Quando se lê a educação com esse olhar de Cecília, parece que o dia-a-dia na relação professor-aluno é encantado. Muitos dirão que essa elevação afetiva só funciona no plano das idéias e que na prática se assiste a um aviltante processo de destruição das relações humanas.
A violência nas escolas se materializa em agressões verbais e físicas. O professor se sente vítima de um sistema que não o valoriza, portanto não o entende bem, nem o protege. Os alunos parecem prontos para a batalha. Padecem de amor e de limites. A ausência familiar se faz sentir na postura agressiva ou apatia em sala de aula.
Além disso, e talvez por isso, tentam disputar poder com os professores que, por sua vez, se deixam levar em um debate desnecessário. Há um axioma essencial na relação entre professor e aluno: autoridade harmonizada pelo afeto. O aluno precisa de limite e precisa compreender o papel do educador. O educador não pode impor sua autoridade, mas deve conquistá-la. Sem brigas nem ameaças. Sem histeria nem parcimônia. Com o respeito de quem sabe ensinar e aprender e de quem harmoniza as relações.
Há algumas dicas para essa relação harmoniosa. Evidentemente, são a experiência e a disposição do professor que farão com que ele toque na alma do seu aluno - sem isso não há educação. Entre essas dicas, algumas proibições. A primeira delas é que professor não pode brigar com aluno, mesmo que tenha razão. Se isso acontecer, parte da sala torcerá pelo aluno e a outra pelo professor, assim, ele deixa de ser referencial. A segunda: professor não pode colocar apelido em aluno. Terceira: não deve comparar um com o outro - é preciso lembrar que não há homogeneidade no processo educativo, mas heterogeneidade. Quarta: professor não pode se mostrar arrogante nem subserviente. O meio termo é amoroso.
E aí voltamos a Cecília Meirelles. A harmonia no ambiente escolar há de ocorrer quando se consegue quebrar a carcaça que envolve alguns alunos, pela falta de algo que deveria ter vindo antes. É esse sonambulismo, essa postura incorreta frente à vida e frente a si mesmo.
Trata-se de ajudá-lo a viver essa contemplação poética, ou, em termos aristotélicos, a buscar uma aspiração para a vida. Ou ainda em Paulo Freire, ajudá-los a desenvolver autonomia para sonhar.
Aí sim, o professor mostrará autoridade. Autoridade generosa de quem confia e cobra. De quem contrata no melhor sentido da palavra. E é nesse bom caminho que entra o afeto como instrumento de poder e participação. É do olhar do mestre que saem essas virtudes. O olhar que acolhe e que constrange quando necessário. O olhar que se faz cúmplice nas boas conquistas e que lamenta docemente pelo que se perdeu. O olhar que mantém o silêncio na sala de aula, sem gritos ou lamentações, mas que é capaz de chorar pela emoção de mais um aprendiz que encontrou seu caminho.
A harmonia no ambiente escolar não é uma utopia. É talvez uma tarefa complexa que exige o que de melhor podem dar os educadores: competência, coragem e muito, muito amor!
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(Artigo de Gabriel Chalita, publicado na Revista Educacional, edição e setembro de 2007)
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