"Os Educadores-sonhadores jamais desistem de suas sementes,mesmo que não germinem no tempo certo...Mesmo que pareçam frágeisl frente às intempéries...Mesmo que não sejam viçosas e que não exalem o perfume que se espera delas.O espírito de um meste nunca se deixa abater pelas dificuldades. Ao contrário, esses educadores entendem experiências difíceis com desafios a serem vencidos. Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com acolheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes"(Gabriel Chalita)

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terça-feira, 28 de julho de 2009

Corante azul de comida trata lesão medular




RICARDO BONALUME NETOda Folha de S.Paulo



Um corante que dá cor azul a alimentos e bebidas ajudou uma equipe de pesquisadores a proteger células nervosas em ratos que tiveram dano na medula espinhal. Injetado 15 minutos depois da lesão, o corante BBG fez ratos paraplégicos recuperarem parte do movimento nas patas após alguns dias.


Como o único efeito secundário foi causar uma sutil e temporária cor azulada no animal, e o BBG deriva de um corante seguro, sem efeitos tóxicos, é possível que em alguns anos surja uma aplicação clínica em pessoas com danos agudos na medula.

Único efeito colateral foi deixar os animais azuis; composto evita morte de células por superexcitação no momento do trauma

BBG é a sigla em inglês para "azul brilhante G", um composto semelhante ao usado em grandes quantidades na indústria de alimentação, por exemplo, em bebidas isotônicas.

A administração de BBG reduziu o dano secundário nos neurônios causado pela inflamação do local do trauma. A substância azulada agiu contra o chamado "receptor da morte", a molécula P2X7.

Essa molécula ocasiona a morte das células nervosas ao torná-las extremamente excitadas. Os neurônios passam a disparar correntes elétricas alucinadamente, até morrerem de estresse metabólico.

A causa dessa atividade é consequência do trauma original. Quando ele ocorre, a substância que armazena energia no organismo, o trifosfato de adenosina (conhecido pela sigla ATP), inunda a região danificada da medula espinhal, ligando-se ao receptor P2X7.

O ATP é vital para o organismo, mas, em excesso na medula, ele causa inflamação e morte dos neurônios, provocando às vezes mais danos que o trauma inicial. Não existe tratamento para esse dano secundário.O estudo foi liderado por Steven A. Goldman e Maiken Nedergaard, do Centro Médico da Universidade de Rochester, no Estado de Nova York.


Como foi possível a um corante de alimentos virar de repente uma droga regenerativa de neurônios?"Muitos dos antagonistas do receptor P2X7 são azuis, como o azul brilhante ou o azul reativo. Como a cor azul de comida tem toxicidade baixa, imaginamos que seria um bom jeito de começar. É improvável que a droga tenha efeitos colaterais, já que tem sido ingerida em grandes quantidades por muitos anos", disse Nedergaard.


Mas mesmo que algum dia o BBG ou um derivado sejam usados clinicamente em casos de danos na medula, a pesquisa mostrou que a droga só tem efeito em casos recentes, pois sua função é anular os efeitos da "inundação" de ATP, que ocorre nas primeiras seis horas depois do trauma.

Esse papel do ATP foi revelado em 2004 por pesquisadores do mesmo laboratório. Já havia sido possível bloquear os efeitos do ATP no local, mas o processo envolvia injeções diretamente na medula --algo nem sempre recomendável ou possível em um paciente. O composto usado também é tóxico se injetado no sangue.Já o corante azul da indústria de alimentos provou ser seguro --só os norte-americanos consomem por ano cerca de 500 toneladas do produto.

Os ratos tratados voltaram a andar, embora mancando. Já ratos de um grupo-controle que não receberam a droga não voltaram a se locomover.

Segundo Nedergaard e Goldman, mais testes em laboratório são necessários antes de começar a usar o BBG em testes clínicos em seres humanos. Se os resultados continuarem promissores, em alguns anos poderá ser padrão o tratamento com a droga de casos agudos de trauma na medula espinhal. O estudo foi publicado hoje no periódico "PNAS".

Gripe suína adia volta às aulas em escolas e universidades em São Paulo



Escolas das redes municipais e estaduais de São Paulo, além das três universidades paulistas --USP, Unesp e Unicamp-- decidiram adiar a volta às aulas para o dia 17 de agosto para evitar contaminações pela gripe suína --como é chamada a gripe A (H1N1). O Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo) também seguiu recomendação da Secretaria da Saúde e orientou a prorrogação das férias nas escolas particulares.
São Paulo é o Estado com maior número de mortos pela doença --27. Em todo o país, o número de mortes chegou a 56 nesta terça-feira. Também há registro de mortes no Rio Grande do Sul, no Paraná, no Rio de Janeiro e na Paraíba.


"Temos a esperança que com a chegada do calor, a partir de 15 de agosto, diminuam os casos de gripe", afirmou o secretário estadual da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, ao afirmar ser este o principal motivo para a secretaria ter recomendado a suspensão ou adiamento do início das aulas.
Na maioria das escolas, a volta às aulas estava prevista para o dia 3 de agosto. A medida também atinge as Etecs (escolas técnicas) e as Fatecs (faculdades de tecnologia), mantidas pelo Centro Paula Souza.
"A decisão de indicar a ampliação das férias escolares foi tomada depois de análise das recomendações e avaliações da OMS (Organização Mundial da Saúde) a respeito da propagação do vírus entre estudantes e de recorrentes relatos sobre o aumento expressivo do número de crianças e adolescentes atendidas nos prontos-socorros paulistas devido a problemas respiratórios", informou a Secretaria da Saúde em nota.
Com o adiamento da volta às aulas, a USP também cancelou a quarta edição da Feira de Profissões, que seria realizada nos dias 4, 5 e 6 de agosto, no Memorial da América Latina.
Rede municipal
A prefeitura informou que os CEIs (Centros de Educação Infantil), que não têm recesso em julho, permanecerão abertos até sexta-feira. As aulas nas unidades serão suspensas a partir de segunda (3).
Durante o período, as atividades externas dos CEUs (centros educacionais unificados) serão mantidas, mas ficarão fechadas as salas de aula e os teatros.
Particulares
De acordo com o Sieeesp, apesar da orientação para adiar a volta às aulas, as escolas são autônomas e não são obrigadas a atender à recomendação.
"A Secretaria da Educação do Estado adotou medida semelhante e os estabelecimentos da rede pública também devem retornar apenas no dia 17 de agosto. Algumas escolas particulares já haviam retornado às aulas na última segunda-feira, o mesmo ocorrendo com as públicas. No caso da rede oficial, a Secretaria ordenou a suspensão das atividades escolares", informou o sindicato em nota.

Veja o mapa da gripe suína no Brasil

Saiba mais sobre a gripe suína

Saiba quais são os sintomas da gripe suína.

GABRIEL CHALITA E Pe.FÁBIO DE MELO

ANJOS DE RESGATE E GABRIEL CHALITA NO PAPO ABERTO

PAPO ABERTO COM AÉCIO NEVES

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Lula cria a Bolsa-Circo


Lula ajudou a dar o pão, ao ampliar (corretamente, diga-se), o Bolsa-Família. Agora, na reta final de seu governo, está querendo dar o circo, batizado de Vale-Cultura. É um risco de desperdício de bilhões que só explica pelo clima de eleições para agradar trabalhadores, artistas e empresários. No final, quem paga quase toda a conta é o contribuinte.
O empresário terá abatimento de imposto ao dar o Vale-Cultura para seus trabalhadores que, por sua vez, pagam a menor parte; o governo, ou seja, o contribuinte entra com o resto. É absolutamente previsível que o dinheiro público, tão escasso num país pobre e deseducado, vai acabar patrocinando shows e eventos populares, mas sem conteúdo educativo.
Participo da experiência batizada de Catraca Livre (www.catracalivre.com.br), um banco de dados sobre o que existe de graça ou a preço popular na cidade de São Paulo. É gigantesco o número de ofertas culturais de alta qualidade, mas com baixa frequência dos mais pobres o que já é um monumental desperdício.
Não é elitismo querer que dinheiro público não patrocine espetáculos de shows de música funk, sertaneja ou pagode. Ou que vá para autores de livros de autoajuda ou filmes de violência. Assim como obviamente, não tem nada de errado que as pessoas se divirtam como quiserem. E não temos nada a ver com isso.
Considero, sim, importantíssimo aumentar o repertório cultural do brasileiro.
O desperdício está no fato de que, se é para gastar esse valor, muito melhor seria deixá-lo nas mãos dos estudantes de escolas públicas, capacitadas a fazer a ponte entre a cultura e o currículo. Educação ficaria mais interessante e se formariam, de fato, plateias.

FOI RACISMO?

Por Mauricio Stycer
O humor deve ter limites? Se tem, quais são? Eis duas questões que frequentemente entram em pauta, especialmente quando a piada aventura-se por terrenos mais delicados, como sexualidade, raça e religião.
Há duas semanas, causou surpresa a notícia que a atriz Juliana Paes acionou judicialmente o humorista José Simão, da “Folha de S.Paulo”, no esforço de impedi-lo de fazer piadas sobre as suas formas físicas. Esta semana, a polêmica foi desencadeada pelo humorista Danilo Gentili, do programa “CQC”, que está sendo acusado de fazer piadas de cunho racista.
Na madrugada de sábado, enquanto o canal de tevê paga Telecine Action exibia o filme “King Kong”, Gentili entrou no Twitter e escreveu: “Agora no TeleCine King Kong, um macaco q depois q vai p/ cidade e fica famoso pega 1 loira. Quem ele acha q é? Jogador de futebol?”
Apesar do horário do comentário (0h21 de domingo), as reações não tardaram. Poucos minutos depois, à 0h32, Gentili postou um segundo comentário, em resposta aos leitores: “Alguém pode me dar 1 explicação razoável pq posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa mas nunca um negro de macaco?”
Como as críticas não diminuíram, muito pelo contrário, à 0h53 Gentili voltou ao Twitter, desta vez numa posição mais defensiva: “Reparem: na piada do King Kong não disse a cor do jogador. Disse q loira saiu c/ cara pq é famoso. A cabeça de vcs q tem preconceito hein”.
O humorista ainda postou outros comentários sobre o assunto no Twitter, mas os apagou posteriormente. Vários blogueiros registraram essas frases de Gentili, mas não vou reproduzi-las aqui. Se os retirou do ar é sinal que se arrependeu do que disse, no que está no seu inteiro direito.
Reprodução
Foto publicada por Gentili na internetNa manhã de domingo, ainda impressionado com a repercussão de seu comentário, Gentili colocou na internet uma foto, na qual o próprio humorista aparece dentro de uma jaula, com a seguinte legenda: “Obrigado pessoal. Vocês conseguiram me prender igual um macaco por denúncias de racismo.”
Gentili não viu conteúdo racista em sua piada. “Foi uma piada sobre uma loira que só sai com cara que é famoso”, diz ao Último Segundo. “Mas sei que piada é assim mesmo: cada um entende como quer”.
O humorista acha que não deve haver limites para o humor. “Mas com bom senso”, diz, para logo acrescentar: “o problema é que o bom senso também é subjetivo”.
Segundo Gentili, ele foi defendido por mais de 70% dos leitores que escreveram para comentar a piada do King Kong. As críticas negativas, diz, vieram da parte do que ele chama de “uma patrulha superficial no combate do racismo”.
O que isso quer dizer? “Se eu chamar alguém de ‘preto’ vou ser xingado, mas se falar que ‘não tolero a presença de afro-descendentes na minha mesa’, vou ser elogiado pelo tom politicamente correto”, diz. Em outras palavras, desabafa Gentili, “o politicamente correto está deixando as pessoas idiotas”.
Segundo o humorista, “as pessoas fecham os olhos para o verdadeiro racismo e preferem falar do superficial”. Aos 29 anos, Gentili se diz acostumado com polêmicas deste tipo. “Outro dia, conclamei os maranhenses a agirem, por causa da Roseana Sarney, e fui acusado de preconceito contra os nordestinos”.
Apesar das críticas, Gentili segue com seu lema: “Se você quer dizer a verdade sem ser apedrejado, faça a pessoa dar uma risada antes.”

domingo, 26 de julho de 2009

Mais de 25 mil professores se inscrevem para a capacitação do MEC

Até a última sexta-feira (24), 47% das 54 mil vagas oferecidas pelo Plano Nacional de Formação de Professores, do MEC (Ministério da Educação), já tinham sido solicitadas. As inscrições terminam no dia 31 de julho. Lançado em maio pelo MEC, o plano pretende qualificar professores de escolas públicas em exercício que não têm curso superior ou atuam em área diferente da qual se formaram. Segundo o ministério, cerca de 600 mil estão nessa situação.

Até 2011, serão oferecidas 331 mil vagas. Para participar, o professor precisa acessar a Plataforma Paulo Freire, site criado exclusivamente para concentrar as informações sobre o plano. O professor deve fazer um cadastro no qual incluirá um pequeno currículo. Após essa etapa, o interessado deve consultar a oferta de graduações e fazer sua pré-inscrição para aquela que deseja cursar. Na fase seguinte, as secretarias municipais e estaduais de Educação serão responsáveis por validar a inscrição e autorizar a participação do professor nos cursos.

Nos primeiros dias após o lançamento da Plataforma Freire, o ritmo de inscrições estava lento, mas cresceu nessa última semana. Na avaliação do secretário de Educação à Distância do MEC, Carlos Eduardo Bielschowsky, a evolução está positiva.

O ministério enviou cartilhas para os professores e Bielschowsky conversou pessoalmente com alguns secretários estaduais de Educação. "Não basta fazer o programa, é preciso que as pessoas saibam que ele existe", afirmou.

Dos Estados, o Rio foi o que registrou maior demanda pelos cursos: mais de 2.000 inscrições para as 790 vagas que serão oferecidas no próximo semestre. O Paraná, Mato Grosso do Sul e o Pará também têm boa participação.

De acordo com o ministério, as instituições de ensino terão que selecionar os candidatos se a demanda for excedente. Quem não for atendido agora poderá participar dos cursos nos próximos semestres.

Bielschowsky ressaltou que as secretarias estaduais e municipais de Educação devem participar ativamente do processo. "As secretarias precisam consolidar essas inscrições, o secretário precisa acompanhar e analisar caso a caso. É preciso ver se aquela formação que o professor pediu coincide com o planejamento e com as necessidades da rede", explicou.

A formação vai atender três perfis diferentes de profissionais: primeira licenciatura para professores que não têm curso superior; segunda licenciatura para aqueles que já são formados, mas lecionam em áreas diferentes da que se graduaram, e a licenciatura para bacharéis que necessitam de complementação para o exercício do magistério. Em alguns estados também existe a possibilidade de formação continuada para professores que já concluíram o ensino superior.

KISS

Por que tantos jovens são assassinados

Durante dois anos, um ex-pichador chamado Djan ajudou a produzir a mais completa investigação sobre o universo clandestino da pichação, resultando num documentário ainda inédito no Brasil. Nunca se conseguiram imagens tão íntimas dessa tribo urbana, inclusive das invasões da Bienal e da Faculdade Belas Artes --coloquei trechos do documentário no Catraca Livre. Esse documentário ajuda a entender pesquisa que acaba de ser divulgada pelo Unicef sobre o assassinato de adolescentes no país.
O que se vê no documentário é como as mais variadas formas de violência como a falta de escola, de cultura, de lazer, de emprego, acabam gerando uma falta de perspectiva --e, nessa falta de perspectiva, combinada com a sensação de impunidade, está a raiz.
As periferias são usinas de marginalidade justamente porque não produzem perspectivas, o que impede os indivíduos de desenvolverem uma identidade e de se expressarem. No documentário, vemos que o motor do pichador é, de forma selvagem e violenta, escapar do anonimato e da invisibilidade.
Isso acaba explicando por que somos cada vez mais violentos --e nossas cidades (e almas) cada vez mais pichadas.

Salão dos românticos

Na Academia Brasileira de Letras há um salão muito bonito mas um pouco sinistro. É o Salão dos Poetas Românticos, com bustos dos nossos principais românticos na poesia: Castro Alves, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Álvares de Azevedo.
Os modernistas de 22, e antes deles os parnasianos, decidiram avacalhar com essa turma de jovens, que trouxe o Brasil para dentro de nossa literatura. Foram os românticos, na prosa e no verso, que colocaram em nossas letras as palmeiras, os índios, as praias selvagens, o sabiá, as borboletas de asas azuis, a juriti - o cheiro e o gosto de nossa gente.
Não fosse o romantismo, ficaríamos atrelados ao classicismo das arcádias, à pomposidade do verso burilado que tem o equivalente cinematográfico nos efeitos especiais. Sem falar nos poemas-piadas, a partir de 1922, tidos como vanguarda da vanguarda.
Foram todos jovens: Casimiro morreu com 21 anos, Álvares de Azevedo com 22, Castro Alves com 24, Fagundes Varela com 34. O mais velho de todos, Gonçalves Dias, mal chegara aos 40 anos.
O Salão dos Poetas Românticos é também sinistro, pois é de lá que sai o enterro dos imortais, que morrem como todo mundo, entre outras razões, porque a maioria deles não tem onde cair morto. (A piada é de Olavo Bilac).
José de Alencar também devia estar ali. Mas está perto, como perto está o busto de Euclides da Cunha. Foram pioneiros na valorização dos temas brasileiros, bem antes de 1922.
Com exceção de Euclides, que foi acadêmico em vida, todos são anteriores à fundação da Academia, estão imortalizados em bustos. São patronos de cadeiras em que sentaram Machado de Assis, Coelho Neto, Bilac, Guimarães Roa, Darcy Ribeiro, Barbosa Lima Sobrinho, Jorge Amado e outros. Todos brasileiros. E de letras.

Carlos Heitor Cony. Agência Folha. Publicada no jornal Folha de São Paulo em 23/10/2001

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Quando aprender é difícil...

Num dia você é chamada à escola de seu filho por seu comportamento agressivo e desatento. No outro, percebe uma pequena deficiência na fala e na escrita do pequeno. Sem contar que ele não quer mais ir à escola e, quando o faz, parece apático ao que está sendo ensinado dentro de sala de aula. Talvez o baixinho faça parte dos 20% de crianças brasileiras (segundo dados do Ministério da Educação de 2007) que apresentam algum déficit de aprendizagem. As dificuldades de aprendizado são resultado de diferentes fatores: problemas financeiros, brigas no ambiente familiar, métodos de ensino ultrapassados, problemas neurológicos, auditivos, visuais e outros. Como identificar e tratar o problema para não impedir a aquisição do conhecimento e garantir o saudável desenvolvimento infantil?"Os distúrbios e dificuldades de aprendizagem caracterizam-se por alterações significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas e têm sido uma das principais causas da ida de crianças ao psicólogo já que 'não aprender' tem repercussões emocionais e na autoestima da criança", explica a pedagoga e conselheira tutelar Janaína Elias. Nem sempre identificá-los é tarefa fácil: "Geralmente, a dificuldade se apresenta de forma gradativa. Por isso, a atenção de pais e educadores faz-se tão importante", alerta a pedagoga. Investigando as deficiênciasA única maneira de reverter o processo de déficit de aprendizagem é buscar as suas reais causas. São diversos os fatores que influem na aquisição de conhecimento. "Motivos de ordem psicológica, econômica, neurológica, social e até mesmo ambiental interferem de forma sintomática na construção da personalidade do indivíduo, que se dá até os sete anos de idade, podendo influir em seu aprendizado", revela Janaína.Crianças com dificuldades para fixar conteúdos podem mudar seu comportamento, variando seus sentimentos ao extremo. Podem, por exemplo, tornar-se agressivos ou chorões Problemas visuais e auditivos, brigas constantes entre familiares, métodos ultrapassados de ensino e, até mesmo, problemas de adaptação escolar podem levar ao desinteresse e às dificuldades de aprendizagem. "Por isso é tão comum a criança sentir dificuldade na troca de escolas e na passagem para o 1º ano e o 5º ano do Ensino Fundamental, quando há uma mudança significativa em toda a metodologia de ensino", explica a especialista. Para a pedagoga, a massificação do ensino tem contribuído para o aumento de casos de crianças com dificuldades de aprendizado. "Não é que o fato vá trazer ao aluno uma dislexia ou um autismo. Mas certamente trará desmotivação, desinteresse, sentimento de incapacidade", afirma a pedagoga "Existem várias etapas no processo de aprendizagem, mas uma delas é fundamental: a motivação. A questão é como se motivar numa sala sem atrativos, com quase cinqüenta alunos dentro", indaga Janaína.Ainda que diferentes causas levem a diferentes tipos de dificuldades de aprendizagem, os sintomas podem ser muito semelhantes. "O desinteresse pelos estudos, o isolamento do restante dos alunos, a inibição ou a agitação, o interesse por atividades mais lúdicas, o relaxamento com material didático são as principais manifestações de quem pode estar sofrendo com uma dificuldade em aprender", afirma Janaína que pede aos pais que também fiquem alerta às mudanças comportamentais: "Crianças com dificuldades para fixar conteúdos podem mudar seu comportamento, variando seus sentimentos ao extremo. Podem, por exemplo, tornar-se agressivos ou chorões".A importância do tratamento Descobrir e tratar as causas que levam às dificuldades e distúrbios de aprendizado é de extrema importância já que, além da baixa autoestima, a falta de tratamento pode levar a um ciclo vicioso. "A criança sente-se inferiorizada ao ver que seu amiguinho está aprendendo, participando das atividades, sendo elogiado, ganhando notas boas e ela não. Isso cria uma aversão à escola e deixa duas alternativas ao pequeno: ou ele não quer mais ir à escola ou vai para fazer bagunça, comprometendo ainda mais sua concentração e seu desenvolvimento cognitivo", adverte Janaína.A fisioterapeuta Ana Paula Rodrigues (39 anos) sabe bem o que é isso. Seu filho Vitor (10 anos) sofre de dislexia e ano passado começou a ter problemas na escola. "Uma vez ele chegou em casa dizendo que era 'burro', pois todas as crianças aprendiam menos ele. Foi quando a escola me chamou, pois ele não queria mais fazer as leituras que a professora mandava e estava cometendo muitos erros ao escrever", conta Ana Paula. Ela procurou o apoio de uma psicóloga e de uma fonoaudióloga. "Não tem sido nada fácil, sobretudo, porque meu filho anda desmotivado na escola, mas tenho fé que com força de vontade tudo vai se resolver", afirma Ana Paula. O tratamento só é eficaz quando há uma parceria entre a escola e a família. "Por isso, aconselhamos os pais ou responsáveis a se dirigirem à coordenação da instituição de ensino para expor o problema a fim de buscarem juntos uma solução", justifica Janaína. Quanto aos pais, é importante que aceitem que a criança está encontrando problemas em aprender. "Observamos, constantemente, que crianças de fácil tratamento esbarram na não aceitação do diagnóstico pelos pais, por acreditarem que se trata de um déficit de inteligência. Isso acaba por impedir a busca imediata de profissionais que possam acompanhar e cuidar dessas crianças", alerta a especialista.Além disso, é um erro afirmar que a criança que hoje apresenta uma dificuldade/distúrbio de aprendizagem será um adulto mais ou menos inteligente. A história nos conta que a escritora Agatha Christie, o cientista Albert Einstein e os pintores Leonardo DaVinci e Pablo Picasso eram disléxicos. Quando diagnosticado a tempo, é possível reintegrar a criança ao processo de aprendizado sem nenhum prejuízo.À escola também é reservada função especial de zelar pelo aprendizado da criança, fazendo desse processo o mais prazeroso possível. "A instituição de ensino deve ter a preocupação de inovar a todo tempo, de trazer o momento da aprendizagem como algo prazeroso. O aluno precisa gostar de estar na escola. Como dizia o educador Paulo Freire: 'A escola tem que ser um espaço onde se aprenda mais que ler e escrever, que se aprenda a viver, a amar'", enfatiza Janaína. Para a especialista, a leitura pode ser uma grande ferramenta de estímulo à criança. "Se uma criança tem a possibilidade de (geneticamente) ser disléxica e, desde a primeira infância tem a leitura estimulada, esse fator irá colaborar na hora do tratamento".Vale lembrar que pais e educadores não devem corrigir o aluno com frequencia perante terceiros. "Estamos tratando de crianças que estão construindo a sua personalidade, portanto, não se deve menosprezar e usar essa dificuldade para constranger, discriminar e trazer essa criança a vexame", adverte Janaína. Além de fazê-la sentir-se inferior, ela pode acabar desenvolvendo uma timidez e uma vergonha excessiva ao falar, ler e escrever. Ao contrário, deve-se estimular o pequeno a enfrentar o problema, superando suas limitações.Além da família e dos professores, o tratamento costuma envolver uma equipe multifuncional formada por fonoaudiólogos, psicopedagogos, psicólogos e, em alguns casos, fisioterapeutas. "São eles que adotam programas que fazem com que os resultados de melhoria ocorram de forma consciente e progressiva", justifica Janaína. Em casos mais sérios se pode recorrer a medicações.Principais distúrbios de aprendizagem e tratamentoSão inúmeros os problemas de aprendizado. Alguns deles se tornaram mais conhecidos e frequentes no ambiente escolar. Conheça seus sintomas e formas de tratamento. Dislexia: é um distúrbio de aprendizagem relacionado à forma que o indivíduo percebe e processa letras, números e símbolos. Os sintomas costumam ser diferentes na primeira infância (0 a 3 anos) e na chamada segunda infância (4 a 6 anos). "Os mais novinhos apontam um atraso no desenvolvimento motor desde a fase de engatinhar, sentar e andar e também uma deficiência na aquisição na fala, desde o balbuciar ao pronunciar das palavras. Já os mais velhos costumam apresentar lentidão na realização de seus deveres bem como inventam, acrescentam ou omitem palavras ao ler e escrever e não gostam de fazer leitura em voz alta", revela Janaína. TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção): é um transtorno ligado ao comportamento do indivíduo. Pode estar relacionado a fatores genéticos ou externos. "O uso de substâncias psicoativas na gestação, complicações no parto e falta de oxigênio para o bebê, retardo mental, estresse emocional e intoxicação por chumbo são fatores que podem levar ao TDAH", afirma Janaína. Os sintomas mais comuns são: "Impulsividade, instabilidade emocional, falta de atenção, fala em demasia e agitação nos pés e mãos", esclarece a especialista. Distorgrafia: caracteriza-se por um grande número de erros ortográficos. "Costuma ser diagnosticada após o 3º ano do Ensino Fundamental, quando a criança já deve dominar a ortografia e sua relação com sons e palavras", explica Janaína. "Os sintomas mais comuns são pobreza no vocabulário, acarretando a elaboração de textos pequenos e pobres de informações, falta de vontade de escrever, dificuldade e coordenação das frases, troca de grafema", exemplifica a pedagoga. Discalculia: é um distúrbio neurológico onde o indivíduo apresenta grande dificuldade com números. "A criança tem problemas em operações matemáticas, conceitos, fórmulas, contagem, sinais numéricos e outros", esclarece Janaína. Autismo: é um transtorno que compromete o desenvolvimento psiconeurológico afetando a comunicação e o convívio social. "Atinge geralmente crianças do sexo masculino e suas causas ainda são desconhecidas, mas estudos apontam para fatores genéticos, toxina, poluição e infecções virais", afirma Janaína. "Crianças com autismo parecem surdas, não estabelecem contato com os olhos, agem de forma indiferente ao que acontece ao seu redor, são insensíveis à dor e possuem dificuldades de relacionamento com outras crianças", explica a especialista. "O tratamento dá-se através de medicamentos capazes de reduzir a hiperatividade e há escolas especializadas para quem apresenta esse tipo de distúrbio", esclarece a pedagoga.Afasia: é um distúrbio na percepção (compreensão) e expressão da linguagem. "Dá-se quando há perda da linguagem adquirida (insuficiência vocabular) de maneira normal e progressiva. Geralmente, é causada por lesão no sistema nervoso central (AVC, Traumatismo Craniano etc.)", explica Janaína. "Os sintomas são dificuldade nas articulações das palavras, uso excessivo das palavras 'isso' e 'aquilo' por dificuldade de se expressar e dificuldade na leitura", exemplifica a pedagoga.
Por Luana Martins

Medo de aluno

Provocado pela indisciplina na sala de aula, um distúrbio psicológico se alastra entre os professores: a fobia escolar."Muitos pais acreditam em tudo o que as crianças dizem e vêm procurar os orientadores para tirar satisfação. Isso é ruim porque, ao menor sinal de deslize, os alunos fazem o que querem. Por isso temos de ser duros. Sem respeito com os professores, é impossível qualquer aprendizagem e a escola perde o sentido."Neide Maria Negrini, 49 anos, professora de português na Escola Pueri Domus, em São Paulo.Há um problema novo nas escolas brasileiras: a indisciplina nas salas de aula assumiu tais proporções que muitos professores estão com medo dos alunos. Não se trata da violência que, nos bairros pobres, ultrapassa os muros escolares e ameaça fisicamente os educadores, mas sim de um fenômeno de subversão do senso de hierarquia que ocorre em grandes redes de ensino privadas e também está presente em colégios tradicionais. Uma explicação parcial para essa mudança de comportamento é a seguinte: os alunos ignoram a autoridade do professor porque o vêem como uma espécie de empregado ou prestador de serviços, pago por seus pais. Uma das queixas mais comuns dos professores diz respeito ao sentimento de impotência diante de alunos indisciplinados. Certas escolas agem como se a lógica do comércio – aquela que diz que o freguês sempre tem razão – também valesse dentro da classe. "Os professores estão sofrendo de fobia escolar, antes um distúrbio psicológico exclusivo das crianças", diz o psicanalista Raymundo de Lima, professor do departamento de fundamentos da educação da Universidade Estadual de Maringá, no Paraná. O professor que desenvolve fobia escolar sente um pavor profundo da escola e da sala de aula, acompanhado de alterações físicas como palpitações e tremores. Os ambulatórios psiquiátricos dos hospitais brasileiros já registraram o aumento dos casos de professores com distúrbios de ansiedade, entre eles a fobia escolar. "O número de professoras que têm procurado atendimento por estar estressadas, deprimidas ou sofrendo de crise do pânico aumentou cerca de 20% nos últimos três anos", diz Joel Rennó Júnior, coordenador do Projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher do Hospital das Clínicas de São Paulo. Até meados dos anos 90, esse tipo de distúrbio psicológico era um quase monopólio daqueles professores que trabalham em escolas públicas. Hoje, afeta igual quantidade de educadores de colégios particulares. Marcos Hideaki Ono, paulista de 37 anos, ex-professor do ensino médio. "Os alunos me enlouqueciam, por isso resolvi deixar o ensino e me dedicar a um doutorado. Eu me sentia humilhado. Não havia nenhum respeito pelos professores. Durante o intervalo, meus colegas chegavam à sala de convivência tremendo de raiva. Alguns choravam. E o pior é que não recebíamos apoio nem dos pais, que protegem demais os filhos, nem dos coordenadores, que têm medo de perder alunos."Sempre fez parte do desafio do magistério administrar adolescentes com hormônios em ebulição e com o desejo natural da idade de desafiar as regras. A diferença é que, hoje, em muitos casos, a relação comercial entre a escola e os pais se sobrepõe à autoridade do professor. "Ouvi em muitas reuniões com coordenadores o lembrete de que os pais e os alunos devem ser tratados como clientes e, como tais, têm sempre razão", diz Iole Gritti de Barros, de 54 anos, professora aposentada. Durante 33 anos ela ministrou aulas de história para alunos da 5ª série em colégios particulares de São Paulo. Em algumas escolas, o temor de desagradar aos pais e perder os alunos acaba se sobrepondo à necessidade de impor ordem na sala de aula. A postura leniente com a disciplina explica-se, em parte, pelo número crescente de carteiras vazias. Em cinco anos foram abertas 2.000 novas instituições particulares de ensino fundamental e médio, enquanto a quantidade de alunos permaneceu inalterada. Todo professor se prepara para as diabruras tradicionais dos alunos, como colocar tachinhas na cadeira em que ele vai sentar ou barbantes estendidos no chão da sala para vê-lo tropeçar. São comportamentos que fazem parte do folclore escolar. A diferença agora é que em muitas escolas os bagunceiros não são mais castigados. "Há quarenta anos um jovem que adotasse esse tipo de postura seria punido pela escola e receberia uma bronca em casa, tornando-se motivo de vergonha para os pais", diz a pedagoga carioca Tania Zagury, autora do livro Escola sem Conflito: Parceria com os Pais. "Hoje, a punição é cada vez mais rara, tanto na escola como em casa." Os pais têm larga parcela de culpa no que diz respeito à indisciplina dentro da classe. É uma situação cada vez mais comum: eles trabalham muito e têm menos tempo para dedicar à educação das crianças. Sentindo-se culpados pela omissão, evitam dizer não aos filhos e esperam que a escola assuma a função que deveria ser deles: a de passar para a criança os valores éticos e de comportamento básicos. É uma relação contraditória. Os pais entregaram a educação dos filhos aos colégios, mas alguns acham exageradas as exigências escolares ou as punições impostas aos indisciplinados. Também se vêem no direito de deixar o filho na escola com atraso ou buscá-lo mais cedo, a pretexto de viajar ou ir ao dentista – como se o horário de estudo não tivesse importância. Sem poder impor regras aos alunos, os professores acabam ficando impossibilitados de fazer aquilo que os pais esperam deles. A escola é um lugar onde as crianças aprendem a convivência em sociedade, com todas as suas regras. Ao perceberem que os pais estão sempre do seu lado, os estudantes ficam com a impressão de que tudo é permitido. "Um aluno chegou a me dizer que não iria fazer o que eu estava pedindo porque, como o pai dele pagava a escola, ele se comportava como queria lá dentro", diz a pernambucana Sandra Helena de Andrade, professora de português em duas escolas privadas do Recife. "Nas reuniões com os coordenadores eles exigiam que a gente tratasse os alunos como clientes, lembrando que freguês tem sempre razão. Um absurdo. Eu sei que a escola é uma empresa, mas tratar os alunos como clientes ou patrões é uma total inversão dos papéis. Uma vez um aluno me disse que não ia me obedecer porque quem pagava a escola era ele. Fiquei furiosa. Não sei o que será desses alunos, com valores morais deturpados. Eles acham que podem tudo."Iole Gritti de Barros, 54 anos, professora de história aposentada.O professor acaba submetido a múltiplas pressões. É seu dever ensinar, impor disciplina aos alunos e, ao mesmo tempo, evitar que a escola perca "clientes". "Os esforços para passar a matéria equivalem a uma parcela mínima do desgaste físico e mental do professor", diz Marcos Hideaki Ono, de São Paulo, professor de física durante dez anos. O restante da energia é aplicado para controlar a classe, motivar os alunos e, às vezes, ensinar aos adolescentes princípios morais e éticos básicos. Ono, de 37 anos, conta que não suportava mais a agressividade dos alunos e, recentemente, abandonou o ensino para seguir carreira acadêmica em física. "Nos intervalos das aulas, era comum ver colegas tremendo de raiva ou chorando na sala de convivência dos professores", diz Ono. Uma de suas colegas pediu demissão depois que os alunos começaram a atirar-lhe moedas, insinuando que ela, por ser negra, era indigente. A autoridade do professor é importante no processo de aprendizagem do aluno. No passado, o respeito ao mestre era imposto de forma autoritária, sem deixar espaço para um relacionamento informal. Castigos e palmadas eram considerados excelentes métodos para moldar a personalidade de alunos rebeldes e prepará-los para a vida adulta. Em geral, as escolas incorporavam um estilo disciplinar de inspiração militar. Esse modelo começou a ser substituído na década de 60, com a difusão da psicologia e de métodos pedagógicos que valorizavam o respeito à individualidade da criança e do estudante. Passou a valer o conceito de que punir e reprimir os alunos era ruim para o desenvolvimento da criatividade e do espírito crítico. Nas décadas de 70 e 80, ainda predominava um meio-termo entre o respeito à autoridade do professor e a liberdade concedida aos alunos. "Nos últimos anos, esse equilíbrio foi desfeito pela postura dos pais de se colocar sempre em defesa dos filhos e pela necessidade das escolas de manter os alunos a qualquer custo", diz Dante Donatelli, coordenador do Colégio Sidarta, de São Paulo. Com reportagem de José Eduardo Barella. O desafio de ensinar na periferiaMartins: agredido no primeiro mês de trabalho. Se o professor de escola particular precisa ter jogo de cintura para lidar com a falta de disciplina em classe, o de rede pública necessita ser pós-graduado em regras de sobrevivência. Ambos defrontam com o problema da falta de disciplina, mas as salas superlotadas dos bairros mais pobres incluem agravantes. O jovem da periferia entra na escola sem grandes perspectivas de futuro e essa frustração acaba se refletindo em sua relação com o professor. O aluno nãosonha em ser médico ou advogado. Quer ser pagodeiro, jogador de futebol; o que importa é fazer sucesso e ganhar dinheiro rápido. Essa inversão de valores contém enorme potencial de violência. "Quem sobressai socialmente numa escola de periferia não é mais o aluno estudioso, mas o valentão, o sujeito esperto", diz Douglas Martins Izzo, professor de geografia numa escola estadual em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. "As agressões verbais são as mais comuns, mas eu já fui ameaçado dentro da classe por um aluno que mostrou uma arma escondida sob o casaco e me disse: 'Aqui dentro você é o professor, mas lá fora é uma pessoa comum'." De acordo com uma pesquisa da Unesco de 2002, mais da metade dos professores da rede pública de ensino do Brasil já foi agredida por alunos dentro ou nos arredores da escola. O tráfico de drogas é apontado pelos professores como o grande desafio da escola pública. Muitos alunos são usuários e o tráfico age à vontade. O diretor e os professores sabem quem são os traficantes, mas se recusam a delatá-los à polícia por uma questão de sobrevivência. Em Itaquaquecetuba, uma professora que decidiu dar nomes ficou com o rosto deformado de tanto apanhar. Um funcionário que tentou impedir a venda de drogas levou um tiro dentro da própria escola. "Nas áreas urbanas mais pobres, as crianças vivem em um ambiente de violência em casa e no bairro, o que acaba se refletindo dentro da escola", diz a socióloga Miriam Abramovay, vice-coordenadora do Observatório de Violências nas Escolas, da Universidade Católica de Brasília, e coordenadora da pesquisa da Unesco. O professor de inglês Carlos Gomes Martins, que desde o ano passado dá aulas em uma escola estadual em Poá, também na Grande São Paulo, enfrentou uma situação de perigo logo no primeiro mês de trabalho. "Um aluno do ensino médio com o qual eu havia discutido partiu para cima de mim para me agredir durante a aula", diz Martins. "Por sorte foi contido pelos colegas." Uma diferença entre a escola pública e a particular diz respeito ao comportamento dos pais. Na rede privada, o professor é visto como um prestador de serviço e a família reage mal quando o aluno é repreendido. Na periferia, ao contrário, os pais vêem o professor como a última chance de os filhos terem educação. Significa que, em geral, apóiam o professor quando ele é severo com seus filhos. O retrato da indisciplina Dante Donatelli, coordenador de escola e autor do livro Quem Me Educa? – A Família e a Escola Diante da (In)Disciplina, compilou dez atitudes comuns em colégios particulares de São Paulo e que demonstram o desrespeito dos alunos em relação aos professores: 1. Tratar o professor como empregado;2. Jogar objetos no professor em sala de aula;3. Xingar o professor com palavrões;4. Negar-se a sair da sala de aula quando expulso;5. Exigir o direito de escolher a data de entrega dos trabalhos escolares;6. Ignorar a presença do professor em classe;7. Entrar e sair da aula à vontade, sem se importar com o professor;8. Discutir os critérios das notas das provas dadas pelo professor;9. Dar ordens ao professor;10. Negar-se a fazer prova e entregar atestados médicos falsos como desculpa.
Revista Veja, edição nº 1904, 11/05/2005.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O ipê à beira da estrada.



Não quero perder a capacidade de admirar as belezas do mundo. O ipê florido à beira da estrada é um imperativo que reconheço bíblico. Nele há uma fala de Deus me pedindo calma. A sacralidade da vida ganhou voz em estruturas singelas, e solicita que eu me proste.
É santo o que os meus olhos enxergam. A cor amarela encontra moldura no azul dos contornos do céu. Ao longe, o verde completa o quadro. Paira sobre a cena um mistério raro, como se houvesse uma névoa a me recordar que a raridade da beleza é uma epfania divina.
O meu desejo é deixar de seguir o caminho que me leva ao meu destino. Impossibilitado da parada, ouso diminuir a marcha. Quero a cena dentro de mim. Ouso rezar a Deus que me permita registrar na memória a beleza que não posso aprisionar.
Olho para os que passam. A velocidade dos carros não permite que os seus ocupantes vejam o que vejo. Eles estão privados da mística que só pode ser compreendida quando os passos perdem a pressa. Estão ocupados demais com suas urgências práticas. É preciso chegar. Há muitas iniciativas a serem tomadas e o tempo não pode ser perdido.
Enquanto isso, o ipê se ocupa de sua florada amarela. Cumpre no tempo a proeza de ser um sentido oculto e deslumbrante para os distraídos que o percebem.
Nele há uma pequena parte da beleza do mundo que tive a graça de descobrir. E só por isso diminuí o ritmo da minha vida.
Olhei com calma para sua beleza e nele percebi o sorriso do Criador. Sorriso de Pai, que vez em quando, faz questão que seus filhos diminuam suas velocidades para uma breve brincadeira redentora.
Eu aceitei. Brinquei com Ele. Fiquei mais feliz!

O peso que a gente leva..



Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas. Excedem aos tamanhos permitidos. Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão para ser despachado?
As perguntas são muitas... E se eu tiver vontade de ouvir aquela música? E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez?
Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou. Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra nada.
É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências. E nisso mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo que não temos. É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.
E então descobrimos o motivo que levou o poeta cantar: “Bom é partir. Bom mesmo é poder voltar!” Ele tinha razão. A partida nos abre os olhos para o que deixamos. A distância nos permite mensurar os espaços deixados. Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue sendo. Ao ver o mundo que não é meu, eu me reencontro com desejo de amar ainda mais o meu território. É conseqüência natural que faz o coração querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou.
É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.
Vida e viagens seguem as mesmas regras. Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver. Por isso é tão necessário partir. Sair na direção das realidades que nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias... Hospitais, asilos, internatos...
Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne, mas que de alguma maneira pode nos humanizar.
Andar na direção do outro é também fazer uma viagem. Mas não leve muita coisa. Não tenha medo das ausências que sentirá. Ao adentrar o território alheio, quem sabe assim os seus olhos se abram para enxergar de um jeito novo o território que é seu. Não leve os seus pesos. Eles não lhe permitirão encontrar o outro. Viaje leve, leve, bem leve. Mas se leve.

domingo, 19 de julho de 2009

MEU DEUS!!!!!!! Quanta burrice!

Nasa apagou fitas originais da ida à Lua


As fitas originais com as imagens da Apollo-11, primeira missão tripulada à Lua, perderam-se para sempre, afirmou a Nasa na quinta-feira (16).
Em entrevista coletiva marcada para divulgar uma versão restaurada de imagens feitas a partir de uma transmissão televisiva, em 20 de julho de 1969, a agência espacial reconheceu que as fitas que registraram diretamente a alunissagem foram apagadas sem querer para que fossem reutilizadas.
Nasa
Trecho do vídeo restaurado a partir de cópias secundárias, divulgado ontem pela Nasa; fita original foi apagada, diz agência
Ontem, no aniversário de 40 anos da partida de Michael Collins, Edwin "Buzz" Aldrin e Neil Armstrong para a Lua, a Nasa apresentou apenas alguns trechos da restauração. O trabalho completo será divulgado somente em setembro.
Mesmo com melhorias, as imagens de segunda mão ainda têm manchas e com chuviscos. O trabalho está sendo feito em parceria com uma empresa de restauração de Hollywood. Uma pequena amostra dos vídeos pode ser vista no site da Nasa (www.nasa.gov).
Esta foi a primeira vez que a agência espacial americana admitiu que não tem mais como recuperar as fitas originais. Em 2006, a Nasa reconhecera que havia perdido o material, mas afirmava ainda ter esperança de recuperá-lo.
Foi só agora, em 2009, que Richard Nafzger, engenheiro da Nasa, descobriu onde elas foram parar: estavam em um estoque de 200 mil fitas que foram apagadas e reutilizadas nos anos 1970 e 1980 para economizar dinheiro.
Essas fitas foram utilizadas para gravar missões posteriores ou até para registrar dados eletrônicos de satélites (telemetria). Ou seja, as imagens que impressionaram o mundo inteiro podem ter sido substituídas por código binário.
Segundo Nafzger, havia pouco interesse sobre as fitas na época porque o objetivo maior do governo dos EUA para efeito de propaganda era a transmissão ao vivo.
As cópias dos vídeos sobre as quais a nova restauração foi feita foram tiradas dos arquivos da rede de TV CBS e do acervo da própria Nasa: alguém havia apontado uma filmadora para as telas que exibiam as transmissões originais e guardado algumas das fitas.
A Nasa acredita que as fitas originais poderiam conter dados digitais enviados da Lua. Eles poderiam se converter em imagens com definição muito melhor do pouso da Apollo-11 do que aquelas que foram transmitidas pela TV em 20 de julho de 1969, quando Armstrong e Aldrin se tornaram os primeiros humanos a pisar em um outro corpo celeste.
A técnica utilizada pelas emissoras não era muito avançada: os câmeras eram posicionados perto de um telão gigante em Houston, na base de controle da Nasa, e retransmitiam o que estava passando.Nafzger diz que ainda podem existir outras cópias perdidas das transmissões originais de 1969 e que ele pretende continuar procurando.
As imagens dos astronautas andando na superfície lunar e ficando a bandeira americana no chão foram vistas por 600 milhões de pessoas no mundo ao vivo, estima-se.
A Lowry, empresa que está restaurando os vídeos, trabalha com a digitalização de antigos filmes hollywoodianos. Eles pretendem juntar arquivos de diferentes origens para fazer um novo vídeo do pouso.
Questionado ontem, Nafzger diz não se preocupar com a ideia de que teorias conspiratórias de que o homem nunca chegou à Lua possam ganhar força com uma empresa de Hollywood reeditando as fitas."A empresa está restaurando vídeo histórico. Não faz diferença de onde ela é", disse.
Nafzger participou, em 1969, da equipe que trabalhou para conseguir que as imagens da Lua chegassem em tempo real à Terra, a 386 mil quilômetros de distância. Foi um desafio tecnológico quase tão grande quanto o de mandar seres humanos para o satélite da Terra.

Ciro debocha de São Paulo?


Um dos fatos novos da política é uma possível candidatura de Ciro Gomes, apoiado por Lula, ao governo de São Paulo. Essa candidatura me parece um deboche.
Não tem importância que Ciro Gomes não viva nem tenha vínculos em São Paulo. Ele é extremamente inteligente, tem uma rica experiência administrativa em posições municipais, estadual e federais e, com ajuda do PT, ganharia uma base partidária e social. Isso faz com que consiga desenvolver um plano de governo. Se vier alguém de fora com boas ideias, por que não? Para ser sincero, até gosto da ideia de um governador nordestino assim como gostei da ideia de uma prefeita nordestina, quando Erundina se elegeu. Somos, afinal, o maior Estado nordestino.
Pode-se argumentar que, na verdade, ele estaria criando um trampolim para cargos maiores. Mas aí pouca gente seria candidata; para Serra, a prefeitura e o governo estadual são trampolins para o Planalto.
A candidatura Ciro parece um deboche porque nunca vi dele qualquer admiração por São Paulo. Movido a estereótipos e simplificações, em muitas de suas falas, os interesses de São Paulo eram contra os interesses do Brasil, no geral, e do Nordeste, em particular. Mostrou-se por várias vezes hostil, vendo aqui um complô maligno das elites contra os pobres, com ramificações em todo o país.
Para completar, entre seus primeiros interlocutores para vitaminar a candidatura, Ciro escolheu Paulo Maluf, este, sim, o pior da elite paulista.
Só pode ser deboche.

O que é Desenho Universal?

O conceito do Desenho Universal se desenvolveu entre os profissionais da área de arquitetura da Universidade da Carolina do Norte - EUA, com objetivo de definir um projeto de produtos e ambientes para ser usado por todos, na sua máxima extensão possível, sem necessidade de adaptação ou projeto especializado para pessoas com deficiência.
O projeto universal é um processo de criar os produtos que são acessíveis para todas as pessoas, independente de suas características pessoais, idade ou habilidades. Os produtos universais acomodam uma escala larga preferências e de habilidades individuais ou sensoriais dos usuários. A meta é que qualquer ambiente ou produto poderá ser alcançado, manipulado e usado, independentemente do tamanho do corpo do indivíduo, sua postura ou mobilidade. O Desenho Universal não é uma tecnologia direcionada apenas aos que dele necessitam: é desenhado para todas as pessoas. A idéia do Desenho Universal é, justamente, evitar a necessidade de ambientes e produtos especiais para pessoas com deficiência, assegurando que todos possam utilizar com segurança e autonomia os diversos espaços construídos e objetos.
Conheça os 7 princípios do Desenho Universal. Em 1987, o americano Ron Mace, arquiteto que usava cadeira de rodas e um respirador artificial, criou a terminologia Universal Design. Mace acreditava que não se tratava do nascimento de uma nova ciência ou estilo, mas sim de uma percepção de aproximarmos as coisas que projetamos, tornado-as utilizáveis por todas as pessoas.
Na década de 90, o próprio Ron criou um grupo com arquitetos e defensores destes ideais para estabelecer os sete princípios do desenho universal. Estes conceitos são mundialmente adotados para qualquer programa de acessibilidade plena.
São eles:
1. Igualitário - Uso Equiparável.São espaços, objetos e produtos que podem ser utilizados por pessoas com diferentes capacidades, tornando todos os ambientes iguais.
2. Adaptável - Uso Flexível.Design de produtos que atendem pessoas com diferentes habilidades e diversas preferências, sendo adaptáveis a qualquer uso.
3. Óbvio - Uso Simples e Intuitivo.De fácil entedimento para que qualquer pessoa possa compreender, independente de sua experiência, conhecimento, habilidade de linguagem ou nível de concentração.
4. Conhecido - Informação de Fácil Percepção.Quando a informação necessária é transmitida de forma a atender as necessidades do receptador, seja ela uma pessoa estrangeira, com dificuldade de visão ou audição.
5. Seguro - Tolerante ao Erro.Previsto para minimizar os riscos e possíveis consequências de ações acidentais ou não intencionais.
6. Sem esforço - Baixo Esforço Físico.Para ser usado eficientemente, com conforto e o mínimo de fadiga.
7. Abrangente - Divisão e Espaço para Aproximação e Uso.Que estabelece dimensões e espaços apropriados para o acesso, alcance, manipulação e uso, independentemente do tamanho do corpo (obesos, anões etc.), da postura ou mobilidade do usuário (pessoas em cadeira de rodas, com carrinhos de bebê, bengalas etc.).


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Censo Inclusão é aprovado em primeira votação


O PL 258/2007, que institui o Censo Inclusão na cidade de São Paulo, foi aprovado em primeira discussão nesta segunda-feira, 29 de junho, em Plenário na Câmara Municipal.
"O objetivo do Censo Inclusão é nos dar dados reais sobre quantos são, onde moram e a situação sócio-econômica das pessoas com deficiência em nossa cidade", explica Mara Gabrilli. "Este mapeamento é uma ferramenta importantíssima que dará eficiência para o planejamento de políticas públicas para estas pessoas. São décadas de exclusão social que precisam ser compensadas para que tenhamos acesso aos equipamentos de saúde, educacionais, esportivos, culturais, assim como ao mercado de trabalho e transporte público", conclui a vereadora.O PL aguarda uma segunda discussão e, se aprovado, seguirá para sanção do Prefeito.Acompanhe a tramitação do PL 258/2007:http://vereadoramaragabrilli.com.br/projetos-de-lei/50-pl-258-de-2007.html

sábado, 18 de julho de 2009

A última volta do parafuso

Luiz Weis

Deu no Globo que o ministro da Comunicação do governo, Franklin Martins, disse na reunião ministerial da segunda-feira, a propósito da crise no Senado, que “a oposição se alimenta da imprensa” e “a imprensa se alimenta da oposição”.
Mas aparentemente não veio da oposição, e sim de um órgão do governo, o prato mais indigesto servido pela imprensa ao presidente do Senado, José Sarney, desde que, em 10 de junho, o Estado destampou o escândalo dos atos secretos do diretor-geral da casa, Agaciel Maia, nomeado para o cargo em 1995 pelo próprio Sarney.
Nesse mês e pico, o jornal publicou sucessivas matérias sobre as nomeações sigilosas (e uma exoneração) de parentes e afilhados políticos do senador. As revelações formam um robusto corpo de indícios de que, para ele, os atos de Agaciel não tinham nada de secreto, embora a comissão que examinou as denúncias não tenha apontado o envolvimento de qualquer senador com o vexame.
Eis que nesta quinta-feira, 16, o mesmo Estado traz uma história que chega mais perto do que qualquer outra de provar o conluio de Sarney com Agaciel para beneficiar membros do seu clã.
Segundo os repórteres Rodrigo Rangel e Leandro Colon, no curso da Operação Boi Barrica da Polícia Federal – que acabou indiciando Fernando Sarney, o filho que toca a rede de comunicação da família, por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha –, grampos telefônicos autorizados flagraram um caso de tráfico de influência do qual não se imagina como o senador possa se desvencilhar.
Entre março e abril do ano passado, Maria Beatriz, filha de Fernando, trocou telefonemas com o pai sobre a nomeação do namorado, Henrique Bernardes, para um cargo que ficara vago quando o meio-irmão dela, que o ocupava, se demitiu.
”O próprio Sarney aparece nas conversas”, informa a reportagem. Ele “recebeu orientação para que enviasse o currículo de Bernardes a Agaciel. Deu certo. Em 10 de abril [16 dias depois que o meio-irmão foi exonerado] saiu a nomeação de Bernardes – por meio de um ato secreto assinado por Agaciel”.
Não está claro se foi o filho, a neta ou uma terceira pessoa quem “orientou” Sarney a encaminhar o currículo.
Mais devastador do que isso só uma gravação do senador acertando os ponteiros com o diretor para garantir o bem-bom do namorado da neta.
Vindo de onde tenha vindo, o vazamento, em suma, leva jeito de ser a volta do parafuso que faltava para atarraxar Sarney aos atos secretos.
Em tempo: dependendo de como ela o faz – e isso precisa ser enfatizado ao máximo – nada de errado no fato de a imprensa se alimentar da oposição para incomodar os poderosos de turno. No mundo inteiro, é o que permite ao jornalismo independente investigar os podres dos governos. Para servi-los chega a imprensa chapa-branca.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Jornal não tira férias

Luiz Weis


O Congresso entra em recesso na sexta-feira, 17, depois de um semestre memorável. Foi a primeira vez que as suas duas casas, primeiro a Câmara, depois o Senado, foram devassadas pela imprensa em um mesmo período.
Devassa exaustiva? Nem de longe. O leitor do Observatório terá encontrado nas últimas semanas um bom número de artigos sobre as omissões da cobertura da atual temporada de escândalos parlamentares – além da proverbial questão que não quer calar: por que os jornais só agora destrincharam malfeitorias crônicas do Legislativo, como os abusos com as verbas indenizatórias e a farra das passagens aéreas, que não eram propriamente segredos de Estado?
Isto posto, é importante manter as coisas em perspectiva. Não foi por iniciativa própria que a imprensa expôs uma parte do que os tapetes do Congresso mal escondiam. Soube-se pelos próprios jornais, aliás, que partiram dos políticos contrariados com a volta de José Sarney pela terceira vez à presidência do Senado as dicas sobre a sua proveitosa sociedade de 14 anos com o diretor geral Agaciel Maia.
Mas o que seria do jornalismo investigativo sem o desejo de vingança dos políticos ou burocratas que levaram a pior em confrontos na chamada intimidade do poder?
[De vez em quando, é bem verdade, testemunhas desinteressadas, ou melhor, interessadas na defesa da moralidade, também procuram repórteres para vazar episódios de corrupção, mas raramente elas estão por dentro das coisas tanto quanto aqueles a quem as circunstâncias levam a entregar seus rivais no jogo de que uns e outros participam.]
De toda maneira, seja porque as suas fontes sabiam o que diziam, seja porque o reportariado não as seguiu cegamente, mas tratou de conferir se as confidências recebidas eram sérias, o resultado foi literalmente respeitável.
Na Câmara, o castelão Edmar Moreira perdeu a corregedoria, e alguns paliativos foram adotados para tornar menos opacas as contas de suas excelências e restringir as emissões de passagens aéreas.
No Senado, o barão Agaciel Maia perdeu o feudo depois que a Folha revelou que ele tinha escondido da Justiça uma mansão de R$ 5 milhões, e corre o risco de perder o direito à opulenta aposentadoria que o espera se for até o fim o inquérito sobre os atos secretos de que é acusado e dos quais o país ficou sabendo graças a um furo do Estado.
Mas o que vai entrar mesmo para os anais é a liquidação moral de Sarney pelo mesmo Estadão. Menos pelas nomeações, favorecimentos e tráfico de influência por atacado a favor da parentela e da cupinchada amiga [sem falar do auxílio-moradia recebido indevidamente, garimpado pela Folha] do que pelos desdobramentos do escândalo do desvio de R$ 500 mil do R$ 1,3 milhão do patrocínio da Petrobras à fundação que leva o seu nome.
Foi uma bela cena de jornalismo. No dia em que o Estado revelou os pagamentos a empresas fantasmas e a emissoras da família, Sarney teve a má ideia de dizer em plenário que não tinha nenhuma responsabilidade administrativa pelos atos da fundação que ele criara para perpetuar a memória da sua carreira política iniciada em 1952.
Duas edições depois, em 11 de julho, os repórteres Rodrigo Rangel e Leandro Colon mostraram que, pelos estatutos da entidade, ninguém ali detém tanta autoridade quanto o seu presidente vitalício, com poder de veto sobre as decisões do conselho curador de que também é presidente, cabendo-lhe, entre outras atribuições, “assumir as responsabilidades financeiras” da fundação.
Em suma, o jornal o apanhou numa grossa mentira à qual não se imagina como sobreviverá no comando do Senado, apesar do apoio até aqui incondicional do presidente Lula e da tropa de choque comandada por Renan Calheiros que o blindará no Conselho de Ética da casa.
Segundo uma teoria, o segundo semestre será outro jogo, dominado pela CPI da Petrobras. Vai depender da imprensa e do espírito de manada que a guia quase sempre. Matéria-prima, em todo caso, não faltará.
Apenas o debulhamento dos 663 atos secretos que Sarney “anulou” já poderá desbastar o caminho para novas histórias bigodudas sobre os subterrâneos do Senado. E tem o filão das suas relações com o negociante Edemar Cid Ferreira, do falido Banco Santos.
A imprensa termina este primeiro tempo da cobertura dos podres do Congresso com um feito incomum: nenhuma de suas revelações foi desmentida pelos implicados. Com esse retrospecto, a última coisa que dela se espera é que entre em recesso.

Os limites da liberdade



Luiz Weis

O Estadão comeu mosca (“Câmara libera internet na propaganda eleitoral”), o Globo foi ao ponto (“Regras para internet causam polêmica”) e a Folha mandou ver (“Câmara aprova lei eleitoral que limita cobertura on-line”) no noticiário da quinta-feira, 9, sobre a aprovação, na véspera, do projeto que reforma as regras eleitorais no país. O projeto precisa ainda passar pelo Senado.
O erro do Estado foi destacar a autorização dada aos candidatos e partidos em campanha para fazer propaganda em seus sites, blogues, comunidades de relacionamento e ferramentas de envio de mensagens pessoais.
Muito mais importantes são as normas de comportamento estabelecidas pelos deputados a todos quantos publicam na rede – dos chamados provedores de conteúdo a blogueiros e internautas em geral.
Delas se pode dizer, com certeza, que causam polêmica. Ou, menos certamente talvez, que limitam a “cobertura” das campanhas eleitorais.
O ponto mais polêmico, do qual decorrem as limitações, quaisquer que sejam, é a equiparação da internet às emissoras de rádio e TV. Aliás, polêmico é modo de falar. A equivalência não se sustenta.
Emissoras são concessões públicas. O Congresso, portanto, tem o direito de estipular o que podem e não podem fazer durante uma campanha eleitoral. Portais, sites, blogues etc etc são iniciativas que independem de permissão, autorização ou concessão oficial. Assim como jornais e revistas.
Goste-se disso ou não, uma TV não pode promover debates apenas entre alguns candidatos, os mais bem situados nas pesquisas, que atraem o interesse da grande maioria dos eleitores. O formato e o número de debatedores deve ser decidido de comum acordo com todos eles (como ainda é) ou com 2/3 deles (como passará a ser se o projeto votado na Câmara virar lei na forma atual).
Um periódico impresso pode sabatinar ou confrontar quais e quantos candidatos queira – e arcar com o prejuízo para a sua credibilidade se a sua seleção for patentemente facciosa. Assim também deveria ser na internet, não só por uma questão de lógica elementar, mas também porque o Tribunal Superior Eleitoral já decidiu que o que vale para a mídia impressa vale para a internet.
A Câmara resolveu que os candidatos podem fazer propaganda paga em jornais e revistas, até o limite de 10 anúncios. Na internet, não.
A Câmara resolveu que debates online podem ser realizados no período da campanha, que começa no dia 5 de julho dos anos eleitorais. (Outra jabuticaba: as campanhas devem começar quando os políticos quiserem – aliás, é o que sempre fazem; o horário da propaganda gratuita é que tem data para ir ao ar.) Mas os debates têm que obedecer à regra dos 2/3.
“O jornalismo na internet foi e sempre será permitido”, argumenta o deputado Flávio Dino (PC do B-MA), relator do projeto. “O que estamos propondo é que, além da liberdade, haja equidade.”
Vamos nos entender. A exigência de equidade restringe a liberdade de imprensa. Isso pode, ou não, se justificar. Mas que restringe, restringe – assim como toda intervenção do poder público de combate às desigualdades sociais é uma restrição à liberdade econômica absoluta.
A Câmara resolveu implicitamente que a internet pode noticiar, comentar e analisar o desenrolar das campanhas. Mas, explicitamente, abre espaço para os candidatos alegar que a notícia, o comentário e a análise são formas disfarçada de propaganda de seus adversários. Ou ainda, que foram injuriados, difamados ou caluniados por palavras ou imagens, tendo direito de resposta – a que se dará o mesmo tamanho e pelo dobro do tempo no ar das mensagens tidas como injuriosas, difamatórias ou caluniosas que, naturalmente, terão de ser suprimidas.
A Folha entendeu que isso cerceia a “cobertura” online. No bem-produzido quadro “Campanha limitada”, o colunista Fernando Rodrigues escreve que “as medidas terão efeito inibidor da liberdade de expressão na internet, cuja característica principal é o caráter pessoal e irreverente de blogs e sites de pessoas físicas”.
E ainda, sobre o risco de interdição de sites, blogues e redes de relacionamento considerados transgressores, “será impossível haver liberdade de expressão e informação se for necessário evitar humor que possa eventualmente ridicularizar algum político”.
De novo, vamos nos entender. Quando for o caso e na dose certa, a cobertura da maioria dos fatos pode conter humor e irreverência. Mas, diferentemente do que se aplica às manifestações pessoais na internet, nem uma coisa nem a outra são “características” de uma reportagem – a expressão por excelência do que se entende por cobertura.
Daí a dúvida se, por isso, a lei eleitoral em tramitação no Congresso tolhe o acompanhamento jornalístico de uma eleição, como sustenta a Folha.
Já no Globo, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) se insurge contra a regulamentação do tratamento das campanhas no que considera “território livre, anárquico, sem Estado”. Ele observa que “as sanções aos provedores resultarão em censura dos conteúdos”.
Eles serão responsabilizados, por exemplo, se um internauta atacar um candidato ou levantar a bola de outro.
Aí entra a pergunta que retoma a questão das fronteiras da liberdade na internet: ela deve ser irrestrita?
Muitos sites e blogues, como este, filtram os comentários recebidos, conforme critérios que são do conhecimento dos comentaristas e que basicamente tratam de preservar padrões elementares de civilidade no debate online. O Observatório da Imprensa, por exemplo, adverte:
“Este é um espaço de diálogo e troca de conhecimentos que estimula a diversidade de idéias e pontos de vista. Não serão publicados comentários com xingamentos e ofensas ou que incitem intolerância ou crime. Os comentários devem ser pertinentes ao tema da matéria e aos debates que naturalmente surgirem. Evite vulgaridades e simplificações grosseiras. Não escreva em maiúsculas: isso dificulta a leitura do texto e, na linguagem da internet, é interpretado como gritos. Mensagens que não atendam a estas normas serão deletadas, e os comentaristas que habitualmente as transgredirem poderão ter interrompido seu acesso a este fórum.”
Em outros países, vale tudo – embora a tendência seja de barrar os golpes abaixo da linha da cintura sob a forma de palavras que, por isso mesmo, devem se tornar impublicáveis. Sem falar nas incontroláveis alegações sem um fio de comprovação de que fulano(a) é isso ou aquilo, e que se propagam, em sentido metafórico e literal, à velocidade da luz.
A lama que rolou na blogosfera americana na última campanha presidencial – com tiradas racistas e a invencionice de que Obama é um muçulmano enrustido – foi qualquer coisa de pornográfico.
Campanhas eleitorais estão entre os eventos que notoriamente favorecem o transbordamento do esgoto humano. Sendo assim, a censura que o projeto de reforma eleitoral induzirá os provedores de conteúdo a adotar e para a qual o deputado Miro Teixeira alerta parece justificada.
Nem tudo que se pensa se deve escrever. Nem tudo que se escreve deve ser publicado. Nem tudo que se publica deve ficar impune. No caso particular de uma eleição, há mais: deixado à solta na internet, o rancor das disputas políticas rebaixa a democracia e faz crescer a incivilidade que degrada as sociedades.

Por que a imprensa brasileira não pede a ajuda dos leitores para investigar escândalos políticos?



Carlos Castilho


Você já imaginou o que aconteceria se os eleitores brasileiros pudessem publicar tudo o que sabem sobre nepotismo, corrupção e uso indevido de dinheiro público no Senado federal?

Bem, é difícil imaginar mas pelo menos uma coisa já é possível prever: o volume de informações que seria colocado à disposição do público seria maior do que o coletado por repórteres de jornais, revistas e emissoras de radio e TV.

Não é que os jornalistas sejam incompetentes ou desinteressados. Acontece que o número de leitores e espectadores é muito maior e a soma do que eles sabem é muito, mas muito mesmo, superior à capacidade operacional dos jornalistas.

Tudo bem, diriam alguns, mas as pessoas comuns não têm onde publicar o que sabem. Até pouco tempo, isto era verdade, mas a popularização da internet democratizou e diversificou as ferramentas de publicação.

São os blogs, os fóruns, os comentários postados em páginas web e o twitter. Na sua maioria são quase gratuitas e podem ser usadas a partir de qualquer uma das 70 mil LAN houses espalhadas pelo país, inclusive nas favelas.

Noutras partes do mundo estão se multiplicando as experiências de produção colaborativa em reportagens investigativas. O primeiro caso famoso foi o do blog Talking Points Memo, que em maio de 2007 pediu a ajuda dos seus leitores para destrinchar um documento de 3.000 páginas sobre um escândalo entre procuradores da justiça norte-americana.

O trabalho foi feito em 24 horas e incluiu até mesmo repórteres de grandes jornais que se ofereceram como voluntários, porque também eles viram as vantagens do esforço coletivo para identificar os pontos chaves de um relatório em linguagem jurídica.

Mais recentemente, o jornal inglês The Guardian também recorreu aos seus leitores para conferir quase meio milhão de páginas contendo recibos de despesas feitas por membros do parlamento britânico, para identificar gastos indevidos ou fraudes. O jornal abriu uma página especial no seu site na web onde publicou todos os documentos digitalizados e deu instruções sobre como identificar fraudes.

Quase 23 mil ingleses se inscreveram e na primeira semana de funcionamento da investigação coletiva 200 mil páginas já tinham sido revisadas por leitores. O jornal está publicando periodicamente os resultados da checagem dos recibos. O interessante é que as denúncias de fraude por parte dos parlamentares britânicos surgiram primeiro, no Daily Telegraph, mas foi o The Guardian que transformou o assunto numa grande reportagem.

Num post anterior, falei sobre o caso da rede pública de rádio (NPR) dos Estados Unidos que pediu a ajuda de leitores para identificar lobistas presentes a uma sessão da comissão do Senado norte-americano encarregada de fiscalizar o exercício do lobby político no Congresso.

Exemplos como esses mostram que é possível desenvolver projetos de investigação coletiva baseados na colaboração entre leitores e jornalistas. Equipamentos existem e não são caros. Temas de interesse público nacional a serem investigados também não faltam. O que ainda não surgiu foi a vontade política, tanto das redações como dos leitores, de levar adiante uma empreitada como esta.

É certo que existem vários problemas a superar, como uma possível avalancha de denúncias sem base concreta, manobras diversionistas de suspeitos, manipulação de resultados, influência de interesses políticos nas redações e por aí vai.

Mas será que as redações ainda não perceberam que esta é talvez a melhor estratégia para reconquistar a fidelidade dos leitores num momento em que a imprensa perde público por conta das mudanças provocadas pela internet no contexto informativo da sociedade contemporânea?

Será que os executivos da mídia nacional são tão teimosos que preferem ignorar alternativas já testadas na Europa e Estados Unidos para não arriscar saídas mais audazes para uma crise que afeta a todos, produtores e consumidores de informação?
Para o público, as vantagens são óbvias. Num caso como o do escândalo Sarney, os eleitores têm todo o interesse em suspender a sangria de recursos oriundos de impostos e o desvirtuamento do voto popular.

Os livros mais vendidos



Por Jorge Fernando dos Santos
Durante uma palestra sobre literatura num conceituado colégio de Belo Horizonte fui surpreendido por uma aluna, de no máximo 11 anos, com a seguinte pergunta: por que os autores estrangeiros lideram as listas dos livros mais vendidos no país? A resposta, expliquei, poderia inspirar uma tese acadêmica, tamanha a sua complexidade. No entanto, o mesmo não ocorre nos Estados Unidos e em países europeus, cuja imprensa coloca em destaque os autores nacionais. Nada mais justo, pois a identidade de um povo passa pela visão dos escritores.
Supostamente, as listas de livros mais vendidos são elaboradas mediante consulta a livreiros em diferentes pontos do país. Assim, a preferência pelos autores estrangeiros seria dos leitores, e não dos órgãos de imprensa. Contudo, é público e notório que o número de matérias publicadas no Brasil sobre livros traduzidos é quase sempre superior às reportagens que falam de obras nacionais. A exceção fica por conta dos autores já consagrados.
Boa parte dos leitores ignora os escritores brasileiros contemporâneos simplesmente porque nunca leu nada deles ou sobre eles. Se a editora não compra espaço, ou se o autor não é amigo do editor de cultura, dificilmente o livro terá lugar na pauta. Algumas editoras, por sua vez, investem na publicidade de um único autor estrangeiro aquilo que não gastam com todos os nomes nacionais do seu catálogo. Até porque os direitos de publicação de um best-seller custam caro. Nesse caso, a pergunta seria outra: quem nasceu primeiro, o ovo ou a ave?
Alienação e descaracterização
Ao conferir a lista dos livros de ficção publicada em maio numa revista semanal, deparo com autores como William Young (em primeiro lugar), Stephenie Meyer (segundo, terceiro e quarto lugares), Chico Buarque (quinto), Dan Brown (sexto), Augusto Cury (sétimo e oitavo), várias autoras (nono) e Khaled Hosseini (em décimo lugar). Vale dizer que Chico é o segundo colocado numa relação publicada em Portugal, cercado pelos livros de Stephenie Meyer. Curiosamente, as listas dos mais vendidos no Brasil raramente destacam livros infanto-juvenis, mas o público de Meyer é formado principalmente por adolescentes.
Para usar um termo muito comum nos tempos da resistência à ditadura militar, é fácil concluir que o Brasil é um país culturalmente ocupado. Em outras palavras, o que é bom vem de fora. No mercado editorial, o quadro se agravou durante a crise vivida pelas editoras nacionais, no início do Plano Real, quando algumas foram vendidas a conglomerados, alguns estrangeiros – no melhor espírito da globalização.
O problema de se divulgar mais os livros estrangeiros que os nacionais é o risco da alienação e da descaracterização cultural. Um best-seller não é necessariamente um clássico ou sinônimo de qualidade literária. Como disse Tolstoi, para ser universal é preciso falar da própria aldeia. Além do mais, aqueles que criticam o sucesso internacional de Paulo Coelho provavelmente acham natural o excesso de autores estrangeiros nas listas dos mais vendidos no país. O fenômeno faz lembrar a época em que as emissoras de rádio tocavam música americana em detrimento da MPB, o que causava muita polêmica.
A questão econômica
Aprendi muito sobre o Brasil e a cultura nacional nos romances e nos discos. Os Sertões, de Euclides da Cunha, e os baiões de Luiz Gonzaga revelaram-me o Nordeste com todos os seus contrastes. As histórias de Jorge Amado e as canções praieiras de Dorival Caymmi mostraram-me a Bahia de todos os santos, ainda que um pouco estilizada. Enquanto o genial Erico Verissimo apresentou-me a saga do Rio Grande do Sul na tetralogia O Tempo e o Vento, as músicas de Teixeirinha que meu pai ouvia na vitrola trouxeram-me o bafejar do minuano e as primeiras impressões da cultura gaúcha. Da mesma forma, em outros estados, acredito que muita gente teve contato com Minas Gerais nas páginas de Guimarães Rosa ou nas canções de Milton Nascimento.
A literatura, a música e o cinema de qualidade são algo mais que mero passatempo, pois revelam a alma de um povo e ensinam muito de sua cultura. Contudo, na era das celebridades e da arte fabricada em laboratório para o entorpecimento das massas, os meios de comunicação reduziram o espaço dedicado à arte nacional e se renderam ao modismo ditado pela indústria de entretenimento. Por consequência, a crítica especializada perdeu status nos periódicos. Na era do politicamente correto não seria de bom tom criticar o fazer artístico. Daí, os elogios derramados a obras de qualidade duvidosa. Numa sociedade em que o ter vale mais que o ser, a embalagem muitas vezes é melhor que o produto – mas isso nunca deve ser dito, para não prejudicar os negócios.
Seria ingênuo supor que essa tendência resultaria apenas da má formação cultural dos jornalistas. Com certeza, o preconceito e a falta de conhecimento contribuem para a desinformação, mas a questão econômica deve ser levada em conta. Nas programações radiofônicas, por exemplo, sempre existiu o chamado jabaculê, na base do "só toca quem paga". Como as gravadoras alinharam por baixo o padrão estético visando a horizontalizar o consumo de discos, fica fácil compreender a decadência do repertório e do próprio mercado fonográfico. Mesmo sendo concessões públicas, as emissoras de rádio e televisão contribuem cada vez menos para a cultura nacional. Na outra ponta do balcão está a péssima qualidade do ensino fundamental no país, o que também compromete a auto-estima dos brasileiros.
Tendências de mercado
No que se refere a jornais e revistas, existem vários fatores que propiciam a prática favorável ao produto descartável. Basta ver o destaque que sempre foi dado ao cinema americano, cuja política de distribuição quase esmagou a produção local em países como França e Itália. Por outro lado, vale perguntar como é que um livro que mal chegou às livrarias pode ser tão rapidamente alçado aos primeiros lugares da lista dos mais vendidos. Outro fato que chama a atenção é que as editoras desses "campeões de venda" são as mesmas, isto é, estão sempre com mais de um título em destaque. Não sei se a reserva de mercado seria a solução para garantir espaço para os autores nacionais, mas o certo é que nos EUA ela nunca deixou de existir.
É claro que também existem as tendências de mercado, com a predominância de certos temas e autores. Depois das guerras do Afeganistão e do Iraque, por exemplo, registrou-se uma proliferação de best-sellers oriundos de países islâmicos. Tanto que alguém poderia publicar, sob pseudônimo, um romance na terceira pessoa chamado A Puta de Cabul. Com o sucesso dessa obra, lançaria em seguida Eu Sou a Puta de Cabul, dessa vez escrito na primeira pessoa e assinado com o nome da protagonista. Lá na frente, depois de encabeçar as listas dos mais vendidos, assinaria com o próprio nome o último volume da trilogia, intitulado O Filho da Puta de Cabul.

domingo, 12 de julho de 2009

Mário Quintana

Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.

Mário Quintana

sábado, 11 de julho de 2009

Seria cômico se não fosse trágico

NENENS PATINADORES

Profissionais aderem ao “jornalismo em pílulas”, estilo Twitter

Postado por Carlos Castilho

O respeitado jornal norte-americano The Christian Science Monitor publicou esta semana
um artigo em sua página de opinião sugerindo que o prêmio Nobel da Paz de 2009 seja concedido ao Twitter, um programa de micromensagens com até 140 caracteres que está revolucionando a política mundial.

O programa lançado em 2006, para circular mensagens tanto pela Web como pelos celulares, bateu todos os recordes de popularidade na Web, tornando-se o terceiro site mais visitado da rede, com cerca de 55 milhões de acesso mensais e um índice de crescimento estimado em 1.382%, em fevereiro de 2009.

Depois de tornar-se um modismo entre os jovens no mundo inteiro, o Twitter, também conhecido como “jornalismo em pílulas” passou a ser a ferramenta onipresente em todos os grandes eventos noticiosos desde o ano passado e em especial desde o inicio de 2009, como a queda do Airbus no rio Hudson, em Nova York, e os protestos antigovernamentais em Teerã.

Agora o microblog ganha espaço na área jornalística com a multiplicação das experiências de profissionais e com o surgimento de iniciativas destinadas a auxiliar os interessados no uso da ferramenta para captação e divulgação de noticias.

O Twitter segue a mesma trilha dos portais noticiosos de 2002 a 2004 e dos blogs jornalísticos, de 2006 em diante. Inicialmente foram vistos com desconfiança pelos jornalistas que depois os incorporaram à suas rotinas de trabalho.

Todas essas ferramentas têm em comum a capacidade de multiplicar a captação e divulgação de dados, fatos e notícias, tornando cada vez mais real a teoria da “nuvem informativa”. Esta nuvem seria formada pelos conteúdos informativos que circulam em dispositivos móveis de comunicação.

No Brasil, o Twitter já entrou no clima pré-eleitoral graças à ação de um número cada vez maior de jornalistas profissionais, dirigentes partidários, candidatos potenciais e ativistas políticos que usam a ferramenta para incidir sobre a agenda pública de debates.

O site
Politweets publica os endereços de políticos brasileiros que estão usando o Twitter para relacionamento com eleitores. Nele pode-se ver que o paulista José Serra é o único governador com um Twitter que obviamente está todo voltado para a campanha eleitoral presidencial de 2010.

Há 16 senadores twitando
[1], entre eles cinco do PSDB, quatro do PT e três do DEM. Na Câmara de Deputados, 36 parlamentares admitiram estar usando a ferramenta, com predominância dos demistas e tucanos.

Mas o grande fenômeno comunicacional do momento no Brasil é o movimento “
Fora Sarney”, que em cinco dias conseguiu reunir quase 15 mil mensagens de internautas que exigem o afastamento do presidente do Senado, acusado de corrupção e nepotismo.

Os twiteiros contrários a Sarney já organizaram manifestações em frente ao Congresso, em Brasília, e na Avenida Paulista, em São Paulo. As duas não reuniram muita gente e foram classificadas como ensaio geral. Quem quiser ter uma idéia do que está sendo discutido no movimento, basta inserir a hashtag
[2] #forasarney no espaço para buscas na página pessoal dentro do Twitter. Ali estão listados todos os twits recentes postados por internautas.

O aumento da circulação de informação na twitosfera
[3] está atraindo jornalistas que passaram a usar a plataforma tecnológica como ferramenta para procurar e divulgar notícias. O repórter norte-americano Ken Ward tornou-se famoso por ser um dos primeiros e usar o Twitter para produzir reportagens investigativas sobre a indústria do carvão nos Estados Unidos. Ward monitora os twits de executivos e consultores no segmento.

Hoje já há dezenas de outros profissionais usando o mesmo recurso, tanto de forma autônoma como em empresas. O projeto
ReporTwitters oferece uma plataforma de troca de experiências e informações entre jornalistas que atuam na twitosfera. Outra ferramenta muito usada é o JournoTwit, que organiza o material dos profissionais cadastrados no site, separando seguidos e seguidores, bem como os retwits (RTs)[4] feitos com o mesmo texto.

No Brasil, o jornalista
Marcelo Tas é considerado o twiteiro número 1, mas o uso da ferramenta é mais intenso, embora menos visível, entre jornalistas iniciantes — como é o caso do estudante e repórter Glauber Macário. São eles que estão criando a grande massa de repórteres online que começam a gerar conteúdos que depois serão processados pelos sites de jornais e de formadores de opinião.

É o que acontece como Jay Rosen e Dave Winer, dois gurus do jornalismo na Web mundial, que criaram o twitter
Rebooting The News, no qual eles discutem notícias produzidas por twiteiros famosos e anônimos, tanto no universo acadêmico como no jornalístico.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Albert Einstein e Seu Universo Inflável



Sinopse do livro


Muita gente acha que Albert Einstein foi o homem mais genial de todos os tempos. É possível: quantos outros foram capazes de juntar tantas peças do quebra-cabeça do Universo? Espaço, tempo, átomos, luz, gravidade, energia - ele era mesmo um crânio. Eis uma lista resumida do que ele descobriu: - como o Universo funciona e como fazê-lo parar de desinflar; - como viajar no tempo; - como contar átomos; - como transformar coisas em luz e luz em coisas, e - como, olhando firme para o céu, mas firme mesmo, é possível enxergar a própria nuca. Mas como ele conseguiu fazer todas essas descobertas fantásticas? Para saber, é só dar uma olhada no seu diário perdido, que está em Albert Einstein e seu Universo inflável. O livro também mostra que a vida de um gênio não é fácil. Quando era pequeno, o futuro cientista foi expulso da escola. Mais tarde, ele seria espionado pelos nazistas e pelo FBI. E depois de morto, o cérebro dele foi retirado e utilizado para estudos.



Título: Albert Einstein e Seu Universo Inflável


Autor: Mike GoldsmithTradução: Eduardo Brandão


Editora: Companhia das LetrasIdioma: Português

PENSAMENTOS