Vereador mais votado do país em 2008 e recém-filiado ao PSB, o ex-tucano Gabriel Chalita se virou contra seu antigo partido. Em entrevista ao Vermelho, na sexta-feira (6), durante o 12º Congresso do PCdoB, em São Paulo, o parlamentar acusou o governador José Serra (PSDB-SP) de esvaziar a “democracia partidária”. E disparou contra o PSDB: “Quando você está num partido em que você não pode falar em nenhuma instância partidária, está na hora de ir embora — senão você trai o povo”.
"Foi melhor deixar o partido", diz Chalita
Ex-secretário estadual de Educação durante o governo de Geraldo Alckmin (2001-2006), Chalita afirma que a gestão Serra abandonou princípios “humanistas” ao lidar com a área. “O que ficou foi uma visão muito tecnicista, muito distante do povo.”
Declarando-se “emocionado” com o discurso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabara de pronunciar no Congresso do PCdoB, Chalita saudou também o “grupo de partidos que apoiam uma visão muito mais humana de política”. Caso, segundo ele, das principais legendas de esquerda no Brasil — PT, PSB, PCdoB e PDT.
Confira abaixo trechos da entrevista
Dentro do PSB, houve alguma resistência à sua filiação ou você foi bem acolhido?
Fui muito bem acolhido, sim, e está sendo muito legal. O PSB é um partido que tem uma preocupação imensa com essa questão humana, e eu também tenho bandeiras que defendi a minha vida toda.
Fico emocionado de ver o presidente Lula falando tanto em educação, no quanto ele investiu, no que é o ProUni (Programa Universidade para Todos). Encontrei aqui no PCdoB várias pessoas que fizeram o Escola da Família, que é um projeto que veio antes do ProUni e que ajudava a pessoa a ter uma formação universitária.
Essa é a linha daquilo que defende o PCdoB, o PDT, o PSB, o PT. É também a linha que defendia uma parte do PSDB quando eu estava lá, uma ala mais à esquerda. É a visão mais humanista, essa preocupação com o ser humano.
O legado do Lula é um legado de muita emoção, de respeito às pessoas, de cada pessoa individualmente. Veja quando ele fala do Bolsa Família ou de um trabalhador, Eu estava no evento com os catadores de materiais reciclados e via com que emoção o Lula abraçava as pessoas. Acredito na política como exercício assim — de gente que gosta de gente, de gente que respeita gente e trabalha para que essa gente tenha melhores condições de vida.
O que houve com esse grupo que você chama de “ala mais à esquerda” do PSDB? Ficou isolada, sem espaço no partido? O Serra “limpou a área”?
Eu acho que sim. O que ficou foi uma visão muito tecnicista, muito distante do povo. Vejo na minha área — que é a área da Educação — que a gente abria as escolas para a comunidade, aquela população toda nas escolas. Hoje é uma linha “provinha”, “provinha”, “provinha”, “provinha”.
Você vai destruindo essa capacidade de criativa. O professor — um trabalhador que já sofre tanto — é tratado de uma forma inadequada. É tão complexa essa relação de professor e aluno numa sala de aula. O professor tem de ser acolhido, valorizado. E, cada vez mais, vende-se uma imagem horrível do professor.
Agora, para aumentar salário, tem que fazer uma “provinha”. Por que só o professor tem que fazer uma provinha? Por que político não tem que fazer “provinha” também? Então é uma visão muito preconceituosa, depreciativa e incorreta sob ponto de vista cognitivo. Não é por ir bem numa prova que uma pessoa será um bom professor na sala de aula. É uma visão equivocada.
Se a gente pegar o conceito do que era uma social-democracia, deveria estar muito mais à esquerda, ter uma visão muito mais ligada ao dinamismo social. Mas não é isso o que a gente enxerga. Eu estou muito feliz de estar agora nesse grupo de partidos que apoia uma visão muito mais humana de política e vou continuar trabalhando nessa direção.
Nas eleições municipais de 2008, você teve 104 mil votos e foi o vereador mais votado do Brasil. Você diz que, apesar disso, Serra nunca fez questão de recebê-lo. Não havia mesmo nenhuma disposição para o diálogo?
Eu começa a incomodar com minhas críticas à política educacional que eles desenvolviam, e infelizmente faltou também democracia partidária. Num congresso como este do PCdoB, pode haver discordâncias — uma pessoa pensa de certo lado, outra pessoa pensa de jeito diferente. Mas as pessoas têm voz. Você pode dizer aquilo que você pensa e ser ouvido. Os outros escutam, e há diálogo.
Agora, quando você está num partido em que você não pode falar em nenhuma instância partidária, está na hora de ir embora — senão você trai o povo. Foi melhor deixar o partido do que o povo.
André Cintra
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