NOVO LIVRO DE GABRIEL CHALITA - Comportamento: Atitudes simples que transformam o mundo
Gestos simples, mas fazem a diferençaA gentileza, atualmente escassa entre as pessoas, abre portas, encerra conflitos, transforma humores e melhora relações"Ser gentil tem de ser uma escolha pessoal, um entendimento de que podemos fazer a nossa parte e contribuir para um mundo melhor"Se fala muito atualmente sobre desenvolvimento sustentável, cujo foco acaba se concentrando em questões ambientais ou econômicas que visariam à garantia de condições de sobrevivência para esta e para as gerações futuras. Mas é necessário lembrar que o conceito é muito mais abrangente e engloba também os processos sociais, o desenvolvimento humano. O futuro depende de recursos naturais, mas também de uma convivência pacífica e harmoniosa entre as pessoas. De atitudes como, por exemplo, ser gentil. Arma que especialistas apontam como uma das mais eficazes para uma grande e necessária transformação no mundo.Portanto, não é à toa que cada vez mais trabalhos tragam a gentileza como tema ou lhe dediquem capítulos inteiros ou apêndices. Dois bons exemplos acabam de chegar ao mercado. Um deles é O Sol Depois da Chuva (Editora Gente), do escritor e educador Gabriel Chalita, que é vendido juntamente com o pocket Gentileza, onde o autor se utiliza de uma trama amorosa para discutir valores universais. Outro, mais incisivo, é O Poder da Gentileza (Editora Minuano), da jornalista e consultora em relacionamentos Rosana Braga. Nele, a escritora aborda o assunto com a ajuda de pesquisas em empresas, estimativas e números da Organização Mundial da Saúde (OMS), além de situações comuns do cotidiano.O assunto não é nenhum segredo e muita gente pode achar que as obras estão tratando de algo até certo ponto banal. Pensar assim, seria ignorar que a humanidade necessita hoje de uma mudança significativa na forma como as pessoas interagem. Mudança que traria benefícios para todos, como bem pregou uma das últimas grandes figuras populares do país, chamada Profeta Gentileza (José Datrino). O homem já idoso, de túnica branca e sapatos verde-amarelos, fazia inscrições em viadutos do Rio cujo lema principal era "gentileza gera gentileza".O profeta, que morreu em 1996, com quase 80 anos, perambulava por avenidas de uma cidade caótica e violenta e aproveitava eventos de grande apelo, como a Eco-92, para apontar que o caminho para tornar o mundo melhor era a bondade, respeito pelo próximo e pela natureza, e atitudes simples como ser gentil. Seus "ensinamentos" foram pintados em verde e amarelo em mais de 50 pilastras de viadutos do Rio e hoje são atração turística. As frases são a lembrança de um homem que se tornou a personificação da gentileza e inspirou muita gente, como a cantora Marisa Monte, que fez uma canção especialmente dedicada a ele, além de muitas campanhas.Mas o que vem a ser gentileza? Rosana Braga a define como um modo de agir, um jeito de ser, uma maneira de enxergar o mundo. "Ser gentil é um atributo muito mais sofisticado e profundo que ser educado ou meramente cumprir regras de etiqueta, porque embora possamos (e devamos) aprender a ser gentis, trata-se de uma característica diretamente relacionada com caráter, valores e ética; sobretudo, tem a ver com o desejo de contribuir com um mundo mais humano e eficiente para todos", diz. Para sê-lo, continua, é preciso que cada um reflita sobre o modo como tem se relacionado consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo.Para o cidadão comum, é um misto de várias atitudes. O estudante Marcelo Pelegrino, de 20 anos, diz que ser gentil é, basicamente, tratar bem uma pessoa. Para outro estudante, Janderson Correa, de 23 anos, tem a ver com tratar as pessoas com respeito, considerar as diferenças e respeitá-las principalmente. Já a comerciante Isaltina Alves Machado, de 37 anos, diz que ser gentil é ser educado, é saber conversar, pensar antes de falar e no que é certo ou errado. Ou seja, cada um tem a sua definição.Rosana diz que todas as pessoas sabem o que é realmente. O que acontece, na verdade, é que a rotina as deixa cegas. São pressionadas por idéias equivocadas, que as induzem a querer ter sempre mais, a cumprir prazos sem se respeitar, a buscar metas que, muitas vezes, não fazem parte de sua missão de vida e daquilo em que acreditam. "Isso nos torna mais e mais insensíveis, distraídos, como que anestesiados para a gentileza", frisa. "É por isso que, a meu ver, ser gentil não pode depender do outro, não pode ser uma moeda de troca, embora esse comportamento nos garanta muito mais vantagens do que imaginamos. Tem de ser uma escolha pessoal, um entendimento de que podemos fazer a nossa parte e contribuir sim para um mundo melhor", acrescenta.Indagada se, num mundo que prega cada vez mais o individualismo, haverá lugar para a gentileza, ela é categórica: "com certeza! Sempre há lugar para o que é bom, porque apesar de todas as atrocidades que vemos estampadas nos jornais, diariamente, ainda existem bem mais pessoas boas do que más". Segundo Rosana, a bondade é genuína no ser humano, assim como suas limitações. "O que aparece mais depende da quantidade de afeto que cada um recebe ao longo da vida. Portanto, quanto mais trocarmos afeto em nossas relações, ainda que naquelas mais fortuitas, mais a gentileza terá conquistado espaço", explica. E alerta que o individualismo tem tudo a ver com egoísmo. "É a individualidade de cada um que deve ser preservada, mas quando essa individualidade toma proporções exageradas, a pessoa se torna o que chamamos de "individualista", que é o mesmo que egoísta", define.Como vai ser o futuro é difícil precisar, já o descontentamento com o atual é visível. Para Marcelo, com certeza está faltando gentileza no mundo. Até para quem, por uma questão estratégica, precisa ser o mais gentil possível para cativar as pessoas. "Você vê, muitas vezes, no comércio, a forma da pessoa te atender". Segundo ele falta, por exemplo, "um obrigado, um volte sempre, um "mais alguma coisa"." Janderson não se conforma de ver pessoas mais novas sentadas nos ônibus, enquanto os idosos estão em pé. "Nas ruas às vezes uma pessoa tropeça, cai, tem gente que ri, não oferece ajuda", reclama. Sem contar com a competição acirrada. "As pessoas acabam pensando demais na vida particular e esquecem dos outros. É um querendo subir na vida às custas do outro, pisando", lamenta.E Isaltina se mostra preocupada com as crianças e os jovens. "Na juventude de hoje está faltando muita gentileza, respeito. Hoje eles não sabem mais o que é isso. Antigamente a gente era educado no olhar, no sinal de mão", lembra. "Eles estão confundindo a liberdade com a falta de respeito e falta de consideração com o próximo". Para a comerciante que tem três filhas, os pais precisam estar atentos e não deixar que isso aconteça. "Tem que vir da formação", sugere.A mudança urge - Rosana identifica que a falta de gentileza é um grande problema da atualidade. E trata de mostrar em seu livro porque é importante incentivá-la. Cita alguns dados alarmantes da OMS e procura sempre ressaltá-los, na tentativa de que as pessoas possam compreender o quanto o assunto é urgente. Por exemplo, a depressão tende a ser, até 2020, a segunda causa de improdutividade das pessoas, seguida apenas das doenças cardiovasculares. Além disso, distúrbios afetivos como ansiedade, depressão e transtorno bipolar crescem absurdamente, sem falar em síndrome do pânico, Transtornos Obsessivo Compulsivos (TOC), entre outros. "Tudo isso não nos traz problemas somente nas relações pessoais, o que já é uma catástrofe, mas também em nossa carreira, na realização profissional de cada um", alerta, lembrando que as empresas estão cada vez mais valorizando essa questão comportamental no momento da contratação.Para aquelas que consideram que ser gentil é uma demonstração de fraqueza, ela explica: "geralmente, é porque pessoas que não conseguem dizer "não" ao outro, que não conseguem colocar limites saudáveis em suas relações, são classificadas, equivocadamente, como "muito boazinhas", "gentis demais", e daí fica parecendo que ser gentil é ser fraco e bobo". De acordo com ela, pessoas que dizem "sim" a todos estão, na realidade, reforçando uma imagem de "vítimas da vida", alimentando um argumento de "coitadinhas", de extremamente boas e injustiçadas. "Isso não é ser gentil e demonstra mais uma dificuldade em lidar com sua própria carência do que a força ou o poder contido na gentileza", analisa.A boa nova é que ser gentil é algo que pode ser cultivado, aprendido. "Podemos aprender sempre e este é um grande trunfo e uma notícia fantástica!" Só que não é algo fácil, requer disponibilidade e escolha diária. "A todo instante nos veremos diante de situações em que não ser gentil será nossa maior vontade. Exatamente aí é que teremos de escolher entre sermos gentis ou não... e a consciência dos benefícios que a gentileza traz à nossa vida deverão estar claros nestes momentos". Segundo a especialista, ser gentil é extremamente benéfico quando se entende que a gentileza abre portas, muda o rumo dos conflitos, facilita negociações, transforma humores, melhora as relações, enfim, propicia inúmeras vantagens tanto na vida de quem está sendo gentil quanto na de quem se permite receber essas gentilezas."Pessoas gentis são, com toda a certeza, mais felizes, equilibradas e realizadas. Foco isso no livro o tempo todo, por meio de exemplos de pessoas que com atitudes simples e cotidianas, conseguiram e conseguem transformar o mundo ao seu redor", conclui Rosana.
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[Luiz Fernando Vieira,Gazeta Digital,Costa Rica News]
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