O conhecimento fica registrado na memória. O exemplo fica registrado no coração. Esta é a síntese da pedagogia perfeita: ensinar dando exemplos, ensinando pelo exemplo. Pela atitude o professor ensina posicionamento diante da vida, apóia desejos, estimula sonhos. E o mais poderoso instrumento da atitude é a palavra. É pela palavra que se constrói e se destrói. A palavra é a arma capaz de reduzir o outro a mero espectador da história ou transformá-lo em protagonista. A palavra incentiva ou diminui; alimenta os sonhos ou destrói esperanças; faz viver ou faz morrer.
Quando a palavra é dita, não há como impedir os seus efeitos. É como a sabedoria chinesa prega: "Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a oportunidade perdida e a palavra pronunciada". A palavra entra na mente dos ouvintes e, se destrói sentimentos puros que o habitavam, daí vem o preconceito. De uma palavra mal empregada pelo pai ou pela mãe, pelo diretor ou professor, por algum amigo que tem alguma importância e por isso o que ele diz deve ser levado a sério. No reino da infância, as defesas são menores, e por isso o poder de destruição da palavra é muito maior. Isto porque a criança ainda não conseguiu desenvolver defesas. Às vezes essa força destruidora não vem de uma reprimenda ou de uma agressão verbal, mas da sutileza de um ensinamento inadequado. Uma piada preconceituosa, um comentário infeliz em que pais comparam seus filhos, um discurso incorreto frente a uma criança que sente que não tem determinado talento. É necessária muita delicadeza para não ferir os sonhos alheios. É necessário muito cuidado para não traumatizar um ser em formação.
De outro lado a palavra constrói. Pequenas reflexões, se possível recheadas de exemplos, ajudam muito mais do que longos e cansativos conselhos. Cecília Meirelles tem uma frase exemplar: "Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta; não há ninguém que explique e ninguém que não entenda." A sutileza é poderosa. Palavras de amor se revestem de impressionante poder, quando são sinceras, quando são, de fato, palavras de amor. Impulsionam a derrubar o que oprime e a perseguir o que vier pela frente. Palavras de amor comovem, movem; palavras de amor transformam, formam; palavras de amor habilitam, habitam. E por que então economizar nessa arte de amar? Por que viver das sombras, se a luz é tão mais significativa? Por que sentir frio se há uma lareira por perto? Basta apenas um pequeno esforço de acendê-la. É por isso que se diz que a felicidade está muito mais próxima do que se possa imaginar. Infelizmente há pessoas que têm preguiça de ser felizes, e assim deixam de cultivar momentos simples, porém intensos.
Utilizar o poder da palavra para realizar o milagre da transformação. A educação decorre de um movimento interno, influenciado por ambientes externos. O aluno instigado externamente se movimenta internamente, e assim se transforma. É assim desde Sócrates, que comparava a educação à arte da parturição. A criança está pronta lá dentro, mas precisa de um impulso para que nasça. Sozinho fica muito mais difícil ou quase impossível. O professor precisa tomar consciência de que as idéias dos alunos estão ali, esperando alguém, cujo poder de conhecimento e cuja experiência sejam capazes de ajudá-los nessa transformação. E com gentileza fica muito mais fácil porque o ser humano torna-se dócil frente à gentileza. Suas resistências caem e seus medos desaparecem, porque do outro lado há alguém que decididamente só quer o bem.
A atitude mais transformadora é a atitude gentil, que alimenta e realimenta a esperança pelo poder da palavra, e impulsionam para o sonho. Cada mulher ou homem tocado pela gentileza seja um pouco melhor. E, sendo um pouco melhor, ajuda a construir um mundo melhor. Mesmo que esse mundo seja apenas a sua casa, a sua escola ou o círculo de pessoas que estão ao lado.
Na poesia, mais uma vez, a inspiração para a vida. Testemunha Adélia Prado: "Uma ocasião, meu pai pintou a casa toda de alaranjado brilhante. Por muito tempo moramos numa casa, como ele mesmo dizia, constantemente amanhecendo". A tranqüila confirmação poética é de Cora Coralina: "Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina."
Querer mudar o mundo sem mudar a esquina é coisa de gente que não entende da força do primeiro gesto.
Artigo publicado na Revista Profissão Mestre, edição de ferevereiro de 2008
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