A ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS comemora em 2009 o seu Centenário. Foi fundada em 27 de novembro de 1909, por um médico e ensaísta carioca, Joaquim José de Carvalho. Seu primeiro Presidente foi Brasílio Machado. No discurso inaugural, tentou definir o que significa uma Academia de Letras:
"Somos uma porção de vocações, e porção pequena para que seja a sua coesão mais intensa e laboriosa, mas vocações que se apagam no objetivo comum, não disputando honrarias e monopólios, umas nutridas de vaidades, outras cheias de ridículo. Somos obscuros; antes de nós outros muitos o foram. Na parcela de trabalho que tomamos por quinhão, bem sabemos que o sulco aberto agora será talvez mal alinhado, mas enche-nos a esperança de que pelo lavor de outras mãos se corrija o defeito do traçado, e dela cresça a abundância da colheita, nesta terra de São Paulo, sempre tão nutriente e pródiga de extraordinárias riquezas. À obscuridade, que somos, sucederá, talvez, a benemerência que nos escusa e perdoa o atrevimento da iniciativa".
Sulco mal alinhado, mas sobrevivente. Toda instituição voltada ao culto gratuito da beleza enfrenta intempéries num Estado-Nação ainda emergente. Não é diversa a situação da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS. Ela já contou com apoio oficial, abrigou os intelectuais mais acatados e prestigiados de São Paulo. Presidiram-na pensadores do porte de Amadeu Amaral, Alcântara Machado, Altino Arantes, Aristeo Seixas, Pedro Antonio de Oliveira Ribeiro Neto, Rubens Teixeira Scavone e Ives Gandra da Silva Martins.
Foi na presidência Altino Arantes que ela conseguiu construir o edifício do Largo do Arouche, em terreno doado pelo Estado de São Paulo, ao tempo de Fernando Costa e por ordem de José Carlos de Macedo Soares. Ao lançamento de sua pedra fundamental, a 25 de janeiro de 1948, compareceu o Presidente da República Eurico Gaspar Dutra. O arquiteto Jacques Pilon, autor do projeto, dirigiu pessoalmente a construção e o prédio histórico foi inaugurado em 1953.
Desde então, subsiste de maneira discreta, mas não deixa de preservar sua missão: a cultura da língua e da literatura nacional. Integram-na quarenta acadêmicos dos mais variados matizes culturais. Sempre conta com bi-acadêmicos, ou seja, aqueles que também pertencem à gloriosa ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Hoje eles são representados por Lygia Fagundes Telles, João Scantimburgo e José Mindlin. Prosseguir a caminhada por dez décadas, alcançar a era do efêmero e do consumismo, despertar o interesse de escritores que aspiram integrá-la, manter-se fiel à sua vocação, é digno de registro.
O que explica a permanência de uma Academia de Letras no século XXI? Sempre gosto de citar Claude Lévy Strauss que, ao capitular à insistência com que seus amigos o disputavam para a Academia Francesa, deu uma explicação em seu discurso de posse: - Passei a vida a estudar ritos longevos, de formas de convívio que não conheci e nunca mais irei conhecer, pois perdidas na noite dos tempos. Por que não me interessar por um ritual que, só na minha Pátria, tem 300 anos?
No Brasil, a ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS completa seus 100 primeiros anos. Fato auspicioso e que, não fora a indigência em que mergulhadas as instituições que só se devotam à cultura, sem impregnar-se no marketing, na exploração da vaidade e do consumismo, estaria a merecer repercussão nacional. Ante a inviabilidade de se contratar uma empresa especializada para promover eventos compatíveis com a relevância do aniversário, a ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS se abre à criatividade e aceita visitas e sugestões de congêneres, de outras entidades parceiras ou co-irmãs.
Também está aberta a atender aos convites que lhe forem feitos, para mostrar-se e fazer-se conhecer, ou conhecer melhor, com vistas a um roteiro de eventos preordenado a não deixar passar em branco a passagem do Centenário. Durante todo o ano de 2009, está aberta a esse contato saudável, na certeza de que toda manifestação e intento aproximativo, na reiteração microscópica dos pequenos encontros, será a comemoração possível para o Centenário da Casa de Letras voltada à tutela do vernáculo e ao estímulo à leitura e à escrita em solo bandeirante.
José Renato Nalini - cadeira 40
Nenhum comentário:
Postar um comentário