"Os Educadores-sonhadores jamais desistem de suas sementes,mesmo que não germinem no tempo certo...Mesmo que pareçam frágeisl frente às intempéries...Mesmo que não sejam viçosas e que não exalem o perfume que se espera delas.O espírito de um meste nunca se deixa abater pelas dificuldades. Ao contrário, esses educadores entendem experiências difíceis com desafios a serem vencidos. Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com acolheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes"(Gabriel Chalita)

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domingo, 21 de junho de 2009

Discurso de posse na ABE - Academia Brasileira de Educação



Estimado Presidente da Academia Brasileira de Educação,
Professor Carlos Alberto Serpa de Oliveira.
Prezados Acadêmicos,
Autoridades,
Senhoras e Senhores,

Eis me aqui para cumprir o meu oficio de gratidão e renovar minha profissão de amor à educação.
Gratidão à generosidade das senhoras e dos senhores que me permitem comungar deste espaço e aprender nesta ágora contemporânea.
A Ágora era o palco da liberdade. O palco do compromisso, em que a hermenêutica e a heurística talhavam os grandes homens. Discurso sem interpretação dos fatos e sem preocupação com a verdade, era demagogia. A ética ia tomando forma discursiva e embelezava as relações sagradas de ensino e aprendizagem. A peripatética socrática, a academia platônica e o liceu aristotélico constituíam a trilogia clássica da Paidéia. O sonho da integralidade na profissão de amor à cidade ou, por que não, à humanidade.
Eram professores esses sábios. Professavam no antropocentrismo nascente a fidelidade aos valores maiores. Sócrates foi condenado à cicuta por persistir em sua profissão. O preconceito roubou-lhe a vida.
A ausência de conhecimento pode gerar o preconceito e ainda o aprisionamento. Um repertório ampliado é um mundo ampliado. São pontes que se abrem como uma dialética continuada. É o conhecimento gerando a liberdade.
Liberdade era o sonho do patrono da cadeira de número 34, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, autor do Hino à Bandeira, o poeta Olavo Bilac. Parnasiano, e também romântico, o príncipe dos poetas brasileiros sussurrava sonetos confessionais:
"Ora (direis) ouvir estrelas! CertoPerdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,Que, para ouvi-las, muitas vezes despertoE abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquantoA via-láctea, como um pálio aberto,Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!Que conversas com elas? Que sentidoTem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!Pois só quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e de entender estrelas."

Repito:
"Só quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e de entender estrelas."

Minha antecessora, a saudosa Esther de Figueiredo Ferraz, tinha ouvidos assim, era capaz de ouvir e de entender estrelas. E, ao ouvi-las e entendê-las, construiu uma notável trajetória de mulher brasileira. Pioneira, numerosas vezes. Foi a primeira mulher a assumir a cátedra na tradicional Faculdade de Direito das Arcadas. A primeira mulher a atuar no tribunal do júri. A primeira a ser reitora de uma universidade, a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Primeira a ser, também, Ministra de Estado. Mas a sua glória maior não foi essa, como ela confessou ao tomar posse, em 1971, no cargo de Secretária da Educação do Estado de São Paulo:

[...] o de que me envaideço não será, podem crê-lo, haver atingido o ápice dessa carreira no desempenho de minhas atividades universitárias, mas sim em tê-la iniciado por onde a iniciei, numa pequena classe do Grupo Escolar de Santo Amaro, onde meninos descalços, de roupas remendadas e umedecidas pela garoa do planalto, tiritando de frio ou cheirando a suor, disputavam o privilégio de enfeitar com uma flor (provavelmente arrancada ao jardim da pracinha fronteira), a minha tosca mesa de trabalho.

Sua profissão era a de uma mulher livre. Livre das arrogâncias que muitas vezes o poder empresta aos desavisados. Livre das síndromes da usurpação de privilégios de cargos que enfeiam a travessia
Conheci Esther em São Paulo. Frequentei atento as suas histórias. Privilegiado, acompanhei, muitas vezes, a prosa elegante de nossa mestra. Assim Miguel Reale a saudou em nossa Academia Paulista de Letras:

Nenhuma profissão, tanto como a docente, tem a virtude de projetar quem a exerce muito além de suas próprias obras, graças à aventura de vaidosamente poder compartilhar das realizações e triunfos de seus discípulos. É claro que as criações, no campo literário, artístico ou científico, podem perpetuar, por menor ou maior tempo, o nome de seus autores, mas se trata de uma projeção no plano objetivo do processo cultural, enquanto o exercício do magistério transcende a pessoa do professor numa linha de marcada subjetividade mediante os valores alcançados por seus antigos alunos.

Quão doce prazer sente o mestre pelas conquistas de seus alunos. Não há professor que não se emocione ao vê-los galgando o cume do saber e do fazer.
O primeiro ocupante desta cadeira foi o também Ministro Pedro Calmon Muniz de Bittencourt. Nascido em Amargosa, Bahia, foi professor, reitor da Universidade do Brasil, Ministro da Educação e Saúde do governo Dutra, orador impecável. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras, tendo publicado mais de 50 obras nas áreas de biografia e literatura histórica, história e direito. Doutor honoris causa das Universidades de Coimbra, Quito, Nova Iorque, San Marcos e da Universidade Nacional do México. Dentre outros, escreveu, História de Dom Pedro II, em 5 volumes; História do Brasil na poesia do povo e Vida e amores de Castro Alves.

Castro Alves, o poeta da liberdade, ou como ele mesmo dizia, poeta da musa libérrima. Membro da escola de morrer cedo, em Navio Negreiro orou:

Auriverde pendão de minha terra,Que a brisa do Brasil beija e balança,Estandarte que a luz do sol encerra,E as promessas divinas da esperança...Tu, que da liberdade após a guerra,Foste hasteado dos heróis na lança,Antes te houvessem roto na batalha,Que servires a um povo de mortalha!...

Nasci em uma cidade pequena no interior de São Paulo, Cachoeira Paulista. Desde a infância, eu exercia o meu magistério, aos meus avós, em um quadro verde, presente de algum aniversário. Era inquieto quando os via quietos. Queria atenção. Afinal, aquele era um momento de celebração.
Nas primeiras aulas, nas escolas públicas da minha cidade, intuitivamente, aplicava Paulo Freire:

Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar...

Os meus alunos não eram tábulas rasas. Eram condores à espera de oportunidades para as alturas. Nas faculdades em que lecionei e leciono, os desafios continuam. Trocas de impressões, partilhas de razões ou meras idéias que vão formando uma teia. Somos cúmplices de um tempo em construção. Estamos em construção, pois essa é a razão da liberdade. Somos livres para restaurar as preciosidades internas que foram rasuradas com ou sem o nosso consentimento.

É livre quem deixou de ser escravo de si mesmo, ensinava Sêneca, insistente nesse percurso doloroso que se dá no interior humano.

Aproveito esse conceito para professar minha indignação contra qualquer tipo de preconceito. O tosco, horrípilo preconceito que diminui e arranca do outro a esperança. A educação e o preconceito não frequentam os mesmos altares.

No livro do Eclesiástico, a fonte para a derrocada do preconceito:
Quando eu era ainda jovem, antes de ter viajado, busquei abertamente a sabedoria na oração: pedi-a a Deus, no templo, e buscá-la-ei até o fim da minha vida.
Ela floresceu como uma videira precoce e meu coração alegrou-se nela. Meus pés andaram por caminho reto: desde a minha juventude tenho procurado encontrá-la. (Eclo 51, 18-20)

Um pouco mais adiante, prossegue:
Desde o inicio, graças a ela, possuí o meu coração (Eclo 51, 28a).

Graças à sabedoria é possível possuir o próprio coração. O que não é tarefa simples. Embriagamo-nos de falsas impressões. Desprezamos a verdade e julgamos o outro com meras opiniões. Preconceito. O que me dá o direito de ostentar uma postura arrogante? O educador é um servidor. E para isso tem de ser sábio.
Einstein acreditava no trabalhar em liberdade para a criação grande e inspiradora e Gandhi explicava que A liberdade não tem qualquer valor se não inclui a liberdade de errar.
É a morte do preconceito, meus amigos. Insisto, porque lamento os dogmatismos acentuados que separam os que sabem dos que não sabem, os que têm dos que não têm; os que são dos que não são. Ora, quanta ignorância! É inimaginável que depois de tantas descobertas não percebamos a heterogeneidade das inteligências. Trata-se de oportunidade apenas. É dar o bastão ao corredor e ensinar a ele o traçado e olhá-lo com a confiante ternura. E é isso.
A boa educação é moeda de ouro, em toda parte tem valor, afirmava o padre dos sermões, Antônio Vieira.

Senhoras acadêmicas, senhores acadêmicos.

Rousseau era um gênio autodidata do Iluminismo. Perdeu a mãe cedo, o pai não cuidou dele. E ele não cuidou dos cinco filhos que teve, abandonando-os em um orfanato. Entrementes as agruras de uma vida tumultuada, escreveu uma das maiores obras da psicologia do desenvolvimento, Emílio ou da educação.
Na obra, Rousseau constrói uma experiência educacional imaginária para mostrar que era possível criar um indivíduo que pudesse agir com retidão independentemente da ordem política ilegítima, das escolas e faculdades irremediavelmente corruptas. Para isso, ele retirava professor e aluno da sociedade e construía um enfoque consistentemente naturalista para a educação de Emílio.

Tudo é bom quando sai das mãos do Autor das coisas; tudo degenera nas mãos do homem.

Essa assertiva mostra o quanto Rousseau prolatava a bondade original e, ao mesmo tempo, a corrupção que a sociedade das competições, e não das cooperações, gerava. O bem é natural.

É de Kant a preciosidade:
Como então buscar a perfeição? Onde fica a nossa esperança? Na educação e em nada mais.

Filósofo alemão, sintetizador do empirismo e do racionalismo, é um dos fundadores da filosofia contemporânea. Embora não tenha escrito uma obra especificamente sobre educação, Kant faz um paralelo entre a esfera da natureza e a esfera da moralidade e concebe a educação como um processo que une as duas. O objetivo último da educação deveria ser a formação do caráter moral ou, em outras palavras, a admiração e a execução de um ato íntegro. A criança não é boa nem má, para Kant. A criança é amoral. Não imoral. Sua amoralidade deriva do fato de não saber o que é certo ou errado. Não ter condições de discernir o que recebe de casa e da escola. É como se a criança não tivesse condições de peneirar as sujeiras que lhe são lançadas. E reproduz, assim, os equívocos dos pais e professores. Kant sonha com uma educação que dê autonomia para que, em toda a vida, os ditames morais definam os passos humanos. É uma lei universal que se apreende e se constrói.
Da retórica à práxis. As reflexões históricas sobre educação são mais do que conhecidas. O percurso das escolas de ontem até aqui, também. Desde a educação tribal, passando pelo Egito, Macedônia, Grécia; freqüentando as escolas medievais, renascentistas ou contemporâneas, muito já se falou sobre os valores da educação na formação de um homem livre. Teorias divergiram quanto à forma, mas creditavam sempre à educação o resultado do sucesso humano.
Ao ingressar nesta Academia, quero apregoar alguns valores que a minha modesta experiência docente e de gestor público me ensinou.
Defendo a escola de tempo integral para as redes públicas visando diminuir a distância entre aqueles que têm e aqueles que não têm. Em um país, com a complexidade econômica e social como o nosso, é difícil imaginar que em casa os alunos haverão de completar os seus estudos.
Defendo que o currículo privilegie habilidades cognitivas, sociais e emocionais. O aluno é complexo e não pode ser tratado como um mero repetidor de conteúdos e fórmulas desprovidas de significado. Defendo a obrigatoriedade do Ensino Médio. O jovem precisa ser cuidado para que seu potencial se reverta em benefício próprio e em benefício do país. Não se combate violência com violência. Combate-se com inteligência. É preciso, também, trazer a família para a escola. O lar é o primeiro Liceu. É o espaço privilegiado em que as emoções começam a ser organizadas.
A didática tem de ser condizente aos alunos acostumados à tecnologia e à velocidade. As atenções são outras. A arquitetura da sala de aula tem de privilegiar as diferenças, sem a presunção incorreta de que os alunos aprenderão as mesmas coisas, ao mesmo tempo. O encantamento das letras, das histórias que perpetuam em livros o existir humano, não pode ser substituído por um conjunto de regras que dissociam saber de sabor. Essas palavras de mesma origem incendeiam os aprendizes com calor e luminosidade. A educação é convidada a transpor os muros e ditar comportamentos na urbe. A civilidade do brasileiro, a cordialidade dos filhos desta terra, como estudada por Sérgio Buarque de Holanda, não podem ser trancafiadas em individualismos e violências. É preciso significar as teorias com comportamentos adequados.
Defendo os mestres. As professoras e os professores que se constituem como a alma do processo educativo. Não são as máquinas, nem as antigas nem as modernas, que formarão as pessoas. Não são as construções maiores e mais arrojadas que desenharão o molde das ações humanas. Os que professam na vida o amor ao outro é que farão a diferença. Os alunos precisam de vínculo, carecem de referenciais. E aí estão os mestres cumprindo o seu ofício.
Se há uma glória a que posso me atribuir sem receios é a de ter, durante os quase cinco anos em que estive Secretário em São Paulo no competente governo de Geraldo Alckmin, comungado dúvidas e certezas com os professores. Construímos uma rede de respeito. Trocamos idéias, cedemos informações, atravessamos à outra margem para conversar com mais vagar. Renunciamos dogmatismos e crescemos. Entro com tranqüilidade em uma escola e reverencio os seus professores. Há falhas? Certamente. Há descaso dos que deveriam ensinar? Como em todas as profissões. Não julguemos o todo pelas partes. É de Aristóteles o axioma de que a generalização é o primeiro caminho para a injustiça. Sejamos justos. Nas salas de aula deste país, faltam políticas públicas eficientes e continuadas e sobram sonhos. Alguns agentes públicos ousam destruir os feitos de seus antecessores com o intento egóico de fincar uma bandeira. Tosca ventura desrespeitosa. Somos ocupantes provisórios de espaços definitivos. Nada de personalismos. É de personalidade que precisamos. Partir em busca da liberdade de fazer livre aquele que chega.
Procuro ser educador em tudo o que faço. Publico livros sobre biografias de pessoas fascinantes para aprender com elas. Fabrico ilusões em romances e contos para engendrar histórias de vida. Vivifico minhas verdades em livros infanto-juvenis. Amo a filosofia como quebra continuada de paradigmas. E sobre ela, escrevo. Sou um discípulo da literatura como história dos sentimentos. Sentimentos que são lapidados em outras arenas. Educo na televisão e no rádio.
A Comunidade Canção Nova educou-me desde pequeno com seu magistral fundador Monsenhor Jonas Abib e ampliou minha voz e imagem para levar o que sei e o que estou descobrindo a milhões de lares. Só me pedem fidelidade à dignidade humana, ao exercício continuado de formar mulheres e homens novos para um mundo novo. Ou então mulheres e homens educados, livres. Quão doce é a liberdade! Dela nasce o gosto pela ventura da vida. Sem gaiolas, mesmo as de ouro. Sem medo do medo. Brincantes com as possibilidades. Imersos em valores corretos e caminheiros.
A educação é o estandarte da liberdade. Ela faz transmutar a perspectiva de vida. É por isso que os pais devem se preocupar em deixar esse legado aos seus filhos.
Meu pai não está aqui. Mas sua imagem percorre os meus conceitos. Ele habita em mim com sua tenra expressão de gentileza. Soube compreender as minhas escolhas e aplaudir minhas decisões. Sem conhecer correntes pedagógicas, inspirou-me a compreender os tempos e os espaços alheios. Minha mãe conformou-se com minha decisão de trocar o seu sonho de um filho médico pelo discurso inquieto do professor.
Completo este ano minhas bodas de prata do magistério. Tenho 40 anos. Comecei a dar aulas em escolas aos 15. E não estou cansado. Ao contrário. Sinto um gosto de novidade cada vez que encontro uma nova turma. É o desafio da ação na sedução. São eles os novos convivas ao banquete do saber. É preciso entender o que servir e como servir para que voltem esperançosos. Não quero vê-los subnutridos nem obesos. É o meio-termo que educa melhor. E mais, longe de mim eternizar as minhas verdades em mentes alheias. É dialogal nossa profissão. Quebramos e construímos. Rasgamos e emendamos. Sem pestanejar. E tudo isso com a certeza de que nossa jornada não será vã:

Só há uma coisa neste mundo à qual vale a pena dedicar toda a sua vida. É a criação de mais amor entre os povos e a destruição das barreiras que existem entre eles, ensina Tolstoi.

Acredito que a aspiração dá sentido às nossas escolhas. Não é possível voar sem ter antes o destino. É no mínimo incauta a embarcação que parte sem rumo.
Eduquemos para a competência, a coragem e o amor. Essa é a razão da nossa existência e a manifestação da nossa essência. O amor é a estrela desenhada no firmamento que pode ser avistada de qualquer parte. Basta apenas uma educação que nos ensine a olhar para o alto e prosseguir.
Professor Serpa, em seu nome, agradeço, mais uma vez, a esta douta academia. Conhecemos-nos e nos encontramos. Sua gentileza e generosidade enfeitam sua profissão. Em cada espaço, o respeito. E, no respeito, o encantamento.
Recebi desta academia o prêmio de Educador do Ano de 2004. Recebo, hoje, a grata satisfação de freqüentá-la como membro. O fardão é a responsabilidade que assumo com humildade e o colar, o enfeite para continuar a entoar os acordes da pedagogia do amor.

Minhas amigas e meus amigos,

Termino com gratidão esta minha chegada. Agradeço a Deus pelos talentos que abundantemente Ele derrama sobre nós; agradeço a Ele os milagres cotidianos, singelos, que às vezes nem temos tempo de reparar. E, ainda, o dom da cortesia. Agradeço aos meus amigos que aqui e em outras arenas emprestam conhecimento e poesia à minha vida.
Poetizemos, enfim, com Bilac: Amemos. As estrelas estão por aí para serem ouvidas e compreendidas. Amemos!

Obrigado,

Gabriel Chalita

Professor Gabriel Chalita é eleito membro da Academia Brasileira de Educação




Gabriel Chalita tomou posse, às 16h00 do dia 15 de junho, como membro da Academia Brasileira de Educação (ABE), no Rio de Janeiro, passando a ocupar a cadeira de número 34, cujo patrono é Olavo Bilac, príncipe dos poetas brasileiros. O auditório Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, foi o palco da cerimônia que contou com a presença de inúmeras autoridades, políticos, educadores, escritores e pessoas próximas ao mais jovem imortal. Destacamos as presenças do Prefeito de São Paulo, Sr. Gilberto Kassab e da vice-prefeita, Dra. Alda Marco Antônio.

Recepcionado pelas acadêmicas e acadêmicos presentes, Gabriel Chalita foi saudado pelo Presidente da ABE, Prof. Carlos Alberto Serpa, que aclamou-o como novo imortal , enfatizando a sua trajetória de educador e as grandiosas realizações na área da educação. Dentre elas, ressaltou o exitoso Programa Escola da Família, que previa a abertura das escolas paulistas aos finais de semana.

Em seu belíssimo discurso, Chalita homenageou seus antecessores, que ocuparam a mesma cadeira, Ministro Pedro Calmon e a também Ministra Esther de Fiqueiredo Ferraz. Embalado pelos versos do poeta parnasiano, o professor tratou da liberdade como uma condição a ser alcançada por meio do conhecimento, citando algumas vezes os ensinamentos de Paulo Freire. Discursou sobre os valores da educação na formação do homem livre. "A educação é o estandarte da liberdade. Ela faz transmutar a perspectiva de vida. É por isso que os pais devem se preocupar em deixar esse legado aos seus filhos", asseverou Chalita. Finalizou, reafirmando e renovando sua profissão de amor à educação. seu . A emocionante cerimônia foi encerrada com a participação do Padre Fábio de Melo, entoando a canção, de sua autoria, " Contrários".

sábado, 13 de junho de 2009

Centenário das Letras


A ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS comemora em 2009 o seu Centenário. Foi fundada em 27 de novembro de 1909, por um médico e ensaísta carioca, Joaquim José de Carvalho. Seu primeiro Presidente foi Brasílio Machado. No discurso inaugural, tentou definir o que significa uma Academia de Letras:
"Somos uma porção de vocações, e porção pequena para que seja a sua coesão mais intensa e laboriosa, mas vocações que se apagam no objetivo comum, não disputando honrarias e monopólios, umas nutridas de vaidades, outras cheias de ridículo. Somos obscuros; antes de nós outros muitos o foram. Na parcela de trabalho que tomamos por quinhão, bem sabemos que o sulco aberto agora será talvez mal alinhado, mas enche-nos a esperança de que pelo lavor de outras mãos se corrija o defeito do traçado, e dela cresça a abundância da colheita, nesta terra de São Paulo, sempre tão nutriente e pródiga de extraordinárias riquezas. À obscuridade, que somos, sucederá, talvez, a benemerência que nos escusa e perdoa o atrevimento da iniciativa".
Sulco mal alinhado, mas sobrevivente. Toda instituição voltada ao culto gratuito da beleza enfrenta intempéries num Estado-Nação ainda emergente. Não é diversa a situação da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS. Ela já contou com apoio oficial, abrigou os intelectuais mais acatados e prestigiados de São Paulo. Presidiram-na pensadores do porte de Amadeu Amaral, Alcântara Machado, Altino Arantes, Aristeo Seixas, Pedro Antonio de Oliveira Ribeiro Neto, Rubens Teixeira Scavone e Ives Gandra da Silva Martins.
Foi na presidência Altino Arantes que ela conseguiu construir o edifício do Largo do Arouche, em terreno doado pelo Estado de São Paulo, ao tempo de Fernando Costa e por ordem de José Carlos de Macedo Soares. Ao lançamento de sua pedra fundamental, a 25 de janeiro de 1948, compareceu o Presidente da República Eurico Gaspar Dutra. O arquiteto Jacques Pilon, autor do projeto, dirigiu pessoalmente a construção e o prédio histórico foi inaugurado em 1953.
Desde então, subsiste de maneira discreta, mas não deixa de preservar sua missão: a cultura da língua e da literatura nacional. Integram-na quarenta acadêmicos dos mais variados matizes culturais. Sempre conta com bi-acadêmicos, ou seja, aqueles que também pertencem à gloriosa ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Hoje eles são representados por Lygia Fagundes Telles, João Scantimburgo e José Mindlin. Prosseguir a caminhada por dez décadas, alcançar a era do efêmero e do consumismo, despertar o interesse de escritores que aspiram integrá-la, manter-se fiel à sua vocação, é digno de registro.
O que explica a permanência de uma Academia de Letras no século XXI? Sempre gosto de citar Claude Lévy Strauss que, ao capitular à insistência com que seus amigos o disputavam para a Academia Francesa, deu uma explicação em seu discurso de posse: - Passei a vida a estudar ritos longevos, de formas de convívio que não conheci e nunca mais irei conhecer, pois perdidas na noite dos tempos. Por que não me interessar por um ritual que, só na minha Pátria, tem 300 anos?
No Brasil, a ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS completa seus 100 primeiros anos. Fato auspicioso e que, não fora a indigência em que mergulhadas as instituições que só se devotam à cultura, sem impregnar-se no marketing, na exploração da vaidade e do consumismo, estaria a merecer repercussão nacional. Ante a inviabilidade de se contratar uma empresa especializada para promover eventos compatíveis com a relevância do aniversário, a ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS se abre à criatividade e aceita visitas e sugestões de congêneres, de outras entidades parceiras ou co-irmãs.
Também está aberta a atender aos convites que lhe forem feitos, para mostrar-se e fazer-se conhecer, ou conhecer melhor, com vistas a um roteiro de eventos preordenado a não deixar passar em branco a passagem do Centenário. Durante todo o ano de 2009, está aberta a esse contato saudável, na certeza de que toda manifestação e intento aproximativo, na reiteração microscópica dos pequenos encontros, será a comemoração possível para o Centenário da Casa de Letras voltada à tutela do vernáculo e ao estímulo à leitura e à escrita em solo bandeirante.

José Renato Nalini - cadeira 40

domingo, 7 de junho de 2009

Parabéns, professores - Gilberto Dimenstein


O fracasso da greve decretada pelo sindicato dos professores em São Paulo não é o fracasso de uma categoria. Pelo contrário --foi um sinal de maturidade. O sindicato saiu perdendo, mas os professores ganharam.
Afinal, a greve foi lançada para protestar contra a criação de uma escola para formação de professores, destinada aos aprovados em concurso. Uma medida salutar para tentar sanar as deficiências dos candidatos. Outro motivo para a decretação da greve foram as provas aos professores temporários, muitos dos quais, como sabemos, tiraram notas baixíssimas no último exame.
Os leitores desta coluna sabem que acho que nenhuma profissão tem mais valor social do que o professor --está nele a âncora da cidadania. Eles sofrem com os salários ruins e péssimas condições de trabalho. São vítimas também das idas e vindas das decisões dos governantes. Mas uma forma de valorizar o bom professor é ajudar em sua formação e no mérito da seleção --e assim fazer com que toda a sociedade lute por ele, por achar que, com isso, está lutando pela educação das crianças e dos jovens.
Se eles tivessem embarcado nessa greve, a mensagem seria de apoio à mediocridade --no fundo, os professores que tiraram zero e querem continuar a dar aula. Não foi o caso.
É mais um sinal,entre tantos, de que aos poucos o Brasil vai aprendendo a valorizar a educação.

Lula lança Plano Nacional de Formação dos Professores para melhorias na carreira


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou nesta quinta-feira o Plano Nacional de Formação dos Professores, um pacote de medidas para reformar a carreira do magistério. A ideia é qualificar os que já estão em exercício e tornar mais rigoroso o ingresso dos futuros docentes.
Pela proposta serão criadas 330 mil vagas em 90 universidades públicas de 21 Estados para professores sem a formação legal ou graduados em áreas diferentes daquelas em que atuam. O governo deve investir R$1 bilhão para colocar o plano em prática.
Segundo um censo da educação básica de 2007 feito pelo Inep (Instituto de Pesquisas), ligado ao Ministério da Educação, do 1,8 milhão de professores de quinta a oitava série do país, 26,6% não têm a habilitação legal exigida para dar aulas nesse nível, que é diploma de ensino superior com licenciatura. Do total de docentes desse nível, 21,3% não têm nenhuma graduação e 5,3% têm diploma superior, mas sem a licenciatura.
Para o presidente, as medidas vão tornar as escolas públicas mais atrativas. "É muito difícil recuperar o exército de professores que foram maltratados lá atrás, é mais difícil do que pegar adolescentes hoje e formá-los professores. Mas o dado concreto é que precisamos caminhar para que as escolas públicas sejam de tamanha qualidade que a disputa das mães e dos pais seja para colocá-los em escolas públicas e não ocorra as fugas para escolas privadas como aconteceu nas décadas de 1970, 1980,1990", disse Lula.
O presidente afirmou que é preciso dar oportunidades para se criar pessoas "expressivas". "São oportunidades que fazem homens com o Obama [Barack Obama] chegarem à presidência dos Estados Unidos. É isso o que faz um negro como Milton Santos um dos maiores geógrafos do mundo", disse.
Outra proposta do plano estabelece uma nota mínima no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para quem quiser ingressar em um curso superior de formação de professores. A proposta precisa ser aprovada pelo Congresso. A justificativa do governo, no entanto, é que torna ainda mais difícil o ingresso em cursos de graduação para formação dos professores.
De acordo com os ministros, a nota de corte pode mudar de ano para ano. Nesse cálculo, teriam de ser levados em consideração a demanda da rede pública por professores, e o qualitativo.Para depois da universidade, o MEC fará um concurso nacional para seleção de professores da rede pública. A prova será feita pelo Inep, e os Estados e municípios interessados poderão usar o banco de dados com as notas dos aprovados.
Serão anunciadas ainda novas regras para a graduação em pedagogia em instituições privadas e federais --as estaduais e municipais não estão sob jurisdição do MEC. Os cursos terão de usar 70% da carga horária para formação de professores.

PENSAMENTOS