"Os Educadores-sonhadores jamais desistem de suas sementes,mesmo que não germinem no tempo certo...Mesmo que pareçam frágeisl frente às intempéries...Mesmo que não sejam viçosas e que não exalem o perfume que se espera delas.O espírito de um meste nunca se deixa abater pelas dificuldades. Ao contrário, esses educadores entendem experiências difíceis com desafios a serem vencidos. Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com acolheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes"(Gabriel Chalita)

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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem noódio vocês combinam. Então?Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem amenor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você amaeste cara?Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucurapor computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.


Arnaldo Jabor

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Alckmin atrai vereadores do PSDB e mina apoio a Kassab

Dos 11 tucanos fechados com a candidatura do prefeito, agora só restam 4

Por Carlos Marchi - Estadão

Discretamente, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) está atraindo os vereadores tucanos para apoiar sua candidatura. Cinco já gravaram mensagens para o programa de Alckmin e tiraram fotografias com ele para cartazes da campanha. Quando Alckmin se lançou candidato, 11 dos 12 vereadores tucanos se negaram a apoiá-lo e ficaram ao lado do prefeito Gilberto Kassab (DEM). Hoje o núcleo de resistência a Alckmin se resume a quatro vereadores.Alckmin começou a cativar os vereadores tucanos ao pregar que fará intensa propaganda, em seu espaço de televisão e rádio, para pedir o voto de legenda no PSDB. Essa estratégia é vital para a manutenção da bancada tucana, que pulou de 7 para 13 vereadores na eleição de 2004 graças à votação do hoje deputado José Aníbal, que teve 165 mil votos, e ao voto na legenda, que em 2004 somou metade do total obtido nominalmente pelos candidatos tucanos.?PUXADORES?O PSDB vive um drama: dos seus seis primeiros colocados em 2004, cinco não concorrerão este ano. Aníbal e William Woo se elegeram deputados em 2006; Ricardo Montoro e Marcos Zerbini conquistaram vaga na Assembléia e Roberto Tripoli deixou o partido para se filiar ao PV. Para reforçar sua posição agora, os tucanos lançaram Gabriel Chalita, o ex-secretário de Educação de Alckmin, para "puxar legenda", como se diz no jargão político. Mas ele não tem o mesma densidade eleitoral de Aníbal.São Paulo costuma dar ao PSDB a maior quantidade de votos de legenda, primazia que no resto do País fica com o PT. Consciente disso, Alckmin tem acenado para os vereadores com seu decidido engajamento na pregação do voto de legenda no PSDB, o que certamente ajudará na tentativa de manter a grande bancada que os tucanos fizeram em 2004.Cinco vereadores já gravaram para o programa de Alckmin e tiraram fotografias ao lado dele: Gilson Barreto, Mara Gabrilli, Juscelino Gadelha, José Rolim e Tião Farias (o único que apoiava Alckmin desde o começo da disputa). Carlos Alberto Bezerra e Dalton Silvano não gravaram, mas foram à inauguração do comitê de Alckmin.Sem pressionar ninguém, Alckmin tem cortejado os vereadores tucanos. No dia do aniversário de Adolfo Quintas - que apóia Kassab - Alckmin ficou por 1h20 na enorme festa para 1.500 pessoas, mais tempo do que Kassab. Num terreiro que teoricamente lhe era hostil, percorreu as mesas e cumprimentou centenas de pessoas.Hoje, resistem ao assédio do ex-governador apenas quatro nomes - Gilberto Natalini, José Police Neto (Netinho), Ricardo Teixeira e Claudinho.

domingo, 20 de julho de 2008

Merecido apoio aos professores

VOLTO AO ASSUNTO da educação.

Chamaram-me a atenção os dados publicados pela Folha no dia 9 de junho, segundo os quais o corpo docente brasileiro está atraindo jovens de baixa qualificação: os bons alunos do ensino médio fogem do magistério, que, infelizmente, tornou-se uma profissão desprestigiada. Bem diferente foi o quadro da minha juventude, no qual a professora e o gerente do Banco do Brasil gozavam do mais alto prestígio nas comunidades em que atuavam. Eram carreiras disputadas, até para casamento...

Por curiosidade, busquei os detalhes das pesquisas citadas pela Folha, em especial a que analisa as medidas que vêm sendo tomadas pelos países que têm sucesso na educação. Neles encontrei surpresas e obviedades.No campo das surpresas, verifiquei que, mesmo nas nações ricas, os adicionais de investimento em educação não produzem necessariamente bons resultados na aprendizagem. Isso é intrigante e, ao mesmo tempo, instrutivo.

Só dinheiro não resolve o problema. Outra surpresa é que a redução do tamanho das classes tem um efeito desprezível sobre a melhoria do desempenho dos alunos.No campo das obviedades, está a importância crucial da competência e da dedicação dos professores. Há ali uma frase impactante: "A qualidade da educação não pode ser melhor do que a qualidade dos professores" (Estudo da McKinsey, apresentado pela Fundação Lemann).

Aqui está a solução do quebra-cabeça da educação. Podem-se aumentar os recursos e diminuir as classes, mas nada vai acontecer de bom se o professor não for bem preparado, comprometido e estimulado. Daí a importância de revalorizarmos a carreira de professor.Na Coréia do Sul, na Finlândia, em Cingapura e em Hong Kong -onde os alunos obtêm as melhores classificações nos testes aplicados-, os docentes vêm do topo da pirâmide em termos de preparação. Não é para menos.Voltando às surpresas, a referida pesquisa mostrou que os países que se destacam em matéria de educação pagam bons salários aos professores -sem serem espetaculares.

Isso significa que, além de uma remuneração condigna, o que atrai professores de qualidade é um bom ambiente de trabalho, a atualização contínua, o trabalho com diretores líderes e, sobretudo, o respeito à sua profissão.Ou seja, o diagnóstico está feito. Precisamos da terapia. Os planos do MEC são meritórios. Oxalá eles se transformem em realidade para formar um clima de entusiasmar jovens bem formados a entrar no magistério.


antonio.ermirio@antonioermirio.com.br

sábado, 19 de julho de 2008

Relacionamentos

Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim.
Como tudo na vida.
Detesto quando escuto aquela conversa:
'Ah,terminei o namoro...'
'Nossa,quanto tempo?'
'Cinco anos...Mas não deu certo...acabou'
'É não deu...'
Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.
E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.
Não acredito em pessoas que se complementam.
Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos esta coisa completa.
Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.
Tudo, nós não temos.
Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro.
Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.
E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante...e se o beijo bate...se joga...senão bate...mais um Martini, por favor...e vá dar uma volta.
Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.
O outro tem o direito de não te querer.
Não lute, não ligue, não dê pití.
Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não.
Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto.
Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.
Nada de drama!
Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez,dinheiro, recessão de família? O legal é alguém que está com você por você.
E vice versa.
Não fique com alguém por dó também.
Ou por medo da solidão.
Nascemos sós.
Morremos sós.
Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.
E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.
Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?
Gostar dói!
Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração.
Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo.
E nem sempre as coisas saem como você quer...
A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.
Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta.
Se não quer se envolver, namore uma planta.
É mais previsível.
Na vida e no amor, não temos garantias.
E nem todo sexo bom é para namorar.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.
Nem todo beijo é para romancear.
Nem todo sexo bom é para descartar... Ou se apaixonar... Ou se culpar.
Enfim...quem disse que ser adulto é fácil?

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Sobre simplicidade e sabedoria - Ruben Alves

Pediram-me que escrevesse sobre simplicidade e sabedoria. Aceitei alegremente o convite sabendo que, para que tal pedido me tivesse sido feito, era necessário que eu fosse velho.Os jovens e os adultos pouco sabem sobre o sentido da simplicidade. Os jovens são aves que voam pela manhã: seus vôos são flechas em todas as direções. Seus olhos estão fascinados por 10.000 coisas. Querem todas, mas nenhuma lhes dá descanso. Estão sempre prontos a de novo voar. Seu mundo é o mundo da multiplicidade. Eles a amam porque, nas suas cabeças, a multiplicidade é um espaço de liberdade. Com os adultos acontece o contrário. Para eles a multiplicidade é um feitiço que os aprisionou, uma arapuca na qual caíram. Eles a odeiam, mas não sabem como se libertar. Se, para os jovens, a multiplicidade tem o nome de liberdade, para os adultos a multiplicidade tem o nome de dever. Os adultos são pássaros presos nas gaiolas do dever. A cada manhã 10.000 coisas os aguardam com as suas ordens (para isso existem as agendas, lugar onde as 10.000 coisas escrevem as suas ordens!). Se não forem obedecidas haverá punições.

No crepúsculo, quando a noite se aproxima, o vôo dos pássaros fica diferente. Em nada se parece com o seu vôo pela manhã. Já observaram o vôo das pombas ao fim do dia? Elas voam numa única direção. Voltam para casa, ninho. As aves, ao crepúsculo, são simples. Simplicidade é isso: quando o coração busca uma coisa só.

Jesus contava parábolas sobre a simplicidade. Falou sobre um homem que possuía muitas jóias, sem que nenhuma delas o fizesse feliz. Um dia, entretanto, descobriu uma jóia, única, maravilhosa, pela qual se apaixonou. Fez então a troca que lhe trouxe alegria: vendeu as muitas e comprou a única.

Na multiplicidade nos perdemos: ignoramos o nosso desejo. Movemo-nos fascinados pela sedução das 10.000 coisas. Acontece que, como diz o segundo poema do Tao-Te-Ching, "as 10.000 coisas aparecem e desaparecem sem cessar." O caminho da multiplicidade é um caminho sem descanso. Cada ponto de chegada é um ponto de partida. Cada reencontro é uma despedida. É um caminho onde não existe casa ou ninho. A última das tentações com que o Diabo tentou o Filho de Deus foi a tentação da multiplicidade: "Levou-o ainda o Diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a sua glória e lhe disse: 'Tudo isso te darei se prostrado me adorares.'" Mas o que a multiplicidade faz é estilhaçar o coração. O coração que persegue o "muitos" é um coração fragmentado, sem descanso. Palavras de Jesus: "De que vale ganhar o mundo inteiro e arruinar a vida?" (Mateus 16.26).

O caminho da ciência e dos saberes é o caminho da multiplicidade. Adverte o escritor sagrado: "Não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne" (Eclesiastes 12.12). Não há fim para as coisas que podem ser conhecidas e sabidas. O mundo dos saberes é um mundo de somas sem fim. É um caminho sem descanso para a alma. Não há saber diante do qual o coração possa dizer: "Cheguei, finalmente, ao lar". Saberes não são lar. São, na melhor das hipóteses, tijolos para se construir uma casa. Mas os tijolos, eles mesmos, nada sabem sobre a casa. Os tijolos pertencem à multiplicidade. A casa pertence à simplicidade: uma única coisa.

Diz o Tao-Te-Ching: "Na busca do conhecimento a cada dia se soma uma coisa. Na busca da sabedoria a cada dia se diminui uma coisa."Diz T. S. Eliot: "Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?"Diz Manoel de Barros: "Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar. Sábio é o que adivinha."

Sabedoria é a arte de degustar. Sobre a sabedoria Nietzsche diz o seguinte: "A palavra grega que designa o sábio se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphus, o homem do gosto mais apurado. "A sabedoria é, assim, a arte de degustar, distinguir, discernir. O homem do saberes, diante da multiplicidade, "precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço." Mas o sábio está à procura das "coisas dignas de serem conhecidas". Imagine um bufê: sobre a mesa enorme da multiplicidade, uma infinidade de pratos. O homem dos saberes, fascinado pelos pratos, se atira sobre eles: quer comer tudo. O sábio, ao contrário, para e pergunta ao seu corpo: "De toda essa multiplicidade, qual é o prato que vai lhe dar prazer e alegria?" E assim, depois de meditar, escolhe um...

A sabedoria é a arte de reconhecer e degustar a alegria. Nascemos para a alegria. Não só nós. Diz Bachelard que o universo inteiro tem um destino de felicidade.

O Vinícius escreveu um lindo poema com o título de "Resta..." Já velho, tendo andado pelo mundo da multiplicidade, ele olha para trás e vê o que restou: o que valeu a pena. "Resta esse coração queimando como um círio numa catedral em ruínas..." "Resta essa capacidade de ternura..." "Resta esse antigo respeito pela noite..." "Resta essa vontade de chorar diante da beleza...". Vinícius vai, assim, contando as vivências que lhe deram alegria. Foram elas que restaram.

As coisas que restam sobrevivem num lugar da alma que se chama saudade. A saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que ela provou e aprovou. Aprovadas foram as experiências que deram alegria. O que valeu a pena está destinado à eternidade. A saudade é o rosto da eternidade refletido no rio do tempo. É para isso que necessitamos dos deuses, para que o rio do tempo seja circular: "Lança o teu pão sobre as águas porque depois de muitos dias o encontrarás..." Oramos para que aquilo que se perdeu no passado nos seja devolvido no futuro. Acho que Deus não se incomodaria se nós o chamássemos de Eterno Retorno: pois é só isso que pedimos dele, que as coisas da saudade retornem.

Ando pelas cavernas da minha memória. Há muitas coisas maravilhosas: cenários, lugares, alguns paradisíacos, outros estranhos e curiosos, viagens, eventos que marcaram o tempo da minha vida, encontros com pessoas notáveis. Mas essas memórias, a despeito do seu tamanho, não me fazem nada. Não sinto vontade de chorar. Não sinto vontade de voltar.

Aí eu consulto o meu bolso da saudade. Lá se encontram pedaços do meu corpo, alegrias. Observo atentamente, e nada encontro que tenha brilho no mundo da multiplicidade. São coisas pequenas, que nem foram notadas por outras pessoas: cenas, quadros: um filho menino empinando uma pipa na praia; noite de insônia e medo num quarto escuro, e do meio da escuridão a voz de um filho que diz: "Papai, eu gosto muito de você!"; filha brincando com uma cachorrinha que já morreu (chorei muito por causa dela, a Flora); menino andando à cavalo, antes do nascer do sol, em meio ao campo perfumado de capim gordura; um velho, fumando cachimbo, contemplando a chuva que cai sobre as plantas e dizendo: "Veja como estão agradecidas!" Amigos. Memórias de poemas, de estórias, de músicas.

Diz Guimarães Rosa que "felicidade só em raros momentos de distração..." Certo. Ela vem quando não se espera, em lugares que não se imagina. Dito por Jesus: "É como o vento: sopra onde quer, não sabes donde vem nem para onde vai..." Sabedoria é a arte de provar e degustar a alegria, quando ela vem. Mas só dominam essa arte aqueles que têm a graça da simplicidade. Porque a alegria só mora nas coisas simples. (Concerto para corpo e alma, pg. 09.)

A lei não é seca - Gilberto Dimenstein

Crescem ataques contra a lei que inibe o motorista de beber e dirigir --alguns deles, com razão. Pessoalmente, temo que o excesso de rigor inviabilize sua aplicação. Também tenho dúvidas sobre a legalidade de exigir que alguém se submeta ao bafômetro. Em essência, porém, sou dos que apóiam a dureza contra os irresponsáveis do trânsito. Por isso, fico muito incomodado com o apelido "lei seca" --é um apelido tendencioso, abençoado por nós, jornalistas.


Fico incomodado por dois motivos:


1) Não existe nenhuma proibição à bebida. Mas apenas a se dirigir depois de bebida. É muitíssimo diferente da vivida pelos Estados Unidos. Erro, portanto, conceitual. Não tem nada a ver com aquela maluquice dos americanos.

2) Como aquela lei era, nos EUA, uma maluquice, o apelido lei seca estimula as ações e a desobediência.

Não sou moralista. Gosto de beber e, reconheço, aprecio aquela sensação de leveza que provoca uma dose a mais. Mas não apoiar essa lei é uma irresponsabilidade. Há tempos precisávamos de algo mais duro contra a matança no trânsito --e os comunicadores fazem um julgamento quando sustentam o apelido de lei seca.

Pode parecer um detalhe, mas não é.

Proponho um brinde à lei seca - Gilberto Dimenstein

Merece um brinde --aliás, vários brindes. Desde que evidentemente não se volte dirigindo para casa.

Dados colhidos por Mônica Bergamo, da Folha, a partir de relatórios oficiais, mostram que, desde a implantação da lei que inibe o motorista de dirigir alcoolizado, a queda no número de atendimentos nos hospitais especializados em trauma, na cidade de São Paulo, foi de 55%.

Isso em apenas três semanas. O efeito, de fato, não é da nova lei --já havia uma legislação que obviamente proibia a combinação de bebida com direção. Pesaram aqui a educação e, em especial, a punição.

O fato é que, neste momento, mexer abruptamente na lei pode significar a tradução de que "liberou geral" e implicar imediatamente mortes.

É hora, agora, de avançar ainda num esforço de também impedir a glamourização da bebida feita pela publicidade.

Vitórias contra a barbárie

O país acompanha atentamente a redução de mortes no trânsito, depois do endurecimento da fiscalização contra os motoristas que bebem --esse é mais um detalhe de um movimento, espalhado por todo país, acima dos partidos, contra as mortes estúpidas. São vitórias contra a barbárie de toda uma geração de pessoas que apostaram na educação para a cidadania.

Nada mais estúpidas do que as mortes, quase todas facilmente evitáveis, de crianças. Poucas notícias são socialmente tão interessantes quanto a queda de 44% da mortalidade infantil nos últimos dez anos. Nesse período, a desnutrição infantil caiu, no Nordeste, 70%.

Aos poucos, a democracia vai ensinando o país a enfrentar a violência --lembre-se de toda a campanha contra o porte de armas-- e a miséria, com programas mais focados nos mais pobres. Já temos também metas educacionais de longo prazo. Cada vez mais, imagina-se a escola como um grande centro de articulação de políticas públicas.

As vitórias, medidas em números, contra a barbárie é um dos fatos novos no país, no qual vamos gerando modelos contra a barbárie. É ainda pouco, mas já podemos, aqui e ali, comemorar.

Sindicato dos professores ameaça denunciar secretaria ao TRT

Folha Online

A Apeoesp (sindicato dos professores da rede estadual de ensino) ameaça denunciar a Secretaria Estadual da Educação ao TRT-SP (Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo) por descumprimento de acordo.
Na terça-feira (8), os professores receberam da secretaria um plano de pagamento dos dias parados e de reposição de aulas que não lhes agradou. Pelo plano, os dias sem aula serão descontados dos salários e pagos só após as reposições.
Para o sindicato, o governo, com este plano, quebrou a promessa de pagar os dias parados. "Se tiver o desconto, o professor vai passar dificuldades. A intenção é punir o professor [por causa da greve]. Eles [o governo] têm um gosto muito grande pela punição", disse à Folha a presidente do sindicato, Maria Izabel Noronha.
O sindicato informou que a greve, suspensa na última sexta-feira (4), poderá ser retomada após as férias escolares caso a secretaria não abra um canal de negociação.
Entre as principais reivindicações da categoria está a revogação de um decreto governamental que trata do sistema de contratação e substituição de professores. A secretaria, porém, afirmou, por meio de sua assessoria, que não haverá mudanças no decreto.
Outro lado
A Secretaria da Educação informou, por meio de sua assessoria, que cumpriu o que havia sido acordado em reunião na semana passada. Sobre a reposição, a secretaria sustenta que em nenhum momento foi abordada a maneira como ela seria paga.
A assessoria da secretaria afirma, ainda, que irá abonar as faltas dos professores assim que eles repuserem as aulas.

sábado, 12 de julho de 2008

Proteger é diferente de esconder - Walcyr carrasco

Semanas atrás, fui jantar com alguns colegas de classe do colegial. Estudamos juntos há cerca de quarenta anos. Ainda nos vemos, acompanhamos a trajetória de vida de cada um e torcemos nas situações difíceis. Cursei um colégio público, experimental, de ótima reputação na época. Uma das teses dos educadores era mesclar as diversas classes sociais. Devido à fama, a escola atraía até milionários. Eu, um garoto pobre, convivi com colegas de status social maior e até menor que o meu. Foi enriquecedor. Sem falsa modéstia, acredito que para os outros também.
Para meu espanto, as famílias atuais buscam exatamente o oposto. Particularmente, acho os condomínios maravilhosos. Quando eu era criança, entrar em piscina era privilégio raro! Hoje, crianças de classe média nadam a metros de onde vivem. Discordo, sim, da visão de boa parte dos pais.
– Meus filhos nem vão precisar sair. A escola é ao lado, o shopping é próximo. Segurança total – contou-me um amigo ao mudar de endereço.
Fiquei de queixo caído com sua ingenuidade. Está certo, a violência anda cada vez maior. Qualquer pai ou mãe fica apavorado quando o filho se atrasa. Isolar ajuda, de fato? "Proteger é diferente de esconder", diz o escritor Gabriel Chalita em seu recém-lançado Pedagogia da Amizade. "Não se esconde o filho do mundo nem o mundo do filho." Eu soube de colégios ricos onde os alunos disputam quem tem o relógio mais caro ou o último lançamento eletrônico, por exemplo. Esses garotos não seriam pessoas melhores se pudessem conviver com outros, em situações diferentes, para entender que o planeta não gira em função das grifes?
Essas famílias só visitam famílias parecidas, que fazem compras nos mesmos shoppings, comem em restaurantes idênticos, usam roupas de grifes iguais e fazem os filhos viver vidas inventadas em série. É como reunir todas as aves num só galinheiro. Basta a chegada de uma única raposa para fazer a festa. Quando escrevi um livro para adolescentes sobre drogas, investiguei a fundo como ocorre o primeiro contato. Em geral é por meio de um conhecido acima de qualquer suspeita: vizinho, namorado, parente próximo. Em uma palestra recebi o depoimento emocionado de um pai cujo próprio irmão introduzira seu filho no consumo pesado.
– Eu nunca suspeitei de meu irmão! – ele disse chorando.
– E agora perdi meu filho!
É óbvio. Imagine um bando de garotos de boa situação financeira que pouco conhecem da vida. Fechados em seu mundinho. Chega um com a novidade. Cresce a curiosidade. E de um em um todos querem experimentar. Se fossem mais escolados seriam alvos tão fáceis?
Triste é saber também que, se alguma família perde dinheiro, passa a ser malvista. É comum surgir um comentário depreciativo porque alguém atrasou o condomínio, como se uma crise financeira fosse um problema moral. Ou seja, os valores começam a ficar distorcidos, por serem somente materiais. Não é à toa que se ouve falar, com freqüência, em jovens de classe média que partem para o crime.
Educar um filho hoje em dia é difícil, pois são inúmeras as armadilhas. Passei por riscos e estou aqui, inteiro. Alguns amigos superprotegidos, ao contrário, não deram em nada. Ainda, já depois dos 50 anos, não querem saber do batente. Educar a criança em um mundo que não existe pode dar uma sensação de segurança. Mais tarde, ela não estará pronta para enfrentar a realidade, certamente muito mais árdua.

domingo, 6 de julho de 2008

Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes.
Eu não.
A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir.
Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.


Adélia Prado

sábado, 5 de julho de 2008

Bullying: Repressão entre alunos



Apesar de não haver uma palavra na língua portuguesa que expresse o significado do termo ‘bullying’, algumas palavras servem para defini-la: agredir, amedrontar, assediar, discriminar, divulgar apelidos depreciativos, dominar, excluir de um grupo, humilhar, ignorar, isolar, perseguir, zoar, entre outros. Transfira agora isso tudo para o ambiente escolar. O bulliyng é a prática discriminatória que ocorre entre grupos de alunos, sempre escolhendo um deles como “a bola da vez”, a “ovelha negra” da turma.O bullying preocupa pais, professores e pedagogos, e pode causar traumas definitivos na personalidade de suas vítimas — e até em seus praticantes ativos. Segundo a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Criança e ao Adolescente (Abrapia), a prática não está restrita ao tipo de instituição: pública ou privada, da área rural ou urbana, primária ou secundária. Profissionais da área de educação e pedagogia classificam o bullying como todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que acontecem sem motivação aparente, adotadas por um ou mais estudantes com outro, ou outros, causando dor e angústia, sendo praticada numa relação de desigual poder. Suas principais características são atos repetidos entre membros de um mesmo grupo — no caso, estudantes — com desequilíbrio de poder e intimidação das vítimas. O bullying, porém, é mais comum entre meninos. Entre as meninas, fica mais na exclusão e na difamação. Para Laurence Bittencourt, professor de Psicologia da Educação da Universidade Potiguar (UnP), há também, nesse ponto, a questão cultural e até biológica, hormonal, dos garotos. “Não que a gente não observe esse tipo de violência entre as meninas, mas por nossa própria cultura pensamos na mulher sempre mais tolhida e o homem sempre mais disposto a colocar as coisas para fora, extravasar”, comenta ele, classificando a prática do bullying como uma “possibilidade de mostrar uma identidade masculina” ou como “uma forma de pré-requisito para a masculinidade.” Entretanto, o professor afirma rejeitar o caráter nocivo dessa prática, principalmente no âmbito escolar.Os autores do bullying são identificados como indivíduos com pouca empatia, geralmente vindos de famílias desestruturadas, sem pouco relacionamento afetivo entre seus membros que, por sua vez, usam da pressão como forma de intimidação doméstica e difundem o comportamento agressivo como solução de problemas.Os alvos são tidos como jovens altamente inseguros, de auto-estima baixa, passivos, quietos, de poucos amigos. Sem forças para reagir aos assédios e sem esperança de se adequarem ao grupo, freqüentemente trocam de colégio ou até mesmo abandonam os estudos. Os traumas possíveis dependem de que forma o bullying atinge cada um. “Seqüelas podem acontecer ou não; vai depender muito de quem está recebendo isso. Agora, do ponto de vista pedagógico, moral e emocional, principalmente, é realmente uma prática nociva. Não tem como pensar diferente.” Segundo Laurence Bittencourt, a prática do bullying nas escolas atrapalha o rendimento de muitos alunos. Mas mesmo assim, em seu entendimento de pedagogo, ainda depende da forma que cada um reage às pressões.“Tem umas pessoas que absorvem, outras que não. Para as que têm dificuldade de aceitar isso ou ver de outra forma, certamente afeta. É sempre uma invasão, um momento agressivo em relação à pessoa”, diz ele. Para Laurence, essa prática de criar bodes expiatórios, de sentir prazer no sadismo, também tem que ser pensada em seu viés psicológico. Para combater o bullying o professor considera ser necessária uma verdadeira força-tarefa envolvendo a instituição pedagógica, a família, agentes e alvos, e a direção da escola.A psicóloga Jemima Morais Veras, que estuda o comportamento dos jovens, alerta que é preciso prestar muita atenção nos sinais dados pelos filhos, como preocupação, insônia, falta de apetite e de concentração, crises alérgicas, irritação, apatia, entre outros. “É preciso estabelecer com os filhos, desde cedo, uma relação de confiança para que assim eles consigam contar o que está acontecendo. Mostrar que estão sempre disponíveis, valorizar os sentimentos, pois o bullying não é só uma briguinha passageira de colegas.”Amizade é a soluçãoNo livro “Pedagogia da Amizade – Bullying: o sofrimento das vítimas e dos agressores”, o professor paulista Gabriel Chalita propõe o fim das cenas de desrespeito e humilhações no ambiente escolar. Para tanto, ele defende a valorização do sentimento de amizade entre os alunos e chama a atenção dos pais, professores e educadores para as conseqüências do bullying — considerado um problema crescente hoje no mundo. A falta de amizade em crianças na fase escolar é considerada a maior causadora do problema.Segundo Chalita, há dois caminhos a serem seguidos quando o assunto é combate ao bullying. O primeiro passa pela família; o outro, pela escola. Ele avalia que, quando é uma família que preza pelo diálogo e que percebe as mudanças comportamentais dos filhos, dando liberdade para que eles relatem os problemas que estão sofrendo, é mais fácil combater e prevenir o bullying. “Mas se é uma família sem diálogo, não vai nem perceber uma agressão que o filho esteja sofrendo. Ele volta da escola e diz que não quer mais estudar. Por que será? Se a família tiver realmente aberta e atenta, vai logo perceber”, diz o professor de Direito e de Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo.O professor paulista também defende que a escola precisa difundir técnicas de prevenção ao bullying, trabalhando os valores da ética entre alunos e professores, promovendo a conscientização sobre esse problema que pode provocar sérias seqüelas nos alunos.Chalita avalia que a pior coisa que pode acontecer como resultado do bullying é o suicídio das vítimas dessa prática opressora. Ele cita também os casos de tragédias ocorridas em colégios e universidades dos Estados Unidos — como em Columbine, onde um aluno sai matando os colegas e depois se mata. “Alguns não conseguem ter uma relação profissional no futuro ou passa a ter medo das pessoas. O bullying deixa a pessoa marcada pelo resto da vida. E o grande caminho é a prevenção”, afirma. Em tempos de internetSegundo Gabriel Chalita a entrada da internet no âmbito escolar criou uma nova modalidade do problema: o cyber bullying. Agora, segundo sua análise, crianças e adolescentes batem em seus amigos, gravam as imagens no celular e colocam em sites como o YouTube, para que todos vejam. Ele conta casos em que meninos fazem montagens das amigas do colégio como que estivessem praticando sexo oral em outros colegas e espalham na rede. “No Sul, uma menina se suicidou com medo da reação dos pais, depois que fizeram isso com ela.”Ele acredita que, por ter mais poder de divulgação, a internet está agravando a prática do bullying. Há até casos de jogos eletrônicos. “A Justiça do Rio Grande do Sul proibiu um jogo de bullying, que ganhava mais pontos aqueles que xingassem ou agredissem mais os colegas.” Gabriel Chalita conta que os primeiros estudos sobre bullying foram realizados na Noruega, nos anos 70, motivados pelos altos índices de suicídios entre estudantes. Hoje a Espanha, modelo de educação no mundo, registra 40% de alunos que dizem sofrer as conseqüências dos abusos. Na Inglaterra, são 45%; em Portugal, 42%. Segundo o professor, mesmo sem ter um levantamento completo, unificado, o Brasil está dentro dessa média mundial. Estamos na faixa dos 45%. Se você imaginar que representa praticamente a metade da população escolar, vemos como o caso é preocupante.”O problema nas escolas de natalQuando o bullying ultrapassa os limites da aceitação entre os próprios alunos, as denúncias de perseguição e maus tratos geralmente chegam à diretoria das escolas. Mas isso é coisa do passado, segundo Henrique Marinho, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Natal. Ele considera os alunos da era da informatização mais espertos, diferentes do seu tempo de colégio.“Quando eu estudava, tinha umas brincadeiras pesadas sim... Na minha época, a gente pegava no pé mesmo. Mas hoje não tenho percebido mais isso. Quando acontece, não é com tanta gravidade”, avalia Henrique, que também exerce a função de diretor-adjunto em uma escola tradicional de Natal. Ele diz não recordar-se de nenhum caso recente de atritos entre alunos — motivado por bullying — que tenha sido necessário ser resolvido na diretoria. “Se houvesse algum problema mais sério, a direção interferiria, com certeza.” Henrique identifica os alunos mais contidos e estudiosos como principais alvos desse tipo de assédio. “Mas tem muitos que gostam das brincadeiras, pois é uma forma dele aparecer.”Em outro grande colégio da cidade, a auxiliar de coordenação pedagógica, Alba Lílian Vicente de Albuquerque, diz já ter observado a prática do bullying entre os alunos, mas não de forma freqüente. Segundo ela, é raro ser preciso acionar a direção da escola para tomar atitudes mais drásticas. Alba afirma também que os casos de bullying são mais comuns entre os meninos. “O mais freqüente são os apelidos que ficam de um ano para o outro. Mas quando tem confusão por causa disso, levamos os alunos para a coordenação e fazemos com que um peça desculpa ao outro. Mas já teve um caso em que foi preciso chamar os pais para resolverem”, conta ela.A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Criança e ao Adolescente (Abrapia) realizou, em 2002, um levantamento envolvendo 5.875 alunos da 5ª à 8ª séries de onze escolas do Rio de Janeiro. Foi detectado que, naquele ano, 40,5% dos estudantes admitiram ter estado envolvidos em atos de bullying — sendo que 16,9% eram alvos, 10,9% alvo e autor ao mesmo tempo e 12,7% era autores.

terça-feira, 1 de julho de 2008

RUI BARBOSA E SUA BOLA DE CRISTAL!!!

Não há, no universo, duas coisas iguais. Muitas se parecem umas às outras. Mas todas entre si diversificam. Os ramos de uma só árvore, as folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo humano, as gotas do mesmo fluido, os argueiros do mesmo pó, as raias do espectro de um só raio solar ou estelar.
A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente os desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites humanos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo não dar a cada um na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem.
Esta blasfêmia contra a razão e a fé, contra a civilização e a humanidade, é a filosofia da miséria, proclamada em nome dos direitos do trabalho; e, executada, não faria senão inaugurar, em vez da supremacia do trabalho, a organização da miséria.
Mas, se a sociedade não pode igualar os que a natureza criou desiguais, cada um, nos limites da sua energia moral, pode reagir sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e perseverança. Tal a missão do trabalho.


Rui Barbosa. Oração aos moços. (fragmentos)

PENSAMENTOS