"Os Educadores-sonhadores jamais desistem de suas sementes,mesmo que não germinem no tempo certo...Mesmo que pareçam frágeisl frente às intempéries...Mesmo que não sejam viçosas e que não exalem o perfume que se espera delas.O espírito de um meste nunca se deixa abater pelas dificuldades. Ao contrário, esses educadores entendem experiências difíceis com desafios a serem vencidos. Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com acolheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes"(Gabriel Chalita)

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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O desafio turco

Quanto mais cautelosa tiver sido a reação dos países árabes — reunidos ontem no Cairo — diante da postura de Recep Erdogan em seu confronto com Israel, mais consequente ela promete ser. Como disse o primeiro-ministro turco, antes de embarcar na segunda-feira para o Cairo, Israel não atua só com crueldade na Faixa de Gaza, mas também com a irresponsabilidade de criança mimada.
Só faltou dizer quem mima a criança, mas não seria necessário. Durante muito tempo, o acalanto a Israel foi quase natural: o Ocidente guardava uma mauvaise conscience pelo antissemitismo histórico, agravado pelo massacre executado pelos nazistas nos campos de extermínio.

Hoje, essa amabilidade com o Estado de Israel passou a ser incentivo a uma guerra que pode ampliar-se para além do Mediterrâneo. Erdogan é conciso, ao dizer que Israel não percebeu que o mundo mudou, e que cabe a Tel Aviv encontrar uma forma de conviver bem com seus vizinhos e com o resto da Humanidade.
A Turquia é uma nação chave na geopolítica do Mediterrâneo. É um país muçulmano e europeu e se define como laico. Erdogan não é árabe. Ele acha conveniente que todos os países do Oriente Médio também se identifiquem como estados laicos, o que favoreceria o entendimento mundial. Em razão de sua atitude, começa a crescer como necessária liderança no Oriente Médio. Ele tem razão, ao declarar que, em maio do ano passado, o governo de Tel Aviv violou as regras internacionais, ao atacar um barco desarmado, de bandeira turca, em águas de livre navegação, com ajuda humanitária a um povo sitiado e constantemente agredido. No ataque, morreram nove cidadãos turcos.
Falando do Cairo, o nosso embaixador no Egito, Cesário de Melo Antonio, foi ao ponto: começa a concertar-se uma tríplice aliança contra o governo de ultradireita de Israel, composta da Turquia, do Egito e do Irã. Ele, que foi embaixador em Teerã e em Ancara, antes de ser removido para o Cairo, conhece o ânimo dos três povos, mais do que o ânimo dos governos.
Poderia ter citado a Síria, mas não o fez. E não se pode esquecer o poder militar e político do Hizbollah no Líbano. Se espicharmos o horizonte histórico um pouco além de nossa visão, alcançaremos o momento em que, livres da presença militar norte-americana, o Iraque, o Afeganistão e, possivelmente, o Paquistão, irão somar-se à poderosa coalizão anti-Israel na região.
Erdogan anunciou que irá patrulhar o Mediterrâneo, a fim de garantir a livre navegação no grande mar interior. A Rússia mantém uma base naval em porto sírio, o de Tartus, e isso explica por que a Otan — de que a Turquia faz parte, é bom registrar — ainda é reticente em atender ao desejo francês de intervenção contra Assad. Esse jogo estratégico coincide com o esperado reconhecimento, pela ONU, e ainda este mês, do Estado Palestino, dentro das fronteiras anteriores a 1967.
O Brasil, pelo que sabemos, não está ausente das preocupações com o Mediterrâneo. É interessante notar que, em 11 de setembro, o chanceler brasileiro Antonio Patriota se encontrava em Istambul e, ali, condenava o excesso de poder militar no mundo. A presidente Dilma Rousseff visitará a Turquia no mês que vem.

Israel se encontra diante da grande oportunidade de negociar sua sobrevivência com os países árabes e com o mundo. Isso reclamará a difícil renúncia à presunção de superioridade — que anima parte de seu Exército, de seus intelectuais e políticos — e a disposição de conviver em paz com os palestinos. Os Estados Unidos, que o protegem com seu poder bélico e econômico, se encontram em situação difícil.
O New York Times, em sua edição de domingo, publicou importante artigo do príncipe saudita Turki A-Faiçal, ex-embaixador nos Estados Unidos, ex-chefe dos serviços de segurança de seu país e conhecido estudioso dos problemas muçulmanos. Al-Faiçal deu a seu texto o título forte: Veto a State, lose an ally. Se os Estados Unidos usarem o poder de veto ao reconhecimento do Estado da Palestina, correrão o risco de perder o seu maior aliado no Oriente Médio: a Arábia Saudita, e, provavelmente, com ela, o único suprimento confiável de petróleo da região.
Os analistas de política internacional não percebem que, não obstante a força diplomática e militar de Washington, há um ponto que une todos os muçulmanos, além de outros povos: o apoio aos palestinos. As relações mais ou menos normais entre Israel e alguns países muçulmanos foram determinadas pela conjuntura histórica, que os fizeram ocasionalmente aliados dos Estados Unidos, mas essa situação está mudando, e rapidamente.
Israel venceu as guerras contra os árabes em certo momento histórico. Enfrentou adversários que haviam saído debilitados da guerra, sem ajuda estrangeira e sem exércitos próprios bem armados e adestrados. Hoje, a Turquia, por si só, tem poder bélico muito superior ao de Israel, embora tenha a bomba atômica, e poder equilibrado na aviação militar. Na Marinha de Guerra é acachapante a superioridade turca, bem como no número de combatentes. A Turquia tem uma população dez vezes superior à de Israel.
Ninguém quer a guerra, mas os que desdenham a paz talvez pensem que sua invencibilidade é eterna. Não é o que vimos no Vietnã e, ao que tudo indica, veremos no Iraque e no Afeganistão.
Os Estados Unidos anunciaram que vetarão o reconhecimento do Estado Palestino. Ao que parece, não levam em conta a advertência de Faiçal. O fato é que, com o veto, se não recuarem dessa decisão anunciada, não perderão apenas a Arábia Saudita – mas o pouco que lhes resta do respeito do mundo.
E para completar o quadro, quando fechávamos ontem este artigo, alvos norte-americanos, da Otan e do governo títere afegão, se encontravam sob o continuado ataque dos combatentes talibãs.






Mauro Santayana, do Jornal do Brasil

PENSAMENTOS