"Os Educadores-sonhadores jamais desistem de suas sementes,mesmo que não germinem no tempo certo...Mesmo que pareçam frágeisl frente às intempéries...Mesmo que não sejam viçosas e que não exalem o perfume que se espera delas.O espírito de um meste nunca se deixa abater pelas dificuldades. Ao contrário, esses educadores entendem experiências difíceis com desafios a serem vencidos. Aos velhos e jovens professores,aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz.Ser professor é um privilégio. Ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com acolheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes"(Gabriel Chalita)

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quinta-feira, 16 de agosto de 2007

O centenário do arquiteto das curvas





"A gente imagina que, daqui a 300 anos, ainda vão falar de nós", comentou certa vez o antropólogo Darcy Ribeiro. "Mas é ilusão. Vão lembrar só do Oscar", reconheceu um dos nossos mais conhecidos educadores, ao sublinhar a relevância do brasileiro Oscar Niemeyer. O exagero retórico, em se tratando de quem é, parece compreensível. As hipérboles, verdadeiras ou não, costumam integrar a galeria de homenagens destinadas ao carioca que, conforme ressaltou o suíço Le Corbusier, num longínquo 1936, tem as montanhas do Rio de Janeiro nos olhos - por seus desenhos terem o encanto e as curvas da paisagem da mais bela cidade do mundo.
Sete décadas depois de o teórico número 1 da arquitetura moderna ter saltado de um zepellin para ajudar a construir o edifício-sede do Ministério da Educação, no Rio, a celebração vai-se ampliar ainda mais. Este é o ano do centenário de Oscar Niemeyer. Alvíssaras: um de nossos gênios da raça e o mais importante arquiteto brasileiro do século 20 chega aos 100 anos de idade, a serem completados em dezembro, com lucidez e vigor. Que as homenagens programadas para 2007 sejam compatíveis com a riqueza da obra do artista. Ele merece.
E merece sem que seja necessário concordar com as premissas de seus projetos, entre as quais a de que a forma não deve ser limitada pela função ou a de que a simplicidade, na arquitetura, é demagogia, e de suas convicções políticas, como ainda manter Marx e Lênin como heróis, admirar o ditador Fidel Castro, encantar-se com o bolivarianismo aventureiro do coronel Hugo Chávez e acreditar que a revolução é a trilha a seguir.
(Decerto Niemeyer já ouviu falar no clássico ditado segundo o qual o jovem que não é de esquerda e o velho que continua a sê-lo ou são tolos ou desonestos - cláusula que o presidente Lula, esquerdista de antanho e amigo do arquiteto comunista, ajudou a renovar ao pregar que, na travessia da juventude para a velhice, só quem tem "algo estranho" permanece de esquerda).
Esqueçamos, porém, os nexos obscuros entre a biologia e a ideologia. O que importa aqui é que, conforme sugeriu Darcy Ribeiro, a obra de Oscar continuará a ser estudada nos próximos séculos - em grande parte por seguir a lição do poeta francês Charles Baudelaire: "O inesperado, a irregularidade e a surpresa são parte essencial e característica da beleza". Os projetos livres e audaciosos, materializados em décadas, demonstraram que é função da arquitetura emocionar.
Não por outra razão o arquiteto buscou escapar da linha reta e inflexível criada pelo homem e foi atraído pelas curvas - inspiradas, segundo o próprio, nas montanhas brasileiras, no curso sinuoso dos rios, nas ondas do mar. Pois seja. O que dizer da soma de beleza e intervenção arquitetônica inusitada instituída por Oscar mundo afora?
O criador de sólidos flutuantes exibe uma galeria incalculável em Belo Horizonte (o conjunto da Pampulha), São Paulo (Parque do Ibirapuera), Milão (a sede da Editora Mondatori), Paris (a sede do Partido Comunista), Caracas (o Museu de Arte Moderna da capital venezuelana), Nova York (a sede da ONU), Niterói (Museu de Arte Contemporânea) e, claro, Brasília. Incluam-se ainda obras recentes, como o Serpentine Gallery, em Londres, a escultura concebida para os jardins de Bercy, em Paris, e o monumento para Simon Bolívar, em Caracas.
Das obras e espaços criados ao longo de todo esse tempo, lamente-se a pouca presença de Oscar Niemeyer na sua cidade natal. Há a Passarela do Samba, é verdade, mas não basta. Enquanto Niterói tem o MAC, falta aqui uma obra igualmente significativa. Que o prefeito Cesar Maia aproveite o centenário do arquiteto para fazer este favor aos cariocas. O Rio e Oscar merecem.

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