"Os Educadores-sonhadores jamais desistem de suas sementes,mesmo que não germinem no tempo certo...Mesmo que pareçam frágeisl frente às intempéries...Mesmo que não sejam viçosas e que não exalem o perfume que se espera delas.O espírito de um meste nunca se deixa abater pelas dificuldades. Ao contrário, esses educadores entendem experiências difíceis com desafios a serem vencidos. Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com acolheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes"(Gabriel Chalita)

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sábado, 17 de outubro de 2009

A literatura perpassa a pequenez humana...

A literatura perpassa a pequenez humana...


Por Gabriel Chalita

Para o final de mais uma semana, um pouco de literatura e um convite à reflexão. A literatura é a história dos sentimentos. Ler é sempre muito prazeroso, desafiador, instigante e revelador. Muitas das angústias dos homens permanecem, ao longo dos tempos, independente do progresso que a inteligência humana é capaz de realizar. Relendo o mais célebre e notável poema em língua portuguesa, Os Lusíadas, de Camões , logo no Primeiro Canto, fui desafiado a uma reflexão: a pequenez humana diante das infindáveis buscas que este mesmo homem empreende.









“No mar tanta tormenta e tanto dano

Tantas vezes a morte apercebida

Na terra tanta guerra, tanto engano,

Tanta necessidade aborrecida

Onde pode acolher-se um fraco humano

Onde terá segura a curta vida,

Que não se arme e se indigne o céu sereno

Contra um bicho da terra tão pequeno?”





O desvendar da natureza humana povoou a mente dos filósofos, dando origem a diversas teorias. Mas, ainda no Século XXI, essa questão inquieta o ser humano, que parece, muitas vezes, mais se distanciar da essência da resposta do que caminhar em sua direção.





Intrigante a atualidade da constatação do poeta português do século XVI em intertextualidade com Drummond, cujo poema a seguir traça o mesmo cenário da trajetória humana, em sua “dificílima e dangerosíssima viagem de si a si mesmo” e a pequenez humana:







O homem, bicho da Terra tão pequeno

chateia-se na Terra

lugar de muita miséria e pouca diversão,

faz um foguete, uma cápsula, um módulo

toca para a Lua

desce cauteloso na Lua

pisa na Lua

planta bandeirola na Lua

experimenta a Lua

coloniza a Lua

civiliza a Lua

humaniza a Lua



Lua humanizada: tão igual à Terra.

O homem chateia-se na Lua.



Vamos para Marte – ordena a suas máquinas.

Elas obedecem, o homem desce em Marte

pisa em Marte

experimenta

coloniza

civiliza

humaniza Marte com engenho e arte.



Marte humanizado, que lugar quadrado.

Vamos a outra parte?



Claro – diz o engenho

sofisticado e dócil.

Vamos a Vênus.

O homem põe o pé em Vênus,

vê o visto – é isto?

idem

idem

idem.



O homem funde a cuca se não for a Júpiter

proclamar justiça junto com injustiça

repetir a fossa

repetir o inquieto

repetitório.



Outros planetas restam para outras colônias.

O espaço todo vira Terra-a-terra.

O homem chega ao Sol ou dá uma volta

só para tever?

Não-vê que ele inventa

roupa insiderável de viver no Sol.

Põe o pé e:

mas que chato é o Sol, falso touro

espanhol domado.



Restam outros sistemas fora

do solar a col-

onizar.

Ao acabarem todos

só resta ao homem

(estará equipado?)

a dificílima dangerosíssima viagem

de si a si mesmo:

pôr o pé no chão

do seu coração

experimentar

colonizar

civilizar

humanizar

o homem

descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas

a perene, insuspeitada alegria

de con-viver. ( Carlos Drummond de Andrade)
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