Texto:FERNANDO SERPONE da Folha Online
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Os 40 anos da morte de Ernesto Che Guevara são lembrados tanto com eventos em sua homenagem quanto pela publicação de livros e reportagens que se propõem a mostrar seu "lado negativo", que, para alguns, foi ocultado pela chamada "propaganda comunista".
Como "herói romântico" ou "guerrilheiro sanguinário", as últimas quatro décadas criaram uma larga distância entre o homem que Ernesto Guevara de la Serna foi e o mito criado ao seu redor, segundo um especialista em Cuba ouvido pela Folha Online.
"Che se tornou uma figura muito maior morto do que era vivo", disse Philip Peters à Folha Online, por telefone de Arlington, na Virgínia (EUA). Ele é conselheiro do grupo de trabalho sobre Cuba do Congresso dos EUA e vice-presidente do Instituto Lexington de pesquisa de políticas públicas.
Reprodução
O revolucionário argentino Ernesto Che Guevara, morto há 40 anos
"Ele foi um líder da revolução cubana --uma revolução muito violenta-- e teve um papel importante", explica o estudioso. "Após o triunfo, se envolveu em uma série de aventuras que foram fracassos completos, principalmente a da Bolívia, que custou a sua vida."
No entanto para Peters, é "impossível explicar" como a imagem de Che cresceu e se tornou um ícone tão popular em todo o mundo, sem ter "nada a ver" com o homem que ele foi e "com a forma com que viveu."
Segundo o especialista, o apelo entre os jovens se justifica por ele representar um "herói guerrilheiro romântico que luta contra o 'establishment'", mas é baseado "em sua imagem, e não no que ele fez."
"Parte de seu legado é a revolução cubana, mas a maior parte de seu legado é a imagem completamente desproporcional à sua vida real e aos seus feitos, o que é o mais interessante sobre ele", afirma Peters.
Comemorações
Raul Castro, presidente interino de Cuba, presidiu nesta segunda-feira o principal ato em memória ao aniversário da morte de Che. O evento ocorreu na cidade de Santa Clara, cenário da principal batalha de Che na luta revolucionária em 1958, e onde estão os restos mortais do guerrilheiro argentino desde 1997.
David Mercado/Reuters
Jovens homenageiam Che Guevara em cerimônia ao redor de pôster do revolucionário
Sob o mote da "luta antiimperialista", a Bolívia de Evo Morales organizou um tributo em Vallegrande, onde foram encontrados os restos de Che em julho de 1997, e na aldeia de La Higuera, onde o líder revolucionário foi capturado aos 39 anos por um soldado sob ordens do então presidente boliviano, general René Barrientos.
Em La Higuera, centenas de visitantes, entre militantes revolucionários ou simples turistas, se reuniram para prestar homenagem ao guerrilheiro.
Em Cuba, Bolívia, Venezuela, México, Nicarágua, na Argentina e em outros países onde seus ideais são reivindicados por movimentos sociais ou pela esquerda no poder, serão realizados atos políticos, marchas, shows, mostras de cinema, feiras e exposições fotográficas.
Fidel
O ditador cubano, Fidel Castro, homenageou e expressou agradecimento a Che Guevara para marcar o 40º aniversário de sua morte em um artigo publicado nesta segunda-feira no jornal cubano "Granma".
Em um editorial in titulado "El Che", Fidel agradeceu Guevara por "tudo o que fez", e disse que ele foi uma "flor arrancada prematuramente do caule".
"Cumpridor de honrosas missões políticas no exterior, mensageiro do internacionalismo militante no leste do Congo e da Bolívia, ele despertou consciências na América e no mundo", disse Fidel, 81, a respeito de Che.
Fidel --que há dez anos presidiu uma cerimônia de exumação dos restos de Che em Santa Clara --levados a Cuba após serem achados na Bolívia--, reconheceu também o trabalho de Guevara como criador das jornadas de trabalho voluntário.
"Ele nos deixou seu estilo inconfundível de escrever, com elegância, brevidade e veracidade, cada detalhe do que passava em sua mente. Ele era um predestinado, mas não sabia disso. Ele combateu conosco, e por nós", disse ainda Fidel.
Contestações
No entanto, os 40 anos de sua morte não inspiram apenas homenagens. A data motivou também a publicação de uma série de reportagens e livros que mostram Che como "uma farsa". #
Tais textos se propõem a desconstruir o mito do revolucionário romântico perpetuado nas camisetas e pôsteres com a foto mas reproduzida do mundo, de Che Guevara feita por Alberto Korda.
No lugar do herói, as publicações mostram um ser humano ávido por sangue e violência, que executou centenas de pessoas e fracassou em quase tudo o que se prestou a fazer.
O cubano Jacobo Machover, autor do livro "La Cara oculta del Che", publicado recentemente, se refere a Che como "um personagem não muito interessante, um instrumento ou uma vítima de Fidel Castro, um fanático cruel e sanguinário".
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