Luiz Weis
Deu no Globo que o ministro da Comunicação do governo, Franklin Martins, disse na reunião ministerial da segunda-feira, a propósito da crise no Senado, que “a oposição se alimenta da imprensa” e “a imprensa se alimenta da oposição”.
Mas aparentemente não veio da oposição, e sim de um órgão do governo, o prato mais indigesto servido pela imprensa ao presidente do Senado, José Sarney, desde que, em 10 de junho, o Estado destampou o escândalo dos atos secretos do diretor-geral da casa, Agaciel Maia, nomeado para o cargo em 1995 pelo próprio Sarney.
Nesse mês e pico, o jornal publicou sucessivas matérias sobre as nomeações sigilosas (e uma exoneração) de parentes e afilhados políticos do senador. As revelações formam um robusto corpo de indícios de que, para ele, os atos de Agaciel não tinham nada de secreto, embora a comissão que examinou as denúncias não tenha apontado o envolvimento de qualquer senador com o vexame.
Eis que nesta quinta-feira, 16, o mesmo Estado traz uma história que chega mais perto do que qualquer outra de provar o conluio de Sarney com Agaciel para beneficiar membros do seu clã.
Segundo os repórteres Rodrigo Rangel e Leandro Colon, no curso da Operação Boi Barrica da Polícia Federal – que acabou indiciando Fernando Sarney, o filho que toca a rede de comunicação da família, por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha –, grampos telefônicos autorizados flagraram um caso de tráfico de influência do qual não se imagina como o senador possa se desvencilhar.
Entre março e abril do ano passado, Maria Beatriz, filha de Fernando, trocou telefonemas com o pai sobre a nomeação do namorado, Henrique Bernardes, para um cargo que ficara vago quando o meio-irmão dela, que o ocupava, se demitiu.
”O próprio Sarney aparece nas conversas”, informa a reportagem. Ele “recebeu orientação para que enviasse o currículo de Bernardes a Agaciel. Deu certo. Em 10 de abril [16 dias depois que o meio-irmão foi exonerado] saiu a nomeação de Bernardes – por meio de um ato secreto assinado por Agaciel”.
Não está claro se foi o filho, a neta ou uma terceira pessoa quem “orientou” Sarney a encaminhar o currículo.
Mais devastador do que isso só uma gravação do senador acertando os ponteiros com o diretor para garantir o bem-bom do namorado da neta.
Vindo de onde tenha vindo, o vazamento, em suma, leva jeito de ser a volta do parafuso que faltava para atarraxar Sarney aos atos secretos.
Em tempo: dependendo de como ela o faz – e isso precisa ser enfatizado ao máximo – nada de errado no fato de a imprensa se alimentar da oposição para incomodar os poderosos de turno. No mundo inteiro, é o que permite ao jornalismo independente investigar os podres dos governos. Para servi-los chega a imprensa chapa-branca.
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