Essa frase simples, mas com um valor semântico absurdo, foi utilizada em “outdoors” na propaganda de um produto de beleza francês muito famoso e que nos remete a compararmos as pessoas com uma uva: linda, nova, “esticadinha” e que todos querem, mas sempre com o alerta “uva passa”, persuadindo, assim, os compradores a fazerem uso do produto para que não fiquem como uma uva-passa, que dispensa apresentações. Por muitas eras, o modelo de beleza consistia em estruturas ósseas muito fortes em corpos muito pesados e repletos de contornos: eram épocas em que reinavam como belas as “pessoas” grandes e gordas. Todas aquelas mulheres que, como dizem até hoje os muçulmanos com um sorriso de satisfação, “enchem uma cama”. No século XX, porém, o rompimento total com esse modelo aconteceu por causa do materialismo voraz que tomou conta de tudo e de todos. Desde o início da industrialização e do sistema capitalista, tudo se tornou uma mercadoria. Com o passar do tempo, além daquela mercadoria que o trabalhador vendia - a sua força de trabalho, a mão-de-obra humana – muitas pessoas que se enquadravam no então modelo ideal de beleza passaram a vender a sua imagem e, através e graças a essa imagem (linguagem), passaram também a vender de tudo que fizesse com que as outras pessoas acreditassem que seu “consumo” as tornariam também belas, as colocariam dentro desse padrão. Até hoje é assim: esperando ficar igual à garota propaganda, por exemplo, as consumidoras compram o que podem e o que não podem; o mesmo acontece com os homens, pois há muito a vaidade deixou de ser uma característica predominantemente feminina. O Brasil tornou-se um dos principais países em quantidade de cirurgias plásticas. Enquanto a França exporta perfumes, o Brail exporta “corpos”. Recentemente, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos comprovou que apenas 2% das pessoas se acham bonitas. Um dado assustador, pois se 98% das pessoas se acham feias de alguma forma, o objeto de desejo estabelecido não está sendo alcançado. O que as pessoas precisam perceber é que cada uma possui sua beleza particular e principalmente que a beleza mais importante está sendo esquecida: a beleza interior. Se a pessoa estiver feliz, de bem consigo mesma, as outras também a acharão bonita exteriormente, pois a beleza interior é fundamental e se reflete no físico de quem a tem. Por mais que faça uma cirugia reparadora ou dezenas de sessões estéticas em busca da beleza, se a pessoa não mudar seu estado de espírito, ela continuará se achando feia ou fora do padrão e todos a sua volta certamente terão a mesma opinião. Já as pessoas que são extremamente bonitas interiormente são admiradas por muitas outras. De que adianta uma pessoa ser fisicamente linda, se a sua maneira de ser, de agir, de tratar os outros, de se expressar não são de agrado daqueles que com ela convivem ? De nada adianta, pois essa pessoa estará constantemente sozinha mesmo sendo uma uva. O contrário disso também vale: uma boa conversa, uma manifestação de sabedoria, um sorriso, uma palavra agradável e confortante muitas vezes fazem com que o feio pareça bonito e esteja sempre rodeado de outras pessoas. O materialismo radical da atualidade, que exige a aparência ideal nas atividades profissionais e pessoais, leva as pessoas a conjugar apenas um verbo: ter. No intuito de querer ter, o ser humano da atualidade está se esquecendo do mais importante: SER. Ser bonita é algo bom e necessário, mas não é o essencial. Ser inteligente, ser sociável, ser ética, ser generosa, ser livre, ser feliz! Essas são as características da verdadeira beleza humana. Afinal, de que adianta ser uma uva linda e cheirosa por fora, mas amarga e estragada por dentro? É preferível ser uma uva –passa docinha.
Prof.William Sanches
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