Um incêndio destruiu uma das cenas que mais me intrigavam na cidade de São Paulo. Distintos senhores e senhoras, vestidos com requinte e sobriedade, saindo de concertos de música erudita, se misturavam na rua com a exuberância colorida dos vestidos, justíssimos e escassos, de mulheres de programas. A sala de concertos do Cultura Artística, dizimada pelas chamas, era separada apenas por uma parede do Quilt, um dos mais famosos inferninhos da cidade, movido ao " bate-estaca" da música eletrônica --no final de semana passada, um grupo de 60 fotógrafos fez um ensaio sobre a praça Roosevelt, no qual aparecem as imagens do inferninho.
Ali vai se desenhar um embate capaz de medir até onde uma cidade consegue se revitalizar, usando a cultura como alavanca. Está ganhando corpo um movimento, apoiado pelo prefeito Gilberto Kassab, para fazer dali o espaço de entrada para a Cultura Artística, que ficaria em frente a uma nova praça Roosevelt, uma área revitalizada pelos teatros. A ideia é que a praça seja uma extensão de todos os teatros.
Nenhum lugar é, hoje, tão efervescente na cidade de São Paulo do que o chamado Baixo Augusta, do qual a praça Roosevelt faz parte. É um lugar que mostra como a população muda o significado de uma cidade, dando vida ao que parecia irremediavelmente morto. O que está aqui é muito mais do que uma questão provinciana --mas o símbolo da capacidade de fazer com que a educação e cultura moldem uma comunidade.
Por enquanto, porém, está tudo no papel. Inclusive a tão esperada reforma da praça. O inferninho está onde sempre esteve, vai muito bem, obrigado, com seus fiéis clientes --e o quem ardeu nas chamas foi o requinte da música erudita.
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