"Os Educadores-sonhadores jamais desistem de suas sementes,mesmo que não germinem no tempo certo...Mesmo que pareçam frágeisl frente às intempéries...Mesmo que não sejam viçosas e que não exalem o perfume que se espera delas.O espírito de um meste nunca se deixa abater pelas dificuldades. Ao contrário, esses educadores entendem experiências difíceis com desafios a serem vencidos. Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com acolheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes"(Gabriel Chalita)

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segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Sobre Deus...por Pe. Fábio de Melo

O que podemos esperar de Deus? O que nos diz a religião cristã a respeito da intervenção divina na vida humana? Como é que podemos pensar a dinâmica dessa relação?Ando pensando que o desafio de todas as relações esteja justamente em não confundirmos os papéis. Nenhuma relação humana será saudável na confusão dos papéis. Definir o que se é consiste em construir as bases sólidas que nos permitirão “esperar e também desesperar”. Já me explico. Esperar é a atitude que nos permite a serenidade de que o outro fará por nós, aquilo que não podemos fazer a sós. Desesperar é chegar à conclusão de que a vida tem limites, que terão que ser respeitados. Desesperar não significa sair gritando, esbravejando desaforos a respeito dos limites, mas consiste em serenizar o coração, aquietando-o e esperando os ensinamentos que virão do acontecimento que provocou a desesperança. E assim concluo: o desespero é o outro lado da esperança...Gosto de olhar para Deus. Gosto de esperar por ele, sobretudo nos momentos das minhas desesperanças. Olho-o como quem olha querendo decorar, aprender, incorporar. Faço inúmeros pedidos a Ele, mas tenho sempre o cuidado para que minhas preces não sejam formuladas nos verbos imperativos... Prefiro apresentar as questões, colocá-las em suas mãos e depois esperar pela vida. Tenho medo de tornar-me o deus de Deus. Receio que minhas preces sejam ordens mesquinhas Àquele que tudo sabe de mim. Por isso, eu ando dizendo que a vida é o espaço da liberdade, lugar onde me exercito como homem, desejoso de acertar e atualizar na minha vida, o único desejo de Deus para mim: a bondade. Somente a partir da bondade de Deus é que podemos dizer que Ele tudo pode. Ele tudo pode, mas o seu poder não fere, nem desrespeita o espaço humano de nossas escolhas. E viver é escolher.A teologia nos ensina que em Deus não há variação de humor. Ele é sempre amor, movimento que não sai da rota que lhe coloca na coerência de ser o que é. E por isso é fácil entender a ação de Deus na vida humana. Dizer que Ele permite acidentes, que permite doenças e que protege e desprotege é o mesmo que colocar uma contradição naquilo que Ele é. Expliquem-me, então: se Deus é amor, como posso entender que uma criança como o nosso querido Lucas tenha um câncer que viaja pelo seu corpo? Como não entender que Ele não tenha curado o nosso padre Léo de sua enfermidade tão dilacerante? Aí você pode me perguntar: “Então não adianta rezar, padre?” E eu respondo: adianta minha filha, meu filho. Rezamos, não para que Deus faça o que queremos, mas para que tenhamos forças de entender as fragilidades da vida, os limites do nosso corpo, e quem sabe, viver a surpresa da cura inesperada, quando tudo indicava que já tivéssemos chegado ao fim. Rezamos porque temos direito de pedir, de clamar, e de explicar as razões dos nossos desejos, mas não temos o direito de determinar o que Ele terá que fazer.Estamos constantemente debaixo da proteção divina. Ela não nos deixa nunca, mesmo quando não pedimos por ela. Minha mãe também me diz, quando saio de casa: “vai com Deus, meu filho! Cuidado na estrada!” Na frase de minha mãe há duas realidades a serem observadas: o dom e a tarefa. O dom está na primeira expressão: “vai com Deus.” E eu vou mesmo. Ele não sabe me deixar ir sozinho. Na segunda está a tarefa: “cuidado na estrada!” Na tarefa, a vida resguarda o espaço para a responsabilidade humana. Tenho duas possibilidades diante da fala de minha mãe: acato ou não. Se eu acato, o dom se manifesta. Se não, ele fica ofuscado na minha escolha errada.Cristianismo é isso. Não há relação saudável com Deus se não descobrimos constantemente as duas realidades na nossa vida: o dom e a tarefa. Em todas as situações humanas há sempre uma parcela de dom a ser recebida, e a uma parcela de esforço a ser executada. O milagre se dará por duas vias...Não quero confundir ninguém. Quero apenas apontar os caminhos para uma religião madura, onde Deus deixa de ser movido por nossas ordens mesquinhas, onde a oração se torna o acolhimento do dom e cumprimento da tarefa. Uma religião, que ao invés de fazer perguntas absurdas prefere o silêncio da busca que nos aperfeiçoa. Aí rezaremos com as mãos, com os pés, no trânsito, nas esquinas, e em toda parte. Retiraremos de nossa mente a resolução fácil, aquela que justifica os piores acontecimentos do mundo como vontade de Deus...Permitir... dizer que Deus permite é voltar à única permissão que Dele brota: a vida, a benção eterna, o dom que explode em todos os instantes nas menores iniciativas que geram o universo criado. A permissão é única, total e globalizante. Permissão que não contradiz em nada aquilo que Ele é.Eu o defendo sempre. Não quero que o acusem das desgraças do mundo. Quando minha irmã morreu num acidente trágico, vítima da imprudência humana, de uma bagagem que estava no lugar errado e que caiu sobre ela no momento em que o ônibus tombou, alguém quis me consolar às custas de uma acusação descabida: “foi a vontade de Deus!” E naquele momento minha mente se iluminou para que eu não permitisse que Ele fosse injustamente acusado daquele crime. Prefiro desacreditar dos humanos a ter que pensar que Deus seja capaz de matar uma mulher que precisava viver para cuidar do seu filho...Prefiro encarar a dura realidade de que minha irmã estava morta, vítima da imprudência de um motorista que transgrediu a regra, a ter que dizer ao meu sobrinho, que Deus não pensou na sua dor de menino, antes de permitir que o ônibus caísse naquela ribanceira... Preferi pensar que Deus estava chorando comigo, lamentando com meu sobrinho, consolando-o e o preparando para reacender nele a esperança que parecia diluída no ar...Mas você poderia me perguntar: "Mas padre, onde é que estava Deus no momento em que sua irmã morreu de forma tão cruel e assustadora?” E eu lhe respondo sem receio de errar: No mesmo lugar em que estava, no momento em que mataram o Filho Dele!

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