"Os Educadores-sonhadores jamais desistem de suas sementes,mesmo que não germinem no tempo certo...Mesmo que pareçam frágeisl frente às intempéries...Mesmo que não sejam viçosas e que não exalem o perfume que se espera delas.O espírito de um meste nunca se deixa abater pelas dificuldades. Ao contrário, esses educadores entendem experiências difíceis com desafios a serem vencidos. Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com acolheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes"(Gabriel Chalita)

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sexta-feira, 10 de abril de 2009

Educação nas telas

No Rio de Janeiro, uma professora de escola pública protege um aluno perseguido ao mesmo tempo por uma quadrilha de traficantes de drogas e por policiais corruptos. Também no Rio, um projeto de ensino de música transforma a vida de jovens de comunidades carentes. Em Paris, um professor de língua francesa em uma escola da periferia, freqüentada por muitos filhos de imigrantes, se esforça para dar conta do programa e convencer os alunos da importância de se dedicar aos estudos. E, em Nova York, a diretora de uma escola católica suspeita que o padre da paróquia, também professor, cometeu assédio contra um aluno.

Essas quatro histórias trazem de volta aos cinemas o olhar sobre a educação, tanto no ensino formal quanto no informal, bem como sobre os educadores e seu papel na sociedade contemporânea. Os brasileiros Verônica, de Maurício Farias, e Contratempo, de Malu Mader e Mini Kerti, se juntam ao francês Entre os muros da escola, de Laurent Cantet, e ao norte-americano Dúvida, de John Patrick Shanley, nessa leva recente de filmes - alguns baseados em fatos verídicos, outros apenas inspirados neles - que contribuem para ampliar o debate social sobre temas educacionais, alcançando um público mais amplo do que o de profissionais da área.


Em Verônica, o filho de um contador que trabalha para o tráfico (Matheus de Sá) sobrevive ao massacre da família porque estava na escola. Como os pais não aparecem para buscá-lo, sua professora (Andréa Beltrão) se oferece para levá-lo até sua casa, em uma favela. Ao descobrir que os pais foram mortos e os traficantes procuram o menino, decide protegê-lo e se recusa também a entregá-lo às autoridades porque o pen drive que o pai confiou ao filho traz um vídeo com imagens que incriminam policiais ligados ao tráfico. Verônica não confia nem mesmo no ex-marido (Marco Ricca), policial que talvez mantenha relações com colegas corruptos.


Farias diz que participou de duas sessões promovidas exclusivamente para profissionais da educação - uma em São Paulo (que também reuniu alunos), realizada pelo Sistema Anglo de Ensino, um dos patrocinadores do filme, e outra no Rio de Janeiro, no Clube do Professor do Unibanco Arteplex. "Foi maravilhoso, espetacular", lembra o cineasta, que dirigiu também O coronel e o lobisomem (2005) e A grande família - O filme (2007). "Vi cenas incríveis, professoras chorando. A identificação foi muito forte e o filme as tocou bastante. Não tínhamos a preo­cupação de abordar isso (as condições de trabalho do professor) em primeiro plano, mas a realidade é muito forte."


A detalhada caracterização da personagem e a interpretação de Andréa Beltrão ajudam, de fato, a provocar identificação imediata com todo espectador que conheça, ainda que superficialmente, o cotidiano de milhares de professoras da Educação Básica na rede pública do país. Verônica trabalha muito, em condições às vezes impróprias, e se esvai física e mentalmente por causa disso; leva tarefas para casa, o que aumenta o desgaste e contribui para que negligencie a vida pessoal; o salário permite que sobreviva dignamente, mas não muito mais do que isso - a personagem mora em uma quitinete, em bairro popular do Rio, e não tem acesso a canais de TV paga, o que deixa o filho do contador estupefato, pois ele mora na favela e tem ("TV a gato", como bem observa Verônica).


O cenário social de Verônica é muito semelhante ao do documentário Contratempo, que acompanha a rotina de jovens que participavam, em 2006, do projeto Villa-Lobinhos. Recrutados em favelas do Rio de Janeiro, eles freqüentavam aulas de música e faziam apresentações, promovidas também no âmbito de outros grupos dos quais participavam. Alguns deles, por exemplo, vão tocar em um concerto beneficente em Nova York. Com isso, ganham perspectiva de futuro que, sem a dedicação à música, dificilmente teriam. Há, no entanto, quem fique pelo caminho, e ao menos uma das histórias - a do rapaz que abre o filme, cujo desfecho é revelado apenas no final - é especialmente dramática ao ilustrar o que a sociedade brasileira reserva a milhares de jovens.


Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes do ano passado e candidato ao Oscar-2009 de melhor filme estrangeiro, Entre os muros da escola se inspira na "tragicomédia ordinária de um professor de francês", o romance Entre les murs, com lançamento no Brasil previsto para março, simultaneamente à chegada do filme ao país. O autor, François Bégaudeau, se baseou em suas próprias experiências em uma escola na periferia de Paris para "divisar o discurso por meio dos fatos, as idéias pelos gestos" - e, assim, "apenas documentar o trabalho cotidiano" de um educador hoje na França.

Diretor de A agenda (2001), que também lança um olhar semidocumental sobre o mundo do trabalho (e a perda de identidade representada pelo desemprego), Cantet recrutou o próprio Bégaudeau para interpretar o papel do professor e adotou o princípio de observar a escola como uma espécie de câmera de eco da sociedade - tudo o que ocorre ali, entre muros, é apenas reverberação do que acontece no entorno. O extraordinário trabalho com os adolescentes que interpretam os alunos, todos usando seus nomes verdadeiros, faz o espectador acreditar que havia câmeras ocultas dentro da sala de aula e em outros ambientes da escola.


Entre os muros da escola já se configura, tanto pelos métodos de realização quanto pelo diagnóstico da escola como instituição em crise profunda, como um dos grandes filmes em torno da relação ensino-aprendizagem e da responsabilidade social que se atribui ao trabalho dos educadores. Esses temas aparecem também em Dúvida, baseado em peça do próprio Shanley ambientada em 1964. Para educadores, o interesse se concentra na descrição da gestão autoritária de uma escola religiosa por uma freira (Meryl Streep) que procura controlar tudo à sua volta e nos dilemas de uma jovem professora (Amy Adams) pressionada a denunciar um padre (Philip Seymour Hoffman).



Sérgio Rizzo


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