Thiago Chaves-Scarelli
Do UOL Notícias
Em São Paulo As revelações de intrigas internacionais e as reviravoltas jurídicas protagonizadas por Julian Assange nas últimas duas semanas transformaram o desconhecido nerd australiano em uma personalidade mundial de primeiro escalão, capaz de despertar tanto interesse quanto um ídolo pop do calibre de Justin Bieber, Shakira ou Lady Gaga.
De acordo com os dados do "Trendistic", uma ferramenta que permite avaliar o fluxo de um determinado termo entre todos as mensagens publicadas no Twitter, a palavra "Assange" começou a ganhar repercussão no último dia 28 de novembro, quando o site WikiLeaks iniciou o vazamento de milhares de documentos confidenciais da diplomacia norte-americana, para constrangimento de diversos líderes mundiais.
As referências ao criador do WikiLeaks adquirem ainda mais peso com a retomada das acusações de que Assange teria cometido violência sexual contra duas mulheres na Suécia. A promotoria sueca retomou o caso, que datava de agosto, e levou a Interpol a emitir um alerta internacional contra o australiano.
Gráfico do Trendistic mostra histórico do volume de tweets mencionando 'Assange' e 'Bieber'No dia 7 de dezembro, Assange se apresenta voluntariamente a uma delegacia em Londres e é preso -- e o interesse dos internautas dispara: o volume de tweets sobre Assange chegou a ser pelo menos cinco vezes maior do que aqueles sobre o ídolo pop Justin Bieber neste dia, segundo o "Trendistic".
O gráfico fornecido pela ferramenta mostra que em pelo menos outras duas outras ocasiões Bieber (considerado pela revista "Forbes" como a celebridade mais influente do Twitter em 2010) é superado por Assange no universo dos microblogs: quando a Justiça britânica admitiu a liberdade sob fiança -- congelada horas depois por um recurso da Suécia -- e quando ele finalmente deixou a prisão.
Destaque na imprensa
A repercussão nas redes sociais vem junto com a superexposição de Assange na mídia tradicional. Nas últimas semanas, o criador do WikiLeaks apareceu estampado em capas de revistas em vários países do mundo, acompanhado de um ar de misticismo.
Entre as publicações que espalharam o rosto de Assange nas bancas de jornais estão as norte-americanas "Time" e "Forbes", a alemã "Focus" e as indianas "Outlook" e "Frontline", além da "Rolling Stone", que prometeu ao australiano a capa da edição de janeiro de 2011.
A revista "Rolling Stone" foi além e escolheu Assange como o maior "roqueiro" do ano. "O rock informático de Assange será o que levaremos com alegria durante 2011. É o anjo exterminador de cada segredo do poder. É o homem que cai (da rede) na Terra", descreveu a publicação, por meio de nota oficial.
"Assange é um ícone como Che Guevara nas camisetas, como Mao para Andy Warhol. É o líder pop do fim da diplomacia e da segurança imperial. Assange é a verdadeira estrela do rock & roll dos anos 3000", acrescentou o comunicado.
A tendência descrita pela "Rolling Stone" parece confirmada pela votação popular promovida pela revista "Time": a votação dos leitores indicou Assange como a personalidade mais importante de 2010. Editorialmente, a revista acabou atribuindo a honraria a Mark Zuckerberg, criador do Facebook.
Inspirando ativismo virtual
Ao liderar abertamente a maior operação de vazamento de segredos de Estado da história, Assange ganhou muitos inimigos. Nos EUA, foi chamado de "terrorista" pelo deputado republicano Peter T. King, e o ex-candidato presidencial Mike Huckabee se juntou à fila dos que pedem sua morte.
Ao mesmo tempo, sua iniciativa em "defesa da transparência" mobilizou apoiadores dentro e fora da internet. Além das tradicionais passeatas e dos cartazes em sua defesa, Assange viu surgir uma manifestação anônima marcada por um caráter de "contra-ataque" aos inimigos da WikiLeaks.
Um grupo de centenas de internautas com quase nenhuma conexão entre si foi responsável por prejudicar o acesso aos sites de empresas como a Visa, Mastercard e PayPal -- três companhias financeiras que secaram o repasse de doações ao WikiLeaks em meio à polêmica desatada no início deste mês.
A ação do grupo "Anonymous" já foi chamada de "ciberativismo", "guerra virtual" e "terrorismo cibernético", mas há consenso de que se tratou de uma "vingança" que é inspirada por Assange, sem ser controlada por ele.
Nas palavras de um dos membros do grupo: "Nenhum de nós tem qualquer relação com Assange, não o conheço e nunca vou conhecer. Eu apenas aprecio o que ele está fazendo e dou apoio".
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