"Os Educadores-sonhadores jamais desistem de suas sementes,mesmo que não germinem no tempo certo...Mesmo que pareçam frágeisl frente às intempéries...Mesmo que não sejam viçosas e que não exalem o perfume que se espera delas.O espírito de um meste nunca se deixa abater pelas dificuldades. Ao contrário, esses educadores entendem experiências difíceis com desafios a serem vencidos. Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com acolheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes"(Gabriel Chalita)

Translate - Tradurre - Übersetzen - Çevirmen - переводчик -

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A negação da humanidade


O debate sobre o toque de recolher para jovens menores de idade já virou polêmica em várias cidades do Estado. Fernandópolis, Itapura e Ilha Solteira recorreram à medida como política de segurança pública no combate à violência juvenil. Em todo o País, treze cidades a adotaram. Outros vinte municípios estariam discutindo seguir o mesmo caminho. Em Birigui, Santópolis do Aguapeí, Coroados, Clementina e Brejo Alegre, a restrição vale somente para jovens em conflito com a lei. Sete cidades da região noroeste adotam medidas como fechar o comércio à meia noite.
Um estrangeiro ao ler estas linhas poderia perfeitamente sentir-se diante de uma sociedade em guerra civil. O sentimento se transformaria quase em certeza se ele soubesse que, nos últimos trinta anos, mais de 1 milhão de pessoas foram mortas em todo o País, na maioria jovens e muitas, menores de idade. Quando lembramos que o Estatuto da Criança e do Adolescente já vigora há 19 anos, é inevitável imaginar quão maior não seria o número de homicídios sem ele. Pior ainda é pensar que talvez nem tanto, pois quem mata à revelia da lei o faz como se ela não existisse.
Dados do Conselho Tutelar de Pereira Barreto mostram que depois do fechamento do comércio à meia-noite, há dois meses, as infrações de menor porte caíram em 24%. Na mesma cidade, a Polícia Civil aponta que furtos e roubos diminuíram pela metade, enquanto a violência doméstica caiu 60%. Mesmo assim, as restrições dividem opiniões. O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conama) critica as medidas, dizendo que elas ferem a Constituição e o ECA; o Conselho Nacional de Justiça e juristas de renome nacional defendem as medidas. O Conselho se pronunciou a favor da decisão de uma magistrada em Nova Andradina sobre o funcionamento de bares e restaurantes até mais tarde. Por enquanto, o assunto é de caráter administrativo, pois foi instituído por portarias das prefeituras. E o parecer do CNJ refere-se exclusivamente à competência de uma juíza em determinar o toque de recolher. A esperança do Conanda é de que o julgamento do mérito suspenda a decisão judicial de Andradina e as portarias das demais cidades. Por fim, sempre haverá a possibilidade de recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas o que me importa como educador, e a vocês como pais, é o futuro de seus filhos. Se por um lado a aplicação das medidas tem obtido resultados satisfatórios em algumas cidades, por outro não há como negar a ocorrência de constrangimentos e o desrespeito, sim, ao direito constitucional de ir e vir. Em alguns casos, é verdade, o toque vale para menores encontrados nas ruas sem a companhia dos pais, onde o encaminhamento a suas residências tem caráter protetor. Seja como for, voltando a pensar no futuro das crianças e adolescentes abordados pela autoridade policial nas ruas de cidades pequenas, onde todos se conhecem, impossível não lamentar tais situações.
Como secretário estadual da Juventude e depois da Educação, sempre me ocupei da questão educacional num enfoque humano e afetivo. Com o devido respeito à interpretação jurídica em nome da segurança e integridade física da juventude, tenho profunda preocupação com o perfil de ser humano que estamos formando. Temo pelo equilíbrio emocional e psicológico de futuros adultos com um passado de privações geradoras de medo, desrespeito e revolta para com o Estado, na figura da autoridade policial, que pode aumentar ainda o risco de confrontos nas ruas das mesmas cidades.
A violência que acomete nossa juventude muitas vezes está dentro da própria escola ou do lar e em horários que nenhum toque de recolher resolve. Por isso, apresentei o projeto que já virou lei, sobre o bullying escolar. A expressão inglesa de que trata a nova lei refere-se a todo o tipo de provocação, preconceito ou molestamento que uma criança ou um jovem pode sofrer no ambiente escolar, que muitas vezes evolui para a violência física e causa mortes.
Chega de jovens morrendo em São Paulo! Junto com a Lei do Bullying, propus a criação do cargo de psicopedagogos nas escolas da rede pública municipal para atendimento específico a este tipo de caso. A idéia, mais do que assegurar a integridade da pessoa agredida, é garantir o futuro de seu caráter e personalidade. De que adianta o ótimo nível de ensino que sempre buscamos sem alunos felizes?
O filósofo francês La Boétie, no seu "Discurso da servidão voluntária", já reclamava, na terra das liberdades totais, que o absolutismo impusesse tanto medo e tirania ao povo. Para ele, o homem nega sua essência ao deixar de ser livre. Negar a liberdade é negar nossa humanidade.
Guardadas as proporções, pondero em nome do bom senso e do equilíbrio, enquanto a Justiça não cria uma jurisprudência adequada ao tema. Do contrário, quem terá razão será o estrangeiro a achar que vivemos em uma guerra civil.
O professor Gabriel Chalita é escritor, educador e vereador à Câmara Municipal de São Paulo. Foi secretário de Estado da Juventude, Esporte e Lazer e da Educação


Diário de Sorocaba

Nenhum comentário:

PENSAMENTOS