamos sempre sujeitos à tentação de Narciso olhando-se nas águas claras e apaixonando-se pelo reflexo de sua beleza. Analogicamente algumas instituições da religião crêem ter o melhor saber sobre os valores humanos e acabam afogando os fiéis nos dogmatismos narcisistas excludentes e destruidores da comum dignidade humana.

Há que vigiar para não cair na tentação da prepotência ou dos que sempre estão prontos a atirar a primeira pedra naquelas e naqueles que vivem de forma diferente da sua.

Políticas e religiões são nossa criação em vista de nosso bem, do bem da coletividade humana e das diversas formas de vida que conosco partilham do mesmo sopro vital. Por isso não podem ser absolutos e nem podem escravizar-nos a elas. O vento da liberdade sopra onde quer e ninguém pode ser seu proprietário exclusivo.



Ivone Gebara

PENSAMENTOS