por: Paula Cabrera
Do Diário do Grande ABC
Vereador mais votado do Brasil nas eleições do ano passado, o ex-secretário de Educação de São Paulo Gabriel Chalita (PSB) tem planos maiores para o futuro: está de olho em uma vaga no Senado.
Depois de trocar o PSDB pelo PSB por divergências com o rumo do governo paulista e o encerramento de projetos iniciados por ele na Educação, Chalita afirma ter superado o mau momento no tucanato e que, apesar de ter saído do partido, mantém relações estreitas com o ex-governador e hoje secretário de Desenvolvimento Geraldo Alckmin. O novo socialista - cotado para assumir vaga de candidato ao senado pelo novo partido - afirma que o mais importante na vida política é manter bons contatos e boas alianças, e confirma, sem constrangimento, que no próximo ano, deve apoiar Paulo Skaff (PSB) ou Ciro Comes (PSB) ao governo de São Paulo, mesmo que Alckmin, seu amigo pessoal, concorra ao cargo.
Sem meias-palavras, Chalita condena postura do governador José Serra - que segundo ele não respeita professores - e também dentro do partido alega que o tucano prejudica a sigla, que hoje, se vê representada apenas em sua figura. A demora na definição do candidato tucano, segundo ele, pode também prejudicar o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, outra opção na disputa presidencial ano que vem. O ex-secretário diz que a inércia de Serra sobre a definição de qual cargo concorrer em 2010 coloca todo o PSDB em espera. O possível apoio de Serra a Aloisio Nunes e a pouca importância a Alckmin são lembrados pelo vereador que defende o surgimento de novos rostos na política nacional como fator fundamental para mudança na postura parlamentar e para dar basta à corrupção do País.
DIÁRIO - O PSDB tentou mantê-lo a todo custo. Qual foi o fator que determinou sua saída?
GABRIEL CHALITA - Foi uma sequência de fatores. Na verdade, quando saí da Secretaria de Educação, resolvi que sairia da política. Acompanhei a campanha do (Geraldo) Alckmin à presidência, mas não estava com ânimo de ser candidato. Logo depois, vi desmonte de vários projetos educacionais; o primeiro foi o Escola da Família, a menina dos meus olhos, e que diminuiu muito a violência nas escolas. Ver aquilo destruído foi doloroso. Não entendi a postura da equipe do (José) Serra, tão contrária ao que construímos na Educação. Alckmin me pediu cinco vezes para ser candidato; só aceitei para poder ajudá-lo mesmo. Quando fui eleito, achei que haveria mais consideração, no sentido de repensar a política educacional. Achei que teria espaço dentro do partido. Queria ser mais livre, conversei com o diretório nacional, estadual, conversei com Alckmin e disse que não estava mais à vontade dentro do partido e, no PSB, fiquei impressionado.
DIÁRIO - Segundo a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) faltou diálogo com professores no início desta gestão. Você credita esse erro ao governo?
CHALITA - À postura do governador. Os secretários cometeram os mesmos erros e o Paulo Renato está no mesmo caminho. Grande parte da imprensa elogiou as provinhas dos professores, como se isso avaliasse mérito. Durante minha gestão, pagávamos bônus por mérito de ações dos professores em sala de aula, mas essas avaliações os ridicularizam, diminuem a categoria. Ninguém faz prova com outros profissionais do governo. Existe tom de desconfiança com osprofessores. Um discurso de que professor é vagabundo, não trabalha direito, que falta demais. Há professores que têm essa postura? Claro, assim como há políticos que também são assim. A abordagem da visão educacional deste governo foi errada. Vi o governador dizer que aluno tem de saber português e matemática, o resto é perfumaria. Esporte, história, geografia não são perfumarias. O olhar do PSDB de São Paulo sobre Educação foi contra tudo o que acredito.
DIÁRIO - O sr. levou a família para dentro da escola no fim de semana com o Escola da Família. As pessoas sentiram falta quando os aparelhos foram fechados...
CHALITA - Acabou tudo. Sei o que é a violência doméstica na periferia e na Grande São Paulo. Isso tem de ser combatido por meio de outra postura pedagógica e vi isso ruindo de uma hora para outra. Tentei conversar com o governador algumas vezes e ele não dava menor importância. Chegou um momento emque comecei a reclamar. Fui o mais votado e não tinha assento na diretoria nacional, estadual e nem municipal do partido. Nem líder eu era. Não havia respeito. Ele quis falar comigo quando já tinha decidido sair do partido. Digo de coração que a possível candidatura ao Senado me agrada, mas o que mais me levou a sair do partido foi encontrar com professores que acreditaram em mim e ouvir deles que estava tudo diferente do que havia proposto e eu não podia falar mal.
DIÁRIO - Como você avalia o cenário para as eleições de 2010?
CHALITA - Se a definição fosse agora, como quer Aécio (Neves - governador de Minas Gerais), ele teria tempo de percorrer o Brasil. Se for em março, como prega o Serra, Aécio não terá tempo de fazer alianças e será difícil alguém que não é conhecido ganhar eleição. Essa indefinição dele (Serra) destrói o PSDB, atrapalha Minas, partidos aliados e São Paulo, porque se ele não for candidato, quem será? Qual será o processo de escolha? Você tem um partido que governou o Brasil por oito anos, reduzido a uma única pessoa.
DIÁRIO - Se Serra for candidato à presidência, Alckmin pode disputar o governo do Estado. Qual será seu posicionamento neste cenário?
CHALITA - Apoiarei o candidato do PSB, não farei críticas ou inventarei mentiras sobre Alckmin. Acho que ele foi honesto, ótimo governador. Agora, vou construir bandeira no partido. Então as pessoas devem entender que respeitarei o Alckmin, mas temos de ser coerentes com a coligação feita.
DIÁRIO - Lula se fez no Grande ABC. O sr. avalia que o retorno do PT à região está à altura da contrapartida?
CHALITA - O Grande ABC é peculiar, porque tem realidades diferentes. O fato de essas cidades terem se desenvolvido, muito ligadas a dormitórios, porque as pessoas trabalham e pagam impostos em São Paulo, dificulta ação dos prefeitos. É complicado administrar cidades grandes, com recursos orçamentários pequenos. Acho que apesar das dificuldades, você tem avanços. Não dá para culpar um partido, dá para pensar em propostas para o futuro.
DIÁRIO - O sr. acredita que a mudança na personalidade jurídica do Consórcio Intermunicipal pode auxiliar na mudança de políticas públicas regionais?
CHALITA - Com certeza. você se fortalece, fala de outra forma. São todas as cidades do Grande ABC fazendo discussão, é outro peso político. E as cidades precisam dialogar mais. pois uma coisa é pleito eleitoral, onde cada um defende uma ideologia. Passou o processo eleitoral, é hora de administrar e construir políticas públicas comuns.
DIÁRIO - Por sua experiência à frente de Pasta do Estado, há propostas para o Grande ABC? Pretende ajudar candidatos da região ano que vem?
CHALITA - Acho importante trazer pessoas que são exemplos de história de vida, de superação. Para mim é uma honra poder estar ao lado de Romualdo Magro Júnior e Marcelinho Carioca. Entrar na política traz riscos. Você fica exposto, é cobrado, mas isso lhe traz maneiras de fazer o bem. Sempre que encontro Marcelinho, ele fala de projetos sociais que auxiliam crianças. Precisamos de gente nova na política. Eles ajudarão a construir políticas para a região. Conheço o Grande ABC, mas se sair candidato ao Senado e for eleito, vamos construir políticas conjuntas. O Senado fala de temas nacionais e estaduais, elegem-se prioridades, mas não se tem a mesma aplicação política de outras câmaras. Acho importante nos cercarmos de boas pessoas. Acredito muito em política feita dessa forma, com líderes que tiram parte de seu tempo para pensar no coletivo.
DIÁRIO - O sr. busca essa dinâmica nas pessoas que deve apoiar?
CHALITA - Sou muito sincero, só apoio candidato depois de conhecê-lo melhor. Demoramos muito para construir uma imagem e lutamos para que isso seja preservado. Acredito que Marcelinho vai empolgar uma geração em relação à política, porque ele tem garra, curiosidade e vontade de aprender. Romualdo conhece a região, nasceu aqui, pode ajudar muito a população. Pode ser uma ótima dobrada.
DIÁRIO - Dá para reverter a imagem que as pessoas têm hoje do Senado, depois de tantos escândalos?
CHALITA - Acho que haverá grande renovação, porque vai chegar muita gente com vontade de fazer o que é correto. Se defendêssemos o que está na Constituição, no Senado, não precisaríamos fazer muito mais. Porque lá se fala da dignidade e isso dá amplitude de ações. Aliás, se você seguir os princípios da dignidade da pessoa humana, não vai roubar, não vai colocar dinheiro na meia, na cueca. Precisamos construir uma geração de políticos que não seja tão intransigente, que não faça má versação do dinheiro público.
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